Um blog feminino. É como gosto de chamá-lo. Não feminista. Não que haja algo de errado com os blogs feministas − pelo contrário − apenas existem vários deles e não achei que o meu deveria ser mais um, quando o que me estimulou a criá-lo foi um assunto muito menos discutido, e, acima de tudo, muito menos coletivo: a decisão de tornar-se mãe.
Um direito individual, a ser pensado e exercido como tal, e que não deve ser tratado como um modelo a ser seguido impensada e automaticamente pelo simples fato de que se é mulher; como se ao nascer mulher, uma pessoa esteja inquestionavelmente destinada a ter um filho.
Além de terem sido grandes mulheres, todas as mulheres na barra rosada deste blog (à sua direita) têm uma coisa em comum: elas não se tornaram mães.
Algumas fizeram esta escolha ao colocarem outros interesses (defender uma causa, dedicar-se a uma carreira, a um sonho, a um projeto) acima do desejo (se é que ele existiu) de gerarem e tornarem-se responsáveis por uma outra vida, ao mesmo tempo que ainda eram responsáveis por suas próprias. Outras, porque não conheceram homens que correspondiam ao que elas desejavam como parceiros para lhe acompanharem ao longo da vida e, portanto, julgaram que não fazia o menor sentido trazer um terceiro elemento para uma relação que não suscitava segurança e satisfação. Outras, ainda, encontraram parceiros que amaram e com os quais foram felizes e viveram durante muitos anos, mas em função de aspectos sexuais ou emocionais que lhes causavam desconforto, confusão, quando não dor, decidiram simplesmente abdicar desta experiência e mergulhar em outro modo de vida.
A questão a ser pesquisada, lida, refletida, comentada e exemplificada nos próximos posts não é se é certo ou errado ter ou não filhos. Mas sim a necessária reflexão sobre o que é que, de fato, leva tantas mulheres a engravidar mesmo quando, muitas delas, nem sempre desejam verdadeiramente passar por essa experiência.
Não há absolutamente nada errado em engravidar e parir.Tenho certeza que para algumas mulheres não existe nenhuma experiência que se compare ao momento em que elas carregaram seus lindos bebês nos braços e sentiram que tudo o mais fazia sentido e faria ainda mais sentido daquele momento em diante. Trata-se apenas do interesse de destacar que nem todas as mulheres se encaixam nessa categoria. Nem todas conseguem projetar tamanha felicidade e realização apenas no nascimento de uma criança. Nem todas as mulheres são, sentem, desejam, e anseiam as mesmas coisas pelo simples fato de que são mulheres, dotadas de um útero.
Algumas experimentam satisfação ao criarem animais, filosofias, movimentos sociais, instituições de caridade, ou ao se dedicarem ao estudo, ao registro ou a descobertas históricas, ou ao conquistarem ou produzirem suas próprias obras, ou um conhecimento extraordinário e específico sobre algo que lhes toma todo o tempo, a energia e o entusiasmo…
Muitas mulheres escolhem ainda dividir sua trajetória entre os dois caminhos, sem excluírem a oportunidade de se realizarem profissionalmente, dedicando-se a uma carreira profissional, assim como de constituírem suas próprias famílias, gerando e criando seus próprios filhos. Estas, ao mesmo tempo em que segmentam suas vidas, unem e realizam seus diferentes desejos mais íntimos.
O importante é que todas essas possibilidades existem. O que anula, cancela ou, no mínimo, inviabiliza o conceito absoluto de certo e errado no que se refere à tamanha e tão delicada decisão: ser ou não ser mãe?
De modo que a decisão de engravidar se apresenta não apenas como possível, mas acima de tudo, como tão opcional e compreensível quanto as outras possibilidades; assim como a decisão de manter um útero vazio ao longo de toda uma vida, é uma decisão tão possível, quanto compreensível, e, principalmente, opcional, individual e intransferível − que não deve ser tomada por parentes, amigos, igreja ou marido − e que cabe única e exclusivamente a cada uma de nós, mulheres, com base apenas no que desejamos, e em como nos sentimos em relação ao desejo de carregar, ou não, um filho no ventre.