quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Será que a maternidade seria algo adequado para você? (parte II)





Aqui vai o segundo item do último capítulo do livro "Além da maternidade", direcionado às mulheres que estão pensando em optar por uma vida sem filhos.

"2) Nunca pressuponha que qualquer problema em sua vida vá ser resolvido pelo fato de ter um bebê – salvo o desejo de ter um bebê. Será que você está tentando consolidar um casamento, conseguir um seguro para a velhice, se enquadrar porque todo mundo está fazendo isso, ou evitar o desapontamento? Será que está recorrendo a um filho para dar significado a sua vida? Tornar-se mãe por qualquer desses motivos é garantia de fracasso para todos os envolvidos.

Entre os problemas que um bebê não irá resolver estão:
Um casamento infeliz
Baixo nível de auto-estima
Depressão
Frustração
Sentimento de fracasso
Decepções com o trabalho, os amigos e a família

Para tais coisas, apenas o foco em si mesma – refletindo, conversando com outras pessoas, ou por meio da psicoterapia e de mudanças ativas na própria vida – trará benefícios. Ninguém pode resolver seus problemas a não ser você mesma."


OBS: para ler o primeiro item clique aqui.
OBS2: a imagem acima é meramente ilustrativa, ela não faz parte do livro de Jeanne Safer.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Curso - Contraceptivos: escolhas, cultura e consequências



  
Video de introdução ao curso

Daqui a uma semana começará o curso: “Contraception: Choices, Culture and Consequences” (Contraceptivos: escolhas, cultura e consequências) ministrado em inglês pela professora Jerusalem Makonnen. Este curso é completamente gratuito, online (vídeos, fóruns, links e livros) e tem duração de 5 semanas (de 3 a 5 horas de estudos cada).

Eu já me inscrevi e estou ansiosa para as aulas começarem! Se tiverem um tempinho sobrando por aí: inscrevam-se. Vale a pena nos informarmos cada vez mais e melhor sobre nossas opções contraceptivas, sejam elas temporárias ou permanentes.




domingo, 6 de janeiro de 2013

O direito ao corpo

Women Social Gathering Together Painting - Joseph Muchina

Como conquistar e garantir o direito de não ter filhos sem estigmas, quando até o direito mais óbvio, mais natural e mais necessário, nos é negado? O direito de tomar decisões sobre o próprio corpo. O direito de não ser assediada. O direito de não ser molestada. O direito de não ser estuprada. O direito de não ter os ouvidos invadidos por palavras sujas, vulgares e nojentas no meio da rua. O direito de não ter os seios e as nádegas tocadas por chefes e colegas no local de trabalho. O direito de dizer não. O direito de não ser punida por dizer não. O direito de não precisar dizer não. A falta do sim já deveria ser o bastante. O direito completo e absoluto ao próprio corpo.

Não somos Viviane, nem Aracelli, nem Eliza, nem nascidas na Índia. Mas que diferença faz? Não somos todas mulheres? Não corremos o risco de sermos estupradas nas ruas, nos locais de trabalho, nos transportes públicos e até mesmo em nossos lares? Não somos? E se somos, porque não reagimos? Por que continuamos a celebrar o Natal, o Ano Novo, o Carnaval, a Páscoa e a Marcha das Vadias? Como se o direito que importa é o de tirar a roupa, em vez do direito de não ter a roupa tirada a golpes violentos para então sermos invadidas mais violentamente ainda até nos restar apenas os trapos. É esse o direito que realmente precisamos e desejamos?  Ou seria o direito de, com ou sem roupa, não sermos caçadas dia e noite como bichos?

A dor de muitas das vítimas citadas acima não é minha. Eu não conheci nenhum delas. Fiquei sabendo dos casos ouvindo aqui, lendo ali e acolá. Mas que diferença faz? Uma, de 21 anos, foi drogada e estuprada em uma festa de fim de ano com colegas de trabalho de um dos maiores escritórios de advocacia do país. Depois disso, começou a agir estranho e acabou caindo do sétimo andar do prédio onde morava. A outra tinha oito anos, foi sequestrada, mantida em cativeiro por dois dias e teve os seios e a vagina dilacerados a dentadas, antes de ser estuprada e morta. A terceira, de 25 anos, foi espancada e esquartejada por capangas do ex-namorado e as partes de seu corpo viraram comida de cachorros. A última, tinha 22 anos, foi estuprada por duas horas por seis homens, depois espancada com uma barra de ferro e jogada para fora de um ônibus em movimento. E estas são apenas 4 das milhares, senão milhões, de vítimas de atrocidades sexuais Brasil adentro e mundo afora.


O que mais há para saber? O que falta para estourar a nossa bolha de sossego e nos fazer acordar para o fato de que o direito ao corpo, às decisões sobre o corpo, não são feministas, ultrafeministas, utopia ou imbecilidade, mas sim uma questão de sobrevivência e, mais, um requisito básico para podermos viver em paz. 

Se quisermos apenas sobreviver nesta floresta selvagem que este mundo se tornou, talvez nos bastem as chaves estrategicamente posicionadas entre os dedos, um anel pontudo, um spray de pimenta na bolsa, o celular com discagem rápida no bolso, não andarmos em locais escuros à noite, não andarmos sozinhas ou, quem sabe, o melhor não seja mesmo nos trancarmos em casa, para nunca mais sairmos, espiando sempre a janela para ter certeza de que ninguém pulará o muro e nos violentará lá mesmo. Isto é, com sorte, talvez nos baste prevenir, que é o que a nossa sociedade nos ensina. Como se fosse normal prevenir esturpro e sentir medo 24 horas por dia.

Se quisermos mais do que isso, mais do que apenas sobreviver como os bichos caçados que somos, teremos que nos unir, rebelar e mudar as leis que regem o mundo em que vivemos. Nossas vozes serão ouvidas se o coral for grande o bastante. É preciso denunciar, punir com sentenças longas e irreversíveis (já que a castração não mais é considerada como pena), incluir o nome, foto e endereço de cada criminoso sexual em um registro nacional de estupradores e pedófilos. Transferir o medo para a realidade deles, pois quem deveria sentir medo são eles,  não nós. A palavra de ordem é punição e não prevenção. E mobilização é o único caminho. 


Se a Índia, um dos países que mais ignora os direitos das mulheres no mundo, demonstrou sua indignação à violência enfrentada pelas mulheres, protestando nas ruas por dias a fio, o que levou à criação de uma CPI de apuração rápida dos fatos, que por sua vez resultou no indiciamento de 5 dos 6 homens envolvidos no caso e culminou no cancelamento das celebrações de fim de ano, por que nós não seguimos o exemplo? O que diabos está faltando para nos unirmos e agirmos? E que tal começarmos agora mesmo?

Nicole Rodrigues

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