"Quem pensa em
não procriar, mesmo tendo renda para criá-los, comete um erro irreparável e se
prepara para uma vida só, sem graça, isolada, fadado a conviver com pessoas
interesseiras e frustradas, cheia de vícios e desamor. Filhos é a continuidade
da espécie, não tê-los é egoísmo. Quem segue esse pensamento tende a
desenvolver depressão e cultivar futuramente um tipo de esquizofrenia. Quem
exalta o outro lado, o obscuro, que chamam isso de boa evolução, são uns
recalcados e frustrados." Jorge Araújo dos
Santos 26/08/12 - 17:35
O absurdo em forma de
parágrafo acima é uma resposta de um leitor do Jornal O Globo à matéria
"Pai, mãe e filhos já não reinam mais nos lares" e, após lê-lo, eu
não consegui me conter. Pensei cá com meus botões: conter pra que? Se é
exatamente por causa de pessoas como o Sr. Jorge Araújo dos Santos que eu criei
este blog. Pessoas que disseminam o disparate de que não ter filhos é egoísmo
e, pior, ousam até prever o futuro de quem escolhe não tê-los, dizendo que
serão vítimas de depressão e até − pasmo − de algum tipo de esquizofrenia! Um
diagnóstico completo, baseado em bobagem pura, preconceito do pior tipo e
ignorância das mais agudas. Quanta arrogância, meu deus!
Se crianças são a solução para todos os casos de esquizofrênicos e depressivos no mundo, então é melhor fecharmos todos os manicômios e avisarmos todos os psicólogos e psiquiatras que basta forçar seus pacientes a se reproduzierem já que, de acordo com o Sr. Jorge, isto impediria que eles continuassem a desenvelver todas essas doenças mentais.
Se crianças são a solução para todos os casos de esquizofrênicos e depressivos no mundo, então é melhor fecharmos todos os manicômios e avisarmos todos os psicólogos e psiquiatras que basta forçar seus pacientes a se reproduzierem já que, de acordo com o Sr. Jorge, isto impediria que eles continuassem a desenvelver todas essas doenças mentais.
Quem lê este blog sabe
muito bem que ele está longe de ser uma campanha contra a reprodução. Trata-se,
isso sim, de um blog sobre a maternidade consciente, a importância de refletirmos sobre o DESEJO de
ter ou não um filho (ou vários), e da necessidade de que este desejo (ou a
ausência dele) seja descoberto e respeitado, guiando assim nossa decisão final
sobre a maternidade, seja ela qual for. Não se trata da resposta, mas sim de nos permitirmos fazer a pergunta: queremos nos tornar mães ou não? Se houver o desejo, o interesse, a vontade, o compromisso:
então a resposta é sim. Senão, a resposta, obviamente, deveria ser não.
E, se após refletir,
uma mulher decidir não ter filhos por se julgar desinteressada ou inapta a se
tornar mãe, cabe a nós, cada um de nós que compõe essa sociedade cada vez mais
hipócrita, respirarmos aliviados por sabermos que se trata de uma mulher a
menos que pariu sem querer, sem poder, sem desejo de amar, de cuidar. De alguém
que poderá se voltar para outras coisas, pessoas e causas. E dedicar-se ao que
lhe parece importante, interessante e necessário. Contribuindo assim de outra
maneira para tornar a nossa sociedade menos ridícula, autoritária e julgadora
das opções e decisões alheias. Cabe a nós celebrar esta mulher, e não denegri-la, repudiá-la, subestimá-la.
Principalmente em se tratando de decisões que
não afetam, machucam, nem interessam a ninguém, além delas mesmas. Afinal de contas,
como é que a decisão de outra pessoa de não ter filhos pode ser tratada com um
assunto nosso? Um assunto geral, público, social, que nos afetará? Não pode. E não pode porque não é. Ter filhos, ao contrário, já é outra história, mas ainda sim o direito de tê-los é inquestionável e o respeito a quem os tem também é senso comum.
É chegada a hora, ou
melhor, já passou e muito da hora, de fazermos o mesmo; de oferecermos as mesmas condições, o mesmo respeito às mulheres que desejam não ter filhos. É hora de parar de perpertuar sem questionamento algum doutrinas religiosas
e patriarcais que ditam as regras, limitações e obrigações dos corpos e
vidas femininas e de usarmos o raciocínio lógico, o autoconhecimento e o bom senso não só para tomarmos decisões, mas também para aceitarmos as decisões uns dos outros. Quem nasce, vive e morre somos nós. E cabe a nós, individualmente, decidir o
que fazer com nossas vidas. Seja com ou sem filhos.
Então, na próxima vez que um Seu Jorge da vida azulcrinar você ou alguém que você conhece, por ter escolhido não ter filhos, faça valer o seu
livre arbítrio, a sua identidade, a sua essência, a sua escolha de vida e a sua voz, e mande o mané plantar batatas bem longe.
Nicole Rodrigues
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Quando eu leio/escuto comentários como esse, cheios de amargor, raiva e desejando o pior para o próximo eu sempre me lembro da frase que muitos pais repetem - "Filhos tornam as pessoas melhores" - se esse senhor se tornou uma pessoa melhor depois dos filhos, nem quero imaginar como era antes.
ResponderExcluirAlém disso, depressao, esquizofrenia e outras doencas mentais nao conhecem classe social, número de decendentes, cor ou raca - doencas mentais advém do mal funcionamente do cérebro - e só isso - e sao tratáveis com medicacao, assim como os males do coracao, fígado, rins.
Meu avô tem trastorno bipolar e 10 filhos - mesmo assim ele vai ter que tomar anti-psicóticos pelo resto da vida!!!
Senhor Jorge e outros patrulhadores do útero alheio - vao cuidar de suas vidas...
Fran