sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Será que a maternidade seria algo adequado para você? (parte I)


Fazia tempo que eu não lia um livro com a capacidade de, ao mesmo tempo, me inquietar e confortar tanto. Falo do maravilhoso: “Além da maternidade” de Jeanne Safer, que foi escrito em 1996 − o que me surpreende, já que me parece bem mais atual, mas também me entristece, por dar a impressão de que tão pouco mudou em quase 20 anos, em relação ao peso social da maternidade.
 
Apesar de ter apenas 202 páginas, levei dois meses para lê-lo. Cada uma delas carrega tantos questionamentos válidos e histórias enriquecedoras, que fiz questão de ler devagar, até porque é impossível não se conectar emocionalmente com a trajetória e processo de escolha de Jeanne e das mulheres que ela nos apresenta e isso acaba tornando a leitura mais pesada ou até mesmo difícil.

Diversas vezes senti que eu poderia ter escrito muitas das passagens deste livro, tamanha a minha identificação com o conteúdo e o cuidado da autora em relação à apresentação do mesmo. Embora este livro tenha sido sido escrito de forma tão íntima e detalhada, nunca me fez sentir uma leitora alienada
nem mesmo quando as histórias e pontos de vistas  apresentados eram tão diferentes dos meus e jamais falhou em manter minha atenção. A leitura de Além da maternidade foi um aprendizado total. Uma experiência completa, do começo ao fim. E me senti abraçada ao chegar à última página.


Existem tantos trechos que eu gostaria de compartilhar com vocês, mas o mais útil (e raro) nos muitos livros que venho explorando nessa longa fase de pesquisa para o meu próprio livro, é o epilogo, especialmente dirigido a mulheres que estão ainda no processo de tomar uma decisão. 

Como esta parte final do livro chega a seis páginas e é dividida em 10 itens, achei melhor publicá-la aos poucos, assim teremos tempo para pensar com calma em cada um dos tópicos sobre os quais a Jeanne gentilmente nos estimula a refletir.

"Será que a maternidade seria algo adequado para você? Não adie fazer a si mesma essa pergunta, mesmo que respondê-la seja difícil. Realmente reflita sobre essa questão, comece agora. Arrume tempo para isso. A fim de fazer uma escolha judiciosa, é importante saber o máximo possível sobre seus sentimentos, seus conflitos, suas fantasias e suas necessidades. Converse com seu namorado, marido, amigos e, mais importante que tudo, consigo mesma – e ouça com atenção, com mente aberta, aquilo que você tem a dizer.

1. Como você se sente realmente em relação a crianças? Mulheres que não são talhadas para a maternidade podem ter toda uma gama de reações, que vão de uma aversão profunda até o prazer e o deleite. Você se sente com frequência pouco à vontade ou irritada quando está próxima de crianças? Em caso afirmativo, será sua reação, baseada principalmente na inexperiência ou falta de jeito – o que pode mudar – ou há coisas mais profundas causando o seu desconforto? E mesmo que adore a companhia de crianças, será que o interesse e a atividade delas realmente lhe agradam durante longos períodos? Será que está preparada para passar boa parte do tempo cuidando delas e participando de suas atividades?

Diga a verdade a si mesma. Se tem sentimentos conflitantes, tente conviver com sua ambivalência sem negar nenhum dos pólos; veja aonde isso a leva, qual sentimento e mais forte. Se descobrir que o negativo predomina, não pressuponha que irá se acostumar a ele. Isso depende da intensidade de sua aversão e do quão motivada está para mudar. Pergunte a si mesma por que se sente assim, claro, mas não espere que o lado negativo simplesmente desapareça."

Postarei a segunda parte nos próximos dias, mas se não quiser esperar até lá, sugiro que considere dar um presente de ano novo a si mesma e que o compre agorinha mesmo (eu comprei num sebo em Brasília por R$12,00!), para ter acesso total à bem escrita e elaborada contribuição da autora para que nós, mulheres, possamos nos permitir refletir e questionar a maternidade antes de tomarmos uma decisão final em relação a ela.


Fonte: Safer, Jeanne. Além da Maternidade, 1996. Editora Mandarim, São Paulo.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Combate ao disparate



"Quem pensa em não procriar, mesmo tendo renda para criá-los, comete um erro irreparável e se prepara para uma vida só, sem graça, isolada, fadado a conviver com pessoas interesseiras e frustradas, cheia de vícios e desamor. Filhos é a continuidade da espécie, não tê-los é egoísmo. Quem segue esse pensamento tende a desenvolver depressão e cultivar futuramente um tipo de esquizofrenia. Quem exalta o outro lado, o obscuro, que chamam isso de boa evolução, são uns recalcados e frustrados." Jorge Araújo dos Santos 26/08/12 - 17:35

O absurdo em forma de parágrafo acima é uma resposta de um leitor do Jornal O Globo à matéria "Pai, mãe e filhos já não reinam mais nos lares" e, após lê-lo, eu não consegui me conter. Pensei cá com meus botões: conter pra que? Se é exatamente por causa de pessoas como o Sr. Jorge Araújo dos Santos que eu criei este blog. Pessoas que disseminam o disparate de que não ter filhos é egoísmo e, pior, ousam até prever o futuro de quem escolhe não tê-los, dizendo que serão vítimas de depressão e até − pasmo − de algum tipo de esquizofrenia! Um diagnóstico completo, baseado em bobagem pura, preconceito do pior tipo e ignorância das mais agudas. Quanta arrogância, meu deus!

Se crianças são a solução para todos os casos de esquizofrênicos e depressivos no mundo, então é melhor fecharmos todos os manicômios e avisarmos todos os psicólogos e psiquiatras que basta forçar seus pacientes a se reproduzierem já que, de acordo com o Sr. Jorge, isto impediria que eles continuassem a desenvelver todas essas doenças mentais.

Quem lê este blog sabe muito bem que ele está longe de ser uma campanha contra a reprodução. Trata-se, isso sim, de um blog sobre a maternidade consciente, a  importância de refletirmos sobre o DESEJO de ter ou não um filho (ou vários), e da necessidade de que este desejo (ou a ausência dele) seja descoberto e respeitado, guiando assim nossa decisão final sobre a maternidade, seja ela qual for. Não se trata da resposta, mas sim de nos permitirmos fazer a pergunta: queremos nos tornar mães ou não? Se houver o desejo, o interesse, a vontade, o compromisso: então a resposta é sim. Senão, a resposta, obviamente, deveria ser não.

E, se após refletir, uma mulher decidir não ter filhos por se julgar desinteressada ou inapta a se tornar mãe, cabe a nós, cada um de nós que compõe essa sociedade cada vez mais hipócrita, respirarmos aliviados por sabermos que se trata de uma mulher a menos que pariu sem querer, sem poder, sem desejo de amar, de cuidar. De alguém que poderá se voltar para outras coisas, pessoas e causas. E dedicar-se ao que lhe parece importante, interessante e necessário. Contribuindo assim de outra maneira para tornar a nossa sociedade menos ridícula, autoritária e julgadora das opções e decisões alheias. Cabe a nós celebrar esta mulher, e não denegri-la, repudiá-la, subestimá-la.

Principalmente em se tratando de decisões que não afetam, machucam, nem interessam a ninguém, além delas mesmas. Afinal de contas, como é que a decisão de outra pessoa de não ter filhos pode ser tratada com um assunto nosso? Um assunto geral, público, social, que nos afetará? Não pode. E não pode porque não é. Ter filhos, ao contrário, já é outra história, mas ainda sim o direito de tê-los é inquestionável e o respeito a quem os tem também é senso comum.

É chegada a hora, ou melhor, já passou e muito da hora, de fazermos o mesmo; de oferecermos as mesmas condições, o mesmo respeito às mulheres que desejam não ter filhos. É hora de parar de perpertuar sem questionamento algum doutrinas religiosas e patriarcais que ditam as regras, limitações e obrigações dos corpos e vidas femininas e de usarmos o raciocínio lógico, o autoconhecimento e o bom senso não só para tomarmos decisões, mas também para aceitarmos as decisões uns dos outros. Quem nasce, vive e morre somos nós. E cabe a nós, individualmente, decidir o que fazer com nossas vidas. Seja com ou sem filhos.

Então, na próxima vez que um Seu Jorge da vida azulcrinar você ou alguém que você conhece, por ter escolhido não ter filhos, faça valer o seu livre arbítrio, a sua identidade, a sua essência, a sua escolha de vida e a sua voz, e mande o mané plantar batatas bem longe.

Nicole Rodrigues 


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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Jenna Goudreau



"While many are quick to question why one would choose not to have kids, few ask themselves why they do have kids or are prepared for the reality."

"Enquanto alguns não perdem tempo na hora de questionar por que algumas pessoas escolhem não ter filhos, poucos se perguntam por que eles têm filhos ou se estão preparados para a realidade."
 

Jenna Goudreau
Repórter da Revista Forbes
Source: Forbes


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ter filhos traz mesmo felicidade?

Reportagem publicada na revista Época, edição de outubro de 2012.
Autoras:
Nathalia Ziemkiewicz e Flávia Yuri
 
" Por que a discussão realista sobre os problemas da paternidade causa tanto desconforto – e como ela pode ensinar os casais a sofrer menos

É 1 hora da madrugada. Um choro estridente desperta a ex-judoca olímpica Danielle Zangrando, de 33 anos. Desde que levou Lara do hospital para casa, as mamadas a cada três horas impedem o sono de antes. Ela pula da cama e oferece à filha o peito. Depois, troca a décima fralda daquele dia, embala a bebê no colo, caminha com ela em busca de uma posição que a faça parar de chorar. O choro prossegue. Daniele tenta bolsa de água quente e gotinhas de remédio. Nada de o berreiro cessar. Duas horas depois, mãe e filha formam um coro: Danielle também cai em prantos, desesperada. É a primeira cólica de Lara, com 20 dias de vida. O pai, Maurício Sanches, funcionário público de 48 anos, se sente impotente. Está frustrado e desconta a frustração na mulher: “Você comeu algo que fez mal a ela?”. A partir de então, Danielle se privará também do chocolate. Já desistira do sono, da liberdade, do trabalho como comentarista de esporte. Na manhã seguinte, ainda exausta da maratona noturna, retomará a mesma rotina, logo cedo: amamentar, dar banho, trocar fralda, botar para dormir. “Ninguém sabe de verdade como é esse universo até entrar nele”, diz Danielle. Hoje, Lara está com 2 anos. As noites não são tão duras quanto costumavam ser. Mas Danielle e Sanches ainda dizem que ter filhos é uma missão muito mais difícil do que eles haviam imaginado.

Eis um problema: a paternidade, que deveria ser o momento mais feliz da vida dos casais – de acordo com tudo o que aprendemos –, na verdade nem sempre é assim. Ou, melhor dizendo, não é nada disso. Para boa parte dos pais e (sobretudo) das mães, filhos pequenos são sinônimo de cansaço, estresse, isolamento social e – não tenhamos medo das palavras – um certo grau de infelicidade. Ninguém fala disso abertamente. É feio. As pessoas têm medo de se queixar e parecer desnaturadas. O máximo que se ouve são referências ambíguas e cheias de altruísmo aos percalços da maternidade, como no chavão: “Ser mãe é padecer no Paraíso”. Muitas que passaram pelo padecimento não se lembram de ter visto o Paraíso e, mesmo assim, realimentam a mística. Costumam falar apenas do amor incondicional que nasce com os filhos e das alegrias únicas que se podem extrair do convívio com eles. A depressão, as rachaduras na intimidade do casal, as dificuldades com a carreira e o dinheiro curto – disso não se fala fora do círculo mais íntimo e, mesmo nele, se fala com cuidado. É tabu expor a própria tristeza numa situação que deveria ser idílica.


A boa notícia para os pais espremidos entre a insatisfação e a impossibilidade de discuti-la é que começa a surgir um movimento que defende uma visão mais realista sobre os impacto dos filhos na vida dos casais. Seus adeptos ainda não marcham nas ruas com cartazes contra a hipocrisia da maternidade como um conto de fadas. Mas exigem, ao menos, o direito de falar publicamente e com franqueza sobre as dificuldades da situação, sem ser julgados como maus pais ou más mães por se atrever a desabafar. Por meio de livros e, sobretudo, com a ajuda da internet, eles começam a falar claramente sobre os momentos de angústia, tédio e frustração que costumam acompanhar a criação dos filhos. Nas palavras da americana Selena Giampa, uma bibliotecária de 35 anos, dona do blog Because Motherhood Sucks (A maternidade enche...), “a maternidade está cheia de momentos de pura felicidade e amor. Mas tudo o que acontece entre esses momentos é horrível. Amo ser mãe, de verdade. Mas tenho de dizer a vocês que, assim como qualquer outro emprego, muitas vezes eu tenho vontade de pedir as contas”. Com uma notável diferença: ninguém pode se demitir do emprego de mãe ou de pai. Ele é vitalício.

O melhor exemplo dessa nova maternidade é o livro Why have kids (Por que ter filhos), sem previsão de lançamento no Brasil, escrito pela jornalista americana Jessica Valenti, de 34 anos. Durante a gravidez de sua primeira e única filha, Jessica teve um aumento perigoso de pressão arterial. Layla nasceu prematura, pesando menos de 1 quilo. Passou oito semanas na incubadora do hospital. Ao longo dos 56 dias em que viu a filha sofrer dezenas de procedimentos invasivos, Jessica refletiu sobre como idealizara a experiência de ser mãe. Seu livro parte daí para criticar a cobrança pela maternidade perfeita, uma espécie de pano de fundo imaginário contra o qual as mães de verdade comparam suas imensas dificuldades e seus inconfessáveis sentimentos negativos. “Não falar sobre a parte ruim da maternidade só aumenta o drama dos pais e as expectativas irrealistas de quem ainda não é”, disse Jessica a ÉPOCA.

Compartilhar abertamente as agruras pode funcionar como válvula de escape. As amigas Trisha Ashworth e Amy Noble, também americanas, dividiram muitas angústias por telefone antes de escrever o livro Eu era uma ótima mãe até ter filhos, lançado no Brasil pela editora Sextante. Com bom humor, elas fazem reflexões do tipo: “Sou uma mãe de quinta categoria por ter gritado com uma criança de 4 anos depois de ela se levantar 12 vezes numa noite?”. Assim como elas, há muita gente produzindo conteúdo crítico para desconstruir a maternidade como um perfeito comercial de margarina – inclusive no Brasil. Os textos ácidos do blog Ombudsmãe, cujo nome faz trocadilho com o profissional contratado para criticar a empresa em que trabalha, são um exemplo. “Duro mesmo é quando surge um chato na forma de filho”, diz um desses textos. “Há os que obrigam os pais a usar cinto de segurança. Os que choram diante do leitãozinho assado. Os que cheiram o hálito da mãe, tornando-se legítimos representantes da patrulha antifumo instalados dentro da nossa própria residência.” Outro é o site Mamatraca, que publica diariamente vídeos que lidam com os paradoxos da maternidade de um jeito sincero e divertido. Uma das colaboradoras escreveu em seu perfil: “Adora Madona, embora ultimamente só escute Backyardigans”. "

 Tem muito mais. Leia aqui.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Café filosófico: Filhos - melhor não tê-los?



Vale a pena assistir ao programa inteiro, mas se quiser ir direito ao "ponto" comece ali pelos 5 minutos. p.s Clara, obrigada por me enviar o link para este vídeo :)

sábado, 13 de outubro de 2012

Livro + filme feminino = Flor do deserto

Há quem escolha ter filhos. Há quem escolha não ter filhos. Há também quem precise escolher entre parir e viver, e quem morra tentando parir...as vítimas de mutilação genital, infelizmente, e com frequência, enfrentam as duas últimas realidades citadas.

 

Como se a dor alucinante e as sequelas físicas e emocionas para toda vida não fossem um fardo grande o bastante, as mulheres que sofrem mutilação genital (que não morrem de hemorragia, infecção ou alguma outra complicação) ainda correm o risco de nunca se tornarem mães (ainda que desejem fortemente), ou de perderem a vida, caso decidam levar a gravidez adiante.

A história de Waris Dirie, seja em livro ou em filme, é incrivelmente sofrida e inspiradora
. E nos permite refletir sobre a importância de, nós mulheres, nos tornarmos de fato e de direito donas de nossos corpos e de todas as escolhas relacionadas a nossa existência na condição de mulher, assim como da necessidade de conquistarmos e exigirmos esses direitos da sociedade em que vivemos.

 



sábado, 6 de outubro de 2012

Laura S. Scott


"Being childfree does not mean we don’t like children; it means we don’t care to have children of our own. We just want people to accept that: It’s okay to be different, and not everyone has to have kids to be fulfilled. I do know some people get so much joy out of their kids. I see it in my friends who have kids. And I don’t envy that, because I feel like I have so much joy in my own life. I appreciate theirs, and more power to them, but we have our own. This is our way of having joy."

"Nossa escolha de não ter filhos não quer dizer que nós não gostamos de crianças; significa que não queremos ter filhos. Nós apenas queremos que as pessoas aceitem isso: que não é errado ser diferente, e que nem todas as pessoas precisam ter filhos para se sentirem realizadas. Eu conheço algumas pessoas que são muito felizes com os filhos que têm. Eu observo isso na vida dos meus amigos que tiveram filhos. E eu não sinto inveja deles, porque eu sinto que tenho tanta alegria em minha vida. Eu respeito a vida deles, e desejo o melhor a eles, mas nós temos o nosso próprio jeito dde viver. Esta é a nossa maneira de ser feliz."

Laura S. Scott
Autora do livro Two is Enough

Frida Kahlo

Embora o filme Frida não seja baseado em um livro específico, mas sim no que se sabe sobre a vida da pintora mexicana e no que ela mesma deixou marcado no tempo em forma de quadros e palavras, vale a pena ler o Diário de Frida Kahlo desfrutando vagarosamente de cada página para só então correr pra locadora, alugar e assistir a cinebiografia dela. 

 



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Casais brasileiros sem filhos

"Em 1940, a mulher tinha em média seis filhos, hoje tem menos de dois, fazendo a população crescer mais devagar e ficar mais velha. Ao optar por uma família menor, a mulher entrou forte no mercado de trabalho: em 1969, elas eram 27,3% da força de trabalho, em 2009, 43,6%. A renda feminina trouxe a segurança para a mulher seguir seu caminho sem marido e os costumes chegaram à legislação, como a nova lei do divórcio, que dispensa a mediação do juiz. E, lembra o sociólogo Marcelo Medeiros, da UnB, o trabalho feminino distribuiu melhor a renda: menos filhos e mais renda ajudaram a reduzir a desigualdade.

Os casais sem filhos crescem e já chegam a dois milhões. São os dinks, sigla em inglês para “Dupla renda, nenhum filho.”

Leia mais sobre esse assunto na reportagem publicada no dia 25/08/12 no Jornal O Globo.

Uni-vos


Mulheres, irmãs de mundo, uni-vos contra a violência física, psicológica e emocional. Por que esperar até o dia 14 de fevereiro de 2013? Comecemos agora mesmo. 


sábado, 15 de setembro de 2012

A decisão de se tornar mãe


Trecho do artigo "Childfree: the way to be?"
Autora:
Andrea Newell
"A decisão de se tornar mãe representa uma mudança enorme e requer um investimento emocional, financeiro e de estilo de vida gigantesco por anos e anos. Como podemos culpar alguém por analisar honestamente suas esperanças e sonhos e decidir que se tornar mãe não é um deles? O que a nossa sociedade deveria fazer é encorajar e apoiar as pessoas que desejam se tornar mãe e pai, e aplaudir aquelas que se dão conta de que não compartilham do mesmo desejo. Forçar pessoas a aceitarem tamanha responsabilidade é a receita para a infelicidade de todas elas.
Muitas pessoas rotulam a decisão de não ter filhos de egoísta. Egoísta, em minha opinião, é ter filhos para então colocar as nossas necessidades e desejos acima dos deles, resentir o fato de os filhos demandarem um tempo que não estamos dispostas a dar a eles, e fazê-los sentirem que não foram desejados por nós. Dar-se conta de que você não quer seguir um determinado caminho simplesmente significa que você está ciente das demandas psicológicas, emocionais e financeiras que aquele caminho vai exigir e que uma criança não se encaixa nos planos de vida que você tem para si mesma."
Tradução: Nicole Rodrigues


Fonte: http://ecosalon.com/childfree-the-way-to-be/

domingo, 5 de agosto de 2012



“To
love. To be loved. To never forget your own insignificance. To never get used to the unspeakable violence and the vulgar disparity of life around you. To seek joy in the saddest places. To pursue beauty to its lair. To never simplify what is complicated or complicate what is simple. To respect strength, never power. Above all, to watch. To try and understand. To never look away. And never, never, to forget… another world is not only possible, she is on her way. On a quiet day, I can hear her breathing.”

“Amar. Ser amada. Nunca esquecer sua própria insignificância. Nunca se acostumar à indescritível violência e desigualdade vulgar ao redor. Buscar a alegria nos lugares mais tristes. Buscar a beleza onde quer que ela esteja. Nunca simplificar o que é complicado ou complicar o que é simples. Respeitar a força, não o poder. Acima de todo, observar. Tentar entender. Nunca desviar o olhar. E nunca, nunca, esquecer… que um outro mundo não só é possível, como está a caminho. Num dia calmo, posso ouvi-lo respirar.”

Arundhati Roy
Escritora indiana


Tradução: Nicole Rodrigues



sábado, 4 de agosto de 2012

Por um bem maior



Por que publicar uma postagem sobre a humanização do parto em um blog chamado Útero Vazio? Porque, como diz a minha avó, o buraco é mais embaixo. A questão é mais ampla e mais complicada do que um simples: quero ter filhos ou não quero ter filhos. E se não quero, que se dane quem quer. Trata-se do conceito e da aceitação dos direitos humanos e, em especial, dos direitos das mulheres. Trata-se do direito à escolha. Trata-se do respeito à escolha. A nossa e a do próximo. Seja ela qual for.

Quem deseja não ter filhos e espera aceitação, deve também aceitar que há quem os deseje e respeitar esta decisão. Trata-se de uma via de mão dupla, de um acordo firmado em prol da civilização, da coabitação pacífica entre mulheres com ou sem filhos, porque, afinal de contas, o mundo é de todas nós.

Engravidar ou não é e sempre deverá ser um direito da mulher. Ainda que em nosso país o direito de interromper uma gravidez indesejada lhe seja negado por lei. Escolher como deseja parir um filho é um direito da mulher. Ainda que em nosso país esse direito lhe seja negado pelas políticas adotadas em maternidades, hospitais e clínicas, que se preocupam apenas em garantir o fluxo rápido, brutal e lucrativo de algo que se parece mais com uma linha de produção de bebês do que com o compromisso em garantir o bem-estar da mulher durante esta experiência única que é o parto.

Além da questão da péssima qualidade, há também a doutrina da quantidade, já que o sistema obstétrico brasileiro até nos diz quantos filhos devemos parir antes de decidirmos que chegou a hora de não mais parir. Ligar as trompas depois do primeiro parto? Nem pensar! O que significa que a mulher não é vista como dona de seu próprio corpo. Não é tida como um indivíduo, com condições, desejos e limitações particulares a serem levadas em conta quando ela deseja ter apenas um filho, parar no segundo, no terceiro, ou ainda, não ter nenhum. Ela é vista com uma célula de um exército de clones que deve desejar as mesmas coisas e agir da mesma maneira. Sempre.

Dentre os tantos direitos que parecem ser apenas respeitados em ponta de lança, quando a mulher ativa o seu módulo guerreira, esta o direito de parir em paz. Do primeiro e único, ou do primeiro ao segundo, ou do primeiro ao décimo, ainda que uma mulher tenha mais de um filho, cada parto será único, relevante e sempre lembrado. Portanto, cada parto deve garantir à mulher a humanização que lhe é de direito, uma vez que humana ela é.


Um parto humanizado afasta as chances de traumas emocionais, psicológicos e físicos, e de desapego em relação à criança que acaba de nascer. E todas as mulheres, inclusive as que não desejam parir, devem lutar ou, pelo menos, estar ciente da luta das mulheres pelo direito de parir seus próprios filhos com dignidade. Pelo direito de parir seus filhos acordadas e lúcidas em vez de drogadas; na condição de agentes ativos que testemunham e que são informadas sobre o que acontece e que possuem voz para dizer se querem ou não ser cortadas ao meio, ou de cima pra baixo ou de jeito nenhum; para dizer quando precisam descansar, quando desejam caminhar, quando desejam sentar, mudar de posição, beber um copo d’água, ver o marido, a mãe, os amigos; para berrar, chorar e espernear quando precisam e muitas outras coisas que lhes são negadas e vetadas em prol da agilidade dos procedimentos médicos atualmente adotados que não consideram as necessidades da mulher, da mãe, e que tratam seu corpo como uma embalagem, uma cápsula que deve ser aberta a golpes de bisturi e fechada logo em seguida para que haja tempo da equipe médica repetir este processo dezenas de vezes por dia e garantir o lucro da instituição onde trabalham.


Parto humanizado não é dizer como alguém vai parir, é simplesmente não dizer. É permitir que o parto aconteça ao seu próprio tempo, ao tempo da mulher. É reconhecer que se trata de uma experiência entre mãe e filho e que ambos devem ser considerados e respeitados neste processo.


Nós que não desejamos, não podemos ou ainda não decidimos se desejamos parir, também temos mãe, irmã, prima, amiga. E podemos lutar para garantir que o parto delas seja livre de qualquer tipo de violência. Façamos a nossa parte.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Além do que esperam de nós



Cá estava eu, matando a saudade das palabras da querida Lélia Almeida, quando leio este trecho do texto chamado "Leite de rosas":

"Gosto de um livro da Victoria Sau, uma feminista espanhola da velha guarda, maravilhosa, que se chama El vacío de la maternidade. Ela afirma que a maternidade não existe, no sentido de que não existe enquanto valor social, já que somos mães para os filhos dos homens, na história do patriarcado. Tudo o que enaltece as mulheres, um pretenso amor ou instinto materno, o acolhimento, a capacidade de cuidar, é o mesmo que nos perde já que somos descartadas nas horas das tomada das decisões legítimas. As mães sírias que o digam.

Para Victoria Sau, que retoma o pensamento de Riane Eisler de quem gosto muito, em algum momento da história do mundo as mulheres, que viviam numa relação de valorização, não de poder, ao lado de suas mães, numa linhagem matrilinear, foram sequestradas pelos homens que desta maneira, através do sequestro e do rapto enfraqueceram sua referência mais importante, a mãe, a avó, a filha, as amigas, as outras mulheres. Enfraquecer este vínculo é colocar a perder a irmandade, a cumplicidade e a comunidade de mulheres. E elas passam, então, a ter filhos para os homens. Portanto, diz Sau, a maternidade não existe, se as mulheres, como mães, servem aos homens, vivem para eles e não sabem quem são e o que querem, a maternidade não existe. E as mulheres se contentariam em parir os filhos numa espécie de inconsciência calando a boca com um pênis ou com um filho, ela radicaliza. Na verdade a autora faz alusão ao grande mal que o mito do amor romântico – que direciona a existência feminina para o casamento ou para o amor - e o mito do amor materno – que faz dos filhos a centralidade de suas existências - podem fazer à vida das mulheres, imbecilizando-as a elas e sua prole, num miasma de amor cujo objetivo da vida se situa na rede dos afetos pura e simplesmente e propõe que as mulheres usem esta potencia em outras frentes, que cuidem do mundo, oras, ou que não cuidem, e que cresçam e se desenvolvam de outras maneiras também, para além do que se espera delas."

Como tudo na vida, o ideal é deixar o radicalismo de lado e colocar em práticas os conceitos que se baseiam no raciocício lógico, no bom senso e no respeito as nossas necessidades individuais, para que possamos nos tornar pessoas realizadas e possamos contribuir para o todo ao qual pertencemos, compartilhando do bem-estar e da felicidade que nos permitimos conquistar.
 
Nicole Rodrigues

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Marisa Tomei


"I don't know why women need to have children to be seen as complete human beings."

"Não sei por que as mulheres precisam ter filhos para serem vistas como seres humanos completos."  


Marisa Tomei
Atriz americana


domingo, 1 de julho de 2012

Quanto custa um filho?



Quem acompanha este blog sabe que o foco principal dos meus posts e dos textos de outros autores aqui compartilhados são voltados aos fatores e aspectos emocionais da escolha de ter ou não ter filhos. A escolha, sempre ela, é a palavra de ordem deste blog. Qualquer que seja o seu sexo, religião, classe social, raça, idade ou nacionalidade lembre-se que este é um direito de todos nós e pelo qual devemos, juntos, lutar e respeitar sempre. 

Sendo assim, a escolha não poderia deixar de existir quando se fala em algo tão importante quanto o ato de gerar ou adotar um ser humano. Quem o faz deve fazê-lo porque quer, porque escolheu, e não porque deve, porque precisa ou porque pode.

Um fator que raramente discuto, mas que é de extrema importância, dado seu impacto social e emocional na vida da mãe/pai/casal, assim como na vida do filho, é a situação financeira da pessoa que decide gerar ou adotar. Ainda que o desejo esteja presente e a vontade de ser mãe ou pai seja latente, um filho requer bem mais do que isso. Desejo e amor não pagam as contas. Criança precisa de alimentação, roupas, cuidados médicos, educação, lazer... e tudo isso custa dinheiro.

Então que tal levar este aspecto em consideração na hora de decidir ter um filho? Embora não seja o fator mais importante - este, sem sombra de dúvidas, é o desejo genuíno de se tornar mãe/pai -, deve ser levado em consideração. Porque uma simples adição dos gastos iniciais pode ajudar não necessariamente a desistir da ideia, mas a repensar esta intenção ou a planejar a melhor maneira e o melhor momento para ter um bebê. E isso, por sua vez, pode evitar uma série de problemas e otimizar uma experiência que, caso contrário, poderia dar bastante errado pela simples falta de planejamento.

Uma conversa com um (ou vários) casal de amigos ou parentes que têm filhos, uma sincera avaliação do orçamento atual e uma projeção de gastos no futuro próximo e distante, papel, lápis e calculadora na mão podem ajudar a registrar alguns gastos iniciais. Outra coisa que talvez possa ser útil é este infrográfico que encontrei esta tarde, chamado "Quanto custa um filho". Não creio em resultados exatos, mas é possível que ele ajude indicando valores aproximados com base na sua renda mensal e anual.

Com ou sem infográfico, o que importa é reservar um momento à avaliação dos gastos fixos (emocionais, psicológicos, sociais e financeiros) na criação de um filho e à sincera reflexão sobre até que ponto você, de fato:
1) deseja ter um filho (ou acha que deseja? ou acha que deve ter?);
2) tem condições financeiras de ter um filho e de garantir bem mais do que apenas sua subsistência;
3) tem interesse em levar este compromisso adiante e atender às demandas emocionais e psicológicas do seu filho sem comprometer a sua felicidade e a felicidade dele.

Porque, afinal de contas, esta é uma parceria para vida toda, embora muitos prefiram pensar que não.

Nicole Rodrigues

Filósofa francesa critica o mito da mãe perfeita em novo livro




"Em entrevista, Elisabeth Badinter rechaça o ideal da maternidade atual e diz que não há um modelo único de mãe para ser seguido

Desde a década de 70 as mulheres vêm tentando conciliar a maternidade à realização pessoal, lutando por direitos e liberdades até então característicos do mundo masculino. Porém, para a escritora e filósofa francesa Elisabeth Badinter, o passar do tempo não foi capaz de quebrar o “mito do maternalismo”, conceito baseado na existência do “instinto materno”, que deixou às mulheres uma ordem aparentemente inquestionável: é natural que elas sejam mães, e elas devem ser mães infalíveis. Mas e os desejos, anseios e vontades destas mulheres, onde ficam?

Autora do livro “O Conflito – A Mulher e a Mãe” (Editora Record), lançado recentemente, Badinter contou ao Delas que, ao longo dos anos, as mulheres acrescentaram às próprias vidas mais do que somente os filhos. Com as possibilidades de escolhas, elas foram sobrecarregadas por todos os lados e cobradas a serem mais do que perfeitas no cumprimento dos deveres maternos. Este estado de coisas, segundo ela, é interessante para a permanência da dominação masculina e para obrigar as mulheres a continuarem se devotando por completo aos filhos. É contra isso que Badinter milita. Segundo ela, a mãe que dá mamadeira ao filho não é menos mãe que aquela que amamenta. "Acrescentamos uma tonelada de culpa nos ombros maternais", diz. Veja abaixo entrevista com a autora, concedida por e-mail.

iG: Como você vê a maternidade e a maneira que as mulheres lidam com ela atualmente? Aconteceram muitas mudanças nesta concepção desde a década de 70 até os dias de hoje? 
Elisabeth Badinter:
Há 30 anos a vulgarização abusiva da psicanálise engendrou a ideia de que a felicidade, a inteligência e o desabrochar da criança – portanto, o equilíbrio dela no futuro – dependem essencialmente do comportamento da mãe. Deste então, os ecologistas e outros adoradores da natureza contribuíram para que essa crença realmente existisse: de que para ser uma boa mãe, por exemplo, preocupada com a saúde do filho, é necessário amamentá-lo 24 horas por dia. E, de preferência, se devotar inteiramente a ele durante um ou dois anos. O resultado: as mães que não querem se conformar com essas diretrizes são cada vez mais consideradas mães indignas, e suas amigas as olham com suspeita. Com o passar dos anos, de fato, acabamos acrescentando uma tonelada de culpa nos ombros maternais.

iG: Quais são as diferenças entre maternidade e paternidade atualmente? O pai moderno também colabora para cuidar do filho e dos afazeres domésticos hoje em dia ou ainda não chegamos a este ponto? 
Elisabeth Badinter:
Durante os anos 70 e 80 as jovens mulheres chamavam massivamente seus companheiros para ajudar no cumprimento dos papéis de pais – e também de donos de casa – em nome da justiça e da igualdade dos sexos. Os homens de boa vontade, portanto, começaram a cumprir as tarefas que acreditávamos até então serem reservadas às mães: dar banho nas crianças, alimentá-las, levá-las para passear, trocar a roupa delas. Eles eram chamados, ironicamente, de “papais-galinhas”. Com isso, ao invés desta mudança ser encorajada, estes pais acabaram sendo alvo de gozação e os pediatras da moda explicavam às mulheres que eles não tinham que se comportar como mães. Atualmente, os pais das classes médias fazem ainda mais do que faziam seus avôs, mas a participação deles é totalmente insuficiente. Por falta de uma pressão social e ideológica sobre eles – não está mais na moda que isso aconteça – os pais se sentem menos culpados em deixar o essencial do trabalho e das responsabilidades à mãe, que proclama cada vez mais que este é o seu papel “natural”. Mas eu luto para que justamente este endeusamento da natureza maternal seja abandonado e que nós chamemos os pais outra vez para dividirem igualitariamente as tarefas e funções relacionadas aos filhos e à casa. 
iG: Os casais que têm filhos atualmente costumam ter razões para tal ou simplesmente, na maioria das vezes, acabam seguindo as normas sem realmente pensar nas vantagens e desvantagens? Quais seriam estas principais razões? 
Elisabeth Badinter:
Há diversas razões para se ter filhos, e a maioria das razões é egoísta. Tirando os que veem ter filhos como uma ordem de Deus, os outros fazem crianças para “concretizar” um sentimento amoroso, para não envelhecerem sozinhos, para receberem amor, para transmitirem suas histórias, por ser uma nova experiência que pode apimentar uma vida “sem graça”. Estranhamente, a maioria de nós é invadida por todo tipo de ilusões: só enxergamos a felicidade e o amor que uma criança pode nos trazer e esquecemos a soma de problemas e sacrifícios que a presença dela induz, e até mesmo o ódio pelos pais que ela poderá sentir e provar em determinados períodos. Entretanto, carregamos tanto o barco dos deveres maternais em alguns países – como Alemanha, Itália e Japão – e apagamos tanto o interesse pessoal da mulher que muitas delas fazem menos filhos, ou não fazem nenhum. Estas mulheres se recusam a sacrificar a vida de mulher para a maternidade e pensam que, assim, elas terão uma vida mais livre e aberta se comparada com a que as próprias mães tiveram. 

iG: O que deveria ser feito para que as mulheres não abandonem a maternidade de vez? 
Elisabeth Badinter:
Para que a maternidade continue uma prioridade, são necessárias várias condições: tirar a culpa das mulheres que querem uma profissão mesmo sendo a profissão “mãe” a primeira delas. Já é hora de lembrar que não somos mães indignas só porque colocamos nossos bebês nas mãos de mulheres desconhecidas durante o dia. O Estado deve ajudá-las a cuidar de seus filhos nas melhores condições: creches gratuitas e abertas 24 horas por dia para as mulheres mais carentes – que às vezes também trabalham durante a noite – e creches de qualidade para todas as mães, com horários que se adaptem ao delas. Também é necessário criticar o mito da mãe perfeita – que é uma completa utopia – e recusar a imposição do modelo único de “boa mãe”. Afinal, uma mãe que dá mamadeira ao filho é tão “boa mãe” quanto àquela que amamenta. Além disso, trocar os horários de trabalho nas empresas para que os pais possam “se dividir com as mães” se torna necessário.

iG: Você aponta, em “O Conflito – A Mulher e a Mãe”, que o declínio da fertilidade, a elevação da idade média da maternidade, o aumento das mulheres no mercado de trabalho e a diversificação dos modos de vida femininos mostram que ter filhos não é mais a maior das prioridades, mas continua sendo comum. Como a mulher atual tenta se equilibrar entre tantas requisições e vontades, como filhos e vida profissional, por exemplo? Existe um ideal de estilo de vida feminino atualmente?
Elisabeth Badinter:
Justamente isso me convence da diversidade dos desejos femininos e dos estilos de vida humanos – contrariando o caso das fêmeas do mundo animal – e por isso milito pela multiplicidade dos modelos maternais. Não, não há um único estilo de vida feminino e, se formos um pouco lúcidos, reconheceremos que há muitas mulheres que farão melhor se jamais forem mães.

iG: Como esta ideia do “instinto materno” colabora para encaramos a maternidade da forma como é vista atualmente e como este tipo de concepção pode impor às mães responsabilidades cada vez maiores em relação aos filhos? Você acredita que hoje a maternidade pede obrigações mais sérias do que antigamente? Por quê?
Elisabeth Badinter:
Sim, as obrigações maternais são cada vez mais pesadas. Uma razão é a ideologia do retorno à natureza que parece existir atualmente nos países industrializados. Um dos exemplos é o caso da mamadeira. Apesar de ser tão malvista atualmente, ela foi um extraordinário instrumento de libertação das mulheres. E podemos dizer o mesmo das fraldas descartáveis. Hoje querem nos persuadir, dizendo que as mulheres que as utilizam são “anticidadãs”. Usando a ecologia como pretexto, retornamos à concepção rousseauniana da maternidade, que diz que a maternidade é a origem do confinamento das mães dentro de casa, assim como o “das freiras no convento.
iG: Como é a boa mãe atual e como, em sua opinião, ela poderia viver uma vida saudável? Você acredita que o sentimento de culpa, muitas vezes recorrente na vida da mulher, também influencia muito em como a maternidade é atualmente? Como mudar isso?
Elisabeth Badinter: Para todas aquelas que rejeitam essa concepção de “boa mãe”, inteiramente devotadas aos filhos, a culpabilidade nunca foi tão forte. Hoje é necessário muito mais tempo para educar duas crianças do que era necessário para educar seis crianças há cem anos. Você acredita mesmo que as crianças e adolescentes do século 21 são mais felizes que as de antigamente?

Jornalista: Renata Losso
Fonte: IG São Paulo

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