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sábado, 11 de julho de 2015

Violência obstétrica - a voz das brasileiras


Vídeodocumentário popular produzido por Bianca Zorzam, Ligia Moreiras Sena, Ana Carolina Franzon, Kalu Brum, Armando Rapchan.

Produzido a partir de depoimentos reais de mulheres, gravados em suas próprias casas com webcam, celular e máquina fotográfica.

Uma bela iniciativa de conscientização sobre as tristes e violentas situações às quais as mães brasileiras (entre outras tantas nacionalidades) são submetidas durante o período de gravidez e parto. 

Nicole Rodrigues

sábado, 25 de abril de 2015

Sobre a banalidade da epistomia nos partos em maternidades brasileiras


Imaginar que alguém te cortaria sem anestesia para fazer mais espaço para o bebê que quer nascer, certamente pode ser descrito como um dos piores pesadelos. Mas, infelizmente, trata-se de um pesadelo pelo qual muitas mulheres que se preparam para ter um parto normal acabam passando, já que se tornou prática comum em maternidades brasileiras.

E isso não é de agora. Minha mãe descreveu algumas vezes o horror que foi me dar à luz em uma maternidade em São Paulo, lá no começo da década de 80, e como o médico esperou até a minha cabeça aparecer para dar início ao atendimento do parto, embora ela estivesse na maternidade esperando há horas, aos prantos, e como ele entrou, não disse uma palavra, a cortou e ela desmaiou de tanta dor. Depois, ela só lembra que acordou pelada, em uma maca de metal, sem colchão e que estava tremendo de frio.

Anos depois um moça que trabalhava como faxineira em nossa casa engravidou. No dia que a bolsa estourou a levamos para um hospital em Brasília. Dias depois, fui visitá-la e ela disse: me cortaram inteira: daqui (apontando pra vagina) até lá atrás. Tô cheia de pontos. Não sei pra quê isso. Eu tava dilatada. Ele enfiou a mão toda dentro de mim várias vezes para ver e eu tava dilatada… ela disse, confusa.

Eu tinha 14 anos, não tinha noção alguma de que um dia viria a saber que havia um termo para aquele corte e que ele era bem mais comum do que eu jamais pudesse imaginar nos trabalhos de parto.

A Isabela Liborio foi gentil o bastante para compartilhar comigo um link para uma matéria do Estadão sobre a violência obstétrica. Vale a pena ler tudo. Mas vou colocar uma parte aqui para vocês.

O nascimento de Pedro foi um pesadelo para a mãe dele, Milena Caramori, na época com 23 anos. A engenheira florestal chegou ao Hospital Sorocabana em Botucatu, interior de São Paulo, depois de uma madrugada em trabalho de parto. Teve as pernas amarradas e, por isso, não conseguia fazer força o suficiente para dar à luz. Para “ajudar” o bebê a nascer a enfermeira subiu na barriga de Milena espremendo o ventre dela com o peso de seu corpo (a manobra de Kristeller é sabidamente responsável por lesões sérias na mulher e, por isso, desaconselhada há décadas.) Mas o pesadelo não terminava por aí. Sem nenhuma anestesia, a médica fez uma episiotomia em Milena, ou seja, cortou o períneo, região entre a vagina e o ânus, para ampliar o canal de parto e também “ajudar” o bebê a nascer. “Eu gritava. Eu só conseguia gritar”, lembra. O parto foi assistido por diversos residentes e o marido de Milena foi deixado de fora “porque a sala estava lotada”. Pedro nasceu e um residente foi incumbido de fazer a sutura, ainda sem anestesia. Foram sete pontos, que tiveram de ser refeitos. “Ouvi a médica dizer que estava tudo errado, que era para refazer”, lembra.

Me parte o coração. Como se não bastasse a pressão social para que mulheres se tornem mães, independente do que desejam para si, as que decidem fazê-lo ainda acabam passando por esse tipo de humilhação e abuso extremo ao darem à luz. É um absurdo sem tamanho.

Conhecimento e compartilhamento de informações são antídotos poderosos neste cenário. Mulheres, mães ou não, unai-vos! Unai-vos para que nossos corpos e os de nossas irmãs, amigas, primas, vizinhas e conhecidas, sejam, de fato, nossos. E que o direito à escolha de ser mãe ou não, de como parir, de onde parir, de com quem parir, seja nossa. Somente nossa.

Fonte da matéria citada: o Estadão.


sábado, 12 de julho de 2014

sábado, 2 de fevereiro de 2013

A Walk to Beautiful





A walk to beautiful é um documentário dirigido por Mary Olive Smith e Amy Bucher, sobre mulheres que sofrem de fístula obstétrica. Histórias tristes e comoventes que nos fazem pensar na importância de que todas as mulheres grávidas recebam os cuidados médicos, principalmente obstétricos, adequados antes, durante e após o parto. Dar à luz pode ser um processo natural, mas nossos corpos não são máquinas.

terça-feira, 13 de março de 2012

Violência obstétrica existe, sim senhor!

A única vez que toquei nesse assunto aqui no Útero Vazio (não por falta de interesse, mas por falta de tempo para pesquisar e escrever mais) um senhor de Portugal que nunca vai saber na vida o que é ser mulher, e muito menos grávida, veio dizer que as informações do post (um testemunho de uma jornalista portuguesa publicado em diversas revistas sobre um parto traumático e desumano) eram mentirosas e que isso (violência obstétrica) não existia. Eu pedi que ele compartilhasse conosco a experiência de parto dele, já que parecia tão entendido no assunto. Como a resposta nunca veio, estou achando que, pelo menos de agora em diante, ele vai pensar duas vezes antes de sair por aí "desmentindo" mulheres que criam coragem para denunciar os maus tratos aos quais são submetidas em consultas ginecológicas e procedimentos obstétricos.

A Lola publicou um guest post imperdível sobre o assunto. Leiam porque é do interesse de todas nós. E tratemos de exigir respeito de nossos ginecologistas, obstetras, anestesistas, enfermeiras e parteiras. Quem não tem postura profissional e compaixão não deveria estar na área da saúde, nem que seja de animais!


Para quem quer ler mais sobre este assunto, recomendo:

O post "Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher" escrito pela Nanda, autora do blog Mamíferas;
O post "Teste da Violência Obstétrica - Dia Internacional da Mulher - Blogagem Coletiva" escrito pela Lígia, autora do blog Cientista que virou mãe;

O blog:
Parto no Brasil

sábado, 12 de novembro de 2011

Qual o sentido da maternidade, para as maternidades?

A maternidade traz consigo tanta bagagem. Tantos desafios físicos, psicológicos, emocionais e financeiros que é absurdo submeter as mulheres grávidas ao desafio do (des)atendimento médico em pleno dia de parto. Será que já não chega o medo, a ansiedade, o nervosismo, a expectativa e o desconforto que naturalmente serão sentidos nesse dia e nos 9 meses que o antecederam? Para quê infligir mais dor a quem se encontra em uma situação tão vulnerável e potencialmente perigosa? Que enfermeiras e médicas são essas que dão às costas à ética e à essência da profissão que escolheram e usam as ferramentas de alívio e cura para ampliar o sofrimento de mulheres que contam com elas em um dia tão importante?

É nossa obrigação denunciar todo e qualquer destrato sofrido por nossas irmãs, primas, sobrinhas, tias, mães, filhas e amigas. É nosso dever cuidarmos uma das outras. É nossa responsabilidade não fechar os olhos para o sofrimento alheio. E com isso, querida uterinas, só temos a ganhar. Por que se não cuidarmos umas das outras, quem cuidará?



Texto: Qual o sentido da maternidade, para as maternidades?
Autora: Rosana Antonio

Foi a primeira pergunta que me fiz ao entrar na Maternidade Alfredo da Costa(MAC) no dia 05 de Junho de 2009.

Minha bolsa rompeu em casa mais ou menos às 20h do dia 05 de Junho. Uns trinta minutos depois cheguei na MAC, onde fui atendida pela enfermeira de plantão.

Eu tinha sonhado com esse dia, esperava algo do tipo: “Olá, então chegou a sua hora?” Mas na verdade fui recebida com um: “Dispa-se e deite-se.”
Pediu também as minhas análises e com elas ficou se abanando como se estivesse na menopausa. Em seguida perguntou: “O pai do bebé é conhecido?” Pensei: “Pra quem?” Mas respondi: “Sim.” Ela continuou as perguntas... “É branco?” Eu, sem entender disse: “Como?” Ela continuou... “É branco?, cigano?, indiano? africano?” Respondi: “Branco.”

Na mesma sala, entrou uma colega fazendo um comentário xenófobo sobre uma mulher negra que tinha acabado de sair dali:

“E agora, o que ela fez com a escurinha?” A Sª Enfermeira que me atendeu lançou mais um comentário xenófobo: “Sabe-se lá, parece que foi falar com ela. Esta ai é mesmo a boa samaritana.” As duas enfermeiras protestavam a gentileza e a amabilidade da recepcionista com as grávidas naquele dia.

A colega continuou ali falando com a enfermeira que estava me atendendo. Esta quando me viu despida veio em minha direcção e fez um toque violento.

Quando ela terminou, desceram uns dois litros de água pelo chão. Ela disse-me: “O filha, respira para parede, não tenho eu que levar com isso. Levanta-te e comece a caminhar até chamarem-na para o quarto.” Em seguida, gritou: “Auxiliare, venha limpar mais uma porcaria”. Eu achei tudo muito macabro, mas a Leticia estava chegando e eu estava feliz.

Uns 20 minutos depois chamaram-me para o quarto 6. Minha mãe chegou meia-hora depois, o que me deixou muito mais tranquila. Estivemos ali, ela a consolar-me pelos toques que faziam de hora em hora, mas nenhum deles, foi como o da Srª Enfermeira que me recebeu. Eu a perder água sem parar, e nada de dilatação, mas tinha um consolo, duas enfermeiras que pareciam não fazer parte da equipa da maternidade.

Amélia e Sónia, foram super gentis. Chegavam, faziam um toque normal e diziam: “Vamos Rosana, queremos fazer o seu parto, e será aqui neste quarto que a Leticia vai nascer.”

No dia seguinte, iniciaram a prática para induzir as tais contracções. Elas começaram logo, mas a dilatação era lenta. Avisavam-me sempre dos centímetros que aumentavam e ao quinto ou sexto chegou a médica para fazer a epidural. Por cinco minutos não senti mais as dores. Bom demais para ser verdade. Pois é. Em seguida, comecei a sentir uma dor fortíssima do lado direito mesmo no “pé da barriga”. Depois de sentir a tal dor mais umas duas horas, volta a anestesista. Esta, se apercebeu que tinha ficado uma “janela aberta”. Foi esta a sua expressão. E mais: que não poderia mais mexer na minha coluna. Bem, fiquei ali com esta tal “janela aberta” que mais parecia “a porta do inferno”.

Aos 10 cm de dilatação e quase 24 horas de trabalho de parto, entra a Drª Graça e uma grande equipa, a mesma que passava por lá a cada hora para fazer o toque. Depois de muito tempo ela percebeu que o parto não poderia ser normal. Então começou a falar com a equipa sobre um parto a “ventosa”. Perguntei o que era o parto a ventosa, ela não quis dar nenhuma explicação dizendo que sabia o que estava fazendo.

Minha mãe insistiu, dizendo que precisava avisar ao pai da criança. Naquele momento, Drª Graça pediu que acompanhassem minha mãe a recepção e que me levassem para a sala operatória. No elevador, escutei os comentários e a ira da Drª Graça, que dizia: “Como assim, avisar o pai da criança? Se quisessem explicações médicas, deveriam ter ido para uma clínica privada. Sei eu o que eu faço, não devo dar explicações.”

Achei o comentário desprezível, ainda mais tratando-se da “melhor maternidade do país”.
Eu, tentando ser simpática, em meio as tantas dores e preocupada com o humor da Drª Graça, que iria fazer o meu parto, disse: “Srª Drª Graça, minha mãe teve uma péssima experiência com o método forceps, é só isso. E o que ela pretendia era perceber que processo é este que vão usar comigo.” Ela não deu respostas.

Entramos na sala e a mesma anestesista me fez mais uma dose no cateter. No mesmo instante, a Drª Graça começou a discutir com a colega se fazia a ventosa ou a cesariana. Uma dizia para fazer a cesariana, outra dizia que já não dava mais e que fizessem logo a ventosa. Eu, em pânico, disse: “Mas me parece que vocês não estão de acordo.” Esta minha frase deixou a Drª Graça e a anestesista furiosas. Esta última disse que não ficava mais ali e realmente, fez a sua dose e foi embora. E a Drª Graça disse que a vontade que tinha, era de não fazer o parto. Ficaram discutindo o tempo todo. A Drª Graça se sentia ofendida e não conseguia esconder, perdeu mais uma vez o controle e, quando retirou a Leticia, disse: “Berra Leticia, se não a sua mãe vai fazer queixas de nós.”

Olhei para minha filhinha tão linda e indefesa e pensei: “Meu Deus, como pode uma médica dizer a uma criança para berrar.” Vivi em quatro países antes de Portugal, e em nenhum deles as crianças berram. Esta expressão é usada para referir-se aos animais. Mas parece que, para a Drª Graça, é também usada para as crianças, em Portugal.

Em silêncio, pedi desculpas para minha filhinha, que ela aguentasse firme e que muito em breve, sairíamos daquele lugar macabro.

Depois de retirarem a Leticia, se depararam com mais um problema, a placenta não se descolava. Em meio a tanta perda de sangue comecei a ter uma crise cianótica, mas me mantive lúcida e acordada, escutando o chorinho da minha filha. A Drª Graça tentava arrancar a placenta com toda sua força e com as unhas encravadas em minha barriga. A cada minuto perguntava se me fazia mal e eu sempre dizia que sentia as suas unhas. Aguentei ainda uns 30 minutos, que me pareceram longos, para a retirada da placenta. A Drª Graça jogou a placenta em cima de uma mesa ao meu lado. Fiquei com uma sensação estranhíssima, como a de estar fazendo parte de um abate de vacas, já que a própria Drª Graça pediu que minha Leticia berrasse.

Terminando sua função, a Drª Graça pediu a sua auxiliar que me fizesse os pontos. Para a minha sorte, vi um rosto conhecido. Tratava-se da Drª Rita. Era uma jovem médica que dias antes tinha me atendido na primeira consulta na MAC. Ela também me reconheceu e, diferente da Drª Graça, ela fez seu trabalho em silêncio e, quando terminou me disse: “Rosana, ficou muito bom. Você vai ficar bem logo. Muitas felicidades!”

Em meio aos tantos demónios existem sempre alguns anjos. Ainda bem!

Minhas visitas mensais na gravidez foram acompanhadas pela Drª Ilda Dias, a Enfermeira Cidália e toda a equipa de trabalho do posto de saúde de São João, extensão Júlia Moreira.

Foi uma escolha minha e do meu marido, optar pelo sistema público, depois de conhecer o profissionalismo daquela inteira equipa. Elas tinham nos cativado de uma certa maneira, que cheguei a dar uma entrevista para um telejornal sobre a qualidade dos serviços públicos de saúde em Portugal. Eis o porque da minha surpresa na MAC, considerada essa, a melhor maternidade do país.

Eu, em meio a discussão, desequilíbrio e falta de postura da Drª Graça, que de graça tem pouco, cheguei a repetir isso: “Estou aqui não somente por ser um sistema público, mas porque a MAC é conhecida como a melhor maternidade do país.” Pois é. Se é assim. Como será a pior? E, para já, deixo-vos mais uma pergunta: Qual o sentido da maternidade para as maternidades???

O artigo da jornalista Rosana Antonio foi publicado parcialmente, na Revista “O Brasileirinho”, Revista Pais e Filhos (Portugal). Em Alguns jornais e revistas brasileirias em diferentes estados. E integralmente, no Quaderno Maternus (Itália). Após a sua denúncia, outras cinco mulheres manifestaram terem sido mal tratadas em hospitais e maternidades portuguesas. Denuncie você também!

Fonte do texto: http://quadernomaternus.blogspot.com/
Foto: http://olhares.aeiou.pt/reportagem_maternidade__18_foto158111.html?nav1

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