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domingo, 11 de agosto de 2013

Desconstrução do mito da maternidade perfeita - parte I (O corpo após o parto).







Uma das bases da maternidade consciente é a desconstrução dos mitos relacionados a ela. O mito do instinto materno como sendo inato e universal, da gravidez sem incômodos, do parto sem dor, do amor compulsório e imediato pelo bebê... São tantos os mitos que o melhor mesmo é irmos por parte. Não para desmotivar, chocar ou preocupar quem deseja ser mãe, mas sim para informar e oferecer fatos e imagens mais próximas das várias realidades enfrentadas por mulheres que optam por se tornarem mães, garantindo assim que um número cada vez maior de mulheres tenha acesso a informações pertinentes sobre os vários aspectos da maternidade a fim de poderem tomar uma decisão consciente sobre uma vida com ou sem filhos.

Um desses mitos é o de que o corpo não passa por uma transformação drástica durante a gravidez; de que o que muda mesmo são apenas os quilos a mais e que depois é só fazer dieta e emagrecer. E, hoje em dia, mas do que nunca, as mulheres sofrem a pressão de apresentarem corpos esbeltos e perfeitos pouco depois de darem à luz. Mas a verdade é que as profundas transformações que uma gravidez pode impor ao corpo feminino (cicatrizes, estrias, flacidez, envelhecimento precoce, dismorfia...) nem sempre são reversíveis. E pouco se fala nelas, porque elas raramente são discutidas e compartilhadas pelas mulheres. Quase sempre por vergonha. 

Pensando nisso, a fotógrafa americana Jade Beall, se propôs a colaborar para o processo de redefinição do conceito do corpo da mulher bonita.

Segue a reportagem da BBC sobre o projeto dela: 
Um dia ela entrou em seu estúdio com seu bebê de cinco semanas, tirou a roupa, e fez uma série de fotos. Era um corpo que ela não conhecia. Era um formato de corpo que ela nunca tinha tido antes da gravidez. E ela não gostou muito do que viu. Mas Beall decidiu publicar as fotos em seu blog de fotografia, com o intuito de compartilhar um outro lado da maternidade, que não costuma ser mostrado.

"Tantas pessoas me dizem, 'Oh, eu nunca vi um corpo como esse. Não quero que as pessoas achem as minhas fotos de mau gosto. Quero que elas olhem e digam, 'Oh, essa é uma mulher extremamente humana, ou, essa é uma mulher que tem cicatrizes e linhas com histórias para contar. Meu objetivo é ajudar essas mães a se sentirem dignas de serem chamadas de belas," concluiu Beall.

A mídia está cheia de imagens de corpos femininos. Mas não desses tipos de corpos. Por isso Beall fotografou mais de 70 mães que irão aparecer no livro, A Beautiful Body (Um Belo Corpo, em tradução livre), que deve ser lançado em janeiro de 2014. Ela não usou maquiadores, e não há nenhum tipo de retoque nas fotos.

O projeto A Beautiful body tem um lindo site, onde você poderá ler e ouvir histórias de mulheres que compartilharam informações sobre as mudanças que observaram em seus corpos após se tornarem mães e o pacto de silêncio e vergonha imposto até mesmo pelas pessoas mais próximas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Curso - Contraceptivos: escolhas, cultura e consequências



  
Video de introdução ao curso

Daqui a uma semana começará o curso: “Contraception: Choices, Culture and Consequences” (Contraceptivos: escolhas, cultura e consequências) ministrado em inglês pela professora Jerusalem Makonnen. Este curso é completamente gratuito, online (vídeos, fóruns, links e livros) e tem duração de 5 semanas (de 3 a 5 horas de estudos cada).

Eu já me inscrevi e estou ansiosa para as aulas começarem! Se tiverem um tempinho sobrando por aí: inscrevam-se. Vale a pena nos informarmos cada vez mais e melhor sobre nossas opções contraceptivas, sejam elas temporárias ou permanentes.




sexta-feira, 6 de abril de 2012

Laqueadura sem corte


Um procedimento de esterilização feito sem cortes e em apenas cinco minutos está em teste no Brasil. Concebido como uma alternativa à cirurgia de laqueadura, o método é uma opção para portadoras de doenças cardíacas graves, para quem tanto a cirurgia quanto a gravidez sobrecarregariam o coração. Elas também não podem tomar anticoncepcionais (os hormônios desses remédios representam risco para elas).

A técnica consiste na colocação, pela vagina, de um aparelho feito de titânio e níquel – chamado Essure – projetado para ser introduzido nas trompas. Após três dias, forma-se uma fibrose, espécie de reação de rejeição ao corpo estranho presente na trompa. Ela acaba funcionando como um obstáculo que impede o óvulo de alcançar o local onde se encontraria com o espermatozoide.

O implante está em testes em hospitais públicos de referência em saúde da mulher do Rio de Janeiro e de São Paulo (em algumas instituições particulares do País, já está disponível). “A eficácia da esterilização é de 90%”, explica Paulo Olmos, chefe do serviço de Reprodução Humana do Hospital Brigadeiro, em São Paulo. E também é irreversível. “A mulher só poderá engravidar por meio de fertilização in vitro (junção de óvulo e espermatozoide em laboratório)”, explica o ginecologista Luciano Gibran, do Hospital Pérola Byington, em São Paulo.

A vendedora paulistana Viviane Brito, 24 anos, submeteu-se ao procedimento. Ela nasceu com uma cardiopatia que impede o sangue bombeado do coração de chegar aos pulmões. Casada há um ano, Viviane engravidou acidentalmente, mas teve de interromper a gestação para que seu coração não fosse sobrecarregado. “Passei muito mal”, conta. “Não quero sofrer novamente.”

Os especialistas acreditam que o método tem bom potencial para ser usado em programas de planejamento familiar. “Sua adoção diminuiria a fila de espera para a laqueadura”, diz o médico Olmos. A Conceptus, fabricante do aparelho, já está em negociação com o governo brasileiro. “Estamos conversando sobre a possibilidade de ampliar os testes em outras instituições públicas”, disse à ISTOÉ Spencer Roeck, presidente da companhia.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pense novamente

Para quem acha que já alcançamos a igualdade de direitos entre os gêneros e que o feminismo é desnecessário, pense novamente. Em muitos países do mundo não ter filhos não é uma opção. E nesses lugares não basta parir, tem que parir um filho, porque o nascimento de filhas não é bem-vindo. 


Mulher é presa no Afeganistão por estrangular nora que teve 3ª bebê menina

"Uma mulher foi presa no Afeganistão por ajudar o filho a estrangular a própria esposa, que havia dado a luz a uma terceira filha. Enquanto os pais celebram o nascimento de filhos homens, as meninas são causa de frustração entre algumas famílias afegãs.

A jovem Stori, de 22 anos e mãe de três meninas, foi assassinada no sábado no vilarejo de Mahfalay, distrito de Khanabad, que fica na província de Kunduz, no sudeste afegão.

O delegado da polícia local, Sufi Habib, disse que Stori teve os pés amarrados pela sogra, Wali Hazrata, enquanto seu próprio marido a estrangulava.
O corpo da afegã foi encontrado no mesmo dia por um dos vizinhos, que chamou a polícia.

O marido está foragido e não teve o seu nome divulgado. Acredita-se que o homem pertença à milícia Arbaki.
Autoridades locais disseram à BBC que o marido está sob proteção de um grupo armado ilegal, sob amparo de políticos no Afeganistão.

Direitos das mulheres

Ativistas de direitos humanos divulgaram o caso à imprensa afegã. A diretora do escritório de Defesa da Mulher de Kunduz, Nadira Gya, condenou o incidente.

"Foi um crime brutal cometido contra uma mulher inocente", disse. Nadira acusou as milícias de diversos ataques contra mulheres no Afeganistão.

Líderes religiosos e tribais também condenaram o assassinato da jovem. Eles disseram que a morte foi um ato de ignorância e um crime contra o Islã, a humanidade e as mulheres, e pediram punição rigorosa à sogra e ao marido envolvidos no crime.
A terceira filha de Stori, que hoje tem dois meses, não se feriu no incidente."


Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120130_sogra_afeganistao_dg.shtml

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Quando os avós viram pais


Texto: Com a crise, avós espanhóis sofrem estresse por excesso de responsabilidade com netos

Autora: Anelise Infante

Cuidar dos netos pode ser um prazer, mas também um problema. Um relatório espanhol indica que, desde o início da crise econômica em 2009, o número de avós que passaram a cuidar dos netos para ajudar o bolso dos filhos aumentou 47%. E, com isso, subiu o nível de estresse entre os mais velhos.

Patologias como ansiedade e depressão foram detectadas por excesso de responsabilidades no estudo Avôs e avós para tudo - Percepções em relação à educação e cuidado dos netos, apresentado recentemente pela Fundação Obra Social Caixa Madri.

Diante dos cortes de gastos dos pais com creches, atividades extraescolares e babás, os avós viraram serviços de primeira necessidade. Assim, 50% dos maiores de 65 anos na Espanha cuidam de seus netos diariamente; 45% o fazem todas as semanas.

Essa responsabilidade quintuplicou em menos de uma década. Em 1993, apenas 9,5% dos avós tinham a tarefa de ocupar-se dos netos. Atualmente, duas em cada três famílias apelam para o que os sociólogos definem como "avós-pais" ou "avós-babás".

Em outros países, como a Grã Bretanha, uma de cada quatro famílias recorre aos avós para o cuidado das crianças.

O problema, segundo o informe, é que na Espanha "estão ocorrendo muitos casos de abusos".

'Angustiados'

Há avós que precisam eles mesmos de cuidados e que afirmam que se sentem "angustiados e utilizados por filhos que lhes delegam excessiva responsabilidade no cuidados dos netos".

"Por um lado, reivindicam seus direitos de serem avós, não educadores. Demandam que haja limites em relação as suas obrigações, porque existe um temor de interferir nas estratégias educativas dos pais. Não sabem se aplicam seus critérios ou os dos seus filhos", disse à BBC Brasil o coordenador da pesquisa e psiquiatra, Eusébio Megías.

"E, por outro, temem que depois de cuidar de filhos e netos durante toda a vida, ninguém se preocupe por cuidar deles, acrescentou ele."

"Por um lado, reivindicam seus direitos de serem avôs, não educadores. Demandam que haja limites em relação as suas obrigações, porque existe um temor de interferir nas estratégias educativas dos pais. Não sabem se aplicar seus critérios ou os dos seus filhos "

Eusébio Megías, coordenador da pesquisa e psiquiatra

Segundo as conclusões do relatório, os avós se sentem divididos entre o prazer de passar tempo com seus netos e os excessos de exigências de seus filhos nestas tarefas.

Nestas circunstâncias estão aumentando as consultas médicas por estresse, ansiedade e depressão, de acordo com as estatísticas da Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia (SEGG) feitas para o Ministério da Saúde.

Para a SEGG, "o fato de 50% dos maiores de 65 anos dedicarem em média seis horas por dia de maneira forçada ao cuidado dos netos, negligenciando suas próprias necessidades, está causando problemas nervosos, porque muitos avós se sentem sobrecarregados".

Cultura e expectativa de vida


Além da crise econômica, o aumento da expectativa de vida e a cultura de ajuda familiar também são fatores que colocam os avós espanhóis nesta nova realidade de educadores por imposição. As espanholas lideram os índices europeus de expectativa de vida, com 84,9 anos, sendo que a média continental é de 82,4; entre os homens espanhóis, 78,7 contra 76,4 anos de média na Europa) .

Ao contrário de vários países ocidentais europeus, 56% dos espanhóis acham que os parentes devem ser a primeira opção na hora de pedir apoio financeiro e ajuda com o cuidado de algum integrante da família.

A taxa cai para 20% na França, 32% na Alemanha e não chega aos 10% nos países escandinavos.

"(Isso ocorre) provavelmente porque nestas sociedades há mais ajuda social. A questão é que, na Espanha, os avós passam mais horas com os netos do que a média europeia. Aí se produz um desajuste", afirmou à BBC Brasil a investigadora Maria Teresa López.

Paulino Castells, autor de 'Queridos Abuelos', diz que, se avós 'fizessem greve, país entraria em colapso'

Professora de Economia Aplicada da Universidade Complutense de Madri e co-autora da pesquisa Dupla dependência: avós que cuidam de netos na Espanha, López disse que os idosos são os mais adequados para substituir os pais no cuidado de netos, mas com pré-condições.

"Precisam de agradecimento pelo esforço, que os filhos não abusem de suas possibilidades e que as pautas de atuação sejam negociadas, porque eles devem ter suas necessidades também atendidas e valorizadas."

O psiquiatra Paulino Castells, uma das maiores autoridades nacionais no assunto com 18 livros publicados, acredita que o papel dos avós nos tempos de crise é tão importante que, "se fizessem greve, o país entraria em colapso".

O psiquiatra e avô de três netos disse à BBC Brasil que "está havendo uma mudança hierárquica. Pais que procuram refúgios no lar da infância e se transformam em irmãos mais velhos de seus filhos. Isso é um erro".

Fonte da imagem: http://projectcyrano.blogspot.com/2011/05/avos.html
Fonte do texto: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/11/111125_espanha_avos_ai.shtml

sábado, 12 de novembro de 2011

Qual o sentido da maternidade, para as maternidades?

A maternidade traz consigo tanta bagagem. Tantos desafios físicos, psicológicos, emocionais e financeiros que é absurdo submeter as mulheres grávidas ao desafio do (des)atendimento médico em pleno dia de parto. Será que já não chega o medo, a ansiedade, o nervosismo, a expectativa e o desconforto que naturalmente serão sentidos nesse dia e nos 9 meses que o antecederam? Para quê infligir mais dor a quem se encontra em uma situação tão vulnerável e potencialmente perigosa? Que enfermeiras e médicas são essas que dão às costas à ética e à essência da profissão que escolheram e usam as ferramentas de alívio e cura para ampliar o sofrimento de mulheres que contam com elas em um dia tão importante?

É nossa obrigação denunciar todo e qualquer destrato sofrido por nossas irmãs, primas, sobrinhas, tias, mães, filhas e amigas. É nosso dever cuidarmos uma das outras. É nossa responsabilidade não fechar os olhos para o sofrimento alheio. E com isso, querida uterinas, só temos a ganhar. Por que se não cuidarmos umas das outras, quem cuidará?



Texto: Qual o sentido da maternidade, para as maternidades?
Autora: Rosana Antonio

Foi a primeira pergunta que me fiz ao entrar na Maternidade Alfredo da Costa(MAC) no dia 05 de Junho de 2009.

Minha bolsa rompeu em casa mais ou menos às 20h do dia 05 de Junho. Uns trinta minutos depois cheguei na MAC, onde fui atendida pela enfermeira de plantão.

Eu tinha sonhado com esse dia, esperava algo do tipo: “Olá, então chegou a sua hora?” Mas na verdade fui recebida com um: “Dispa-se e deite-se.”
Pediu também as minhas análises e com elas ficou se abanando como se estivesse na menopausa. Em seguida perguntou: “O pai do bebé é conhecido?” Pensei: “Pra quem?” Mas respondi: “Sim.” Ela continuou as perguntas... “É branco?” Eu, sem entender disse: “Como?” Ela continuou... “É branco?, cigano?, indiano? africano?” Respondi: “Branco.”

Na mesma sala, entrou uma colega fazendo um comentário xenófobo sobre uma mulher negra que tinha acabado de sair dali:

“E agora, o que ela fez com a escurinha?” A Sª Enfermeira que me atendeu lançou mais um comentário xenófobo: “Sabe-se lá, parece que foi falar com ela. Esta ai é mesmo a boa samaritana.” As duas enfermeiras protestavam a gentileza e a amabilidade da recepcionista com as grávidas naquele dia.

A colega continuou ali falando com a enfermeira que estava me atendendo. Esta quando me viu despida veio em minha direcção e fez um toque violento.

Quando ela terminou, desceram uns dois litros de água pelo chão. Ela disse-me: “O filha, respira para parede, não tenho eu que levar com isso. Levanta-te e comece a caminhar até chamarem-na para o quarto.” Em seguida, gritou: “Auxiliare, venha limpar mais uma porcaria”. Eu achei tudo muito macabro, mas a Leticia estava chegando e eu estava feliz.

Uns 20 minutos depois chamaram-me para o quarto 6. Minha mãe chegou meia-hora depois, o que me deixou muito mais tranquila. Estivemos ali, ela a consolar-me pelos toques que faziam de hora em hora, mas nenhum deles, foi como o da Srª Enfermeira que me recebeu. Eu a perder água sem parar, e nada de dilatação, mas tinha um consolo, duas enfermeiras que pareciam não fazer parte da equipa da maternidade.

Amélia e Sónia, foram super gentis. Chegavam, faziam um toque normal e diziam: “Vamos Rosana, queremos fazer o seu parto, e será aqui neste quarto que a Leticia vai nascer.”

No dia seguinte, iniciaram a prática para induzir as tais contracções. Elas começaram logo, mas a dilatação era lenta. Avisavam-me sempre dos centímetros que aumentavam e ao quinto ou sexto chegou a médica para fazer a epidural. Por cinco minutos não senti mais as dores. Bom demais para ser verdade. Pois é. Em seguida, comecei a sentir uma dor fortíssima do lado direito mesmo no “pé da barriga”. Depois de sentir a tal dor mais umas duas horas, volta a anestesista. Esta, se apercebeu que tinha ficado uma “janela aberta”. Foi esta a sua expressão. E mais: que não poderia mais mexer na minha coluna. Bem, fiquei ali com esta tal “janela aberta” que mais parecia “a porta do inferno”.

Aos 10 cm de dilatação e quase 24 horas de trabalho de parto, entra a Drª Graça e uma grande equipa, a mesma que passava por lá a cada hora para fazer o toque. Depois de muito tempo ela percebeu que o parto não poderia ser normal. Então começou a falar com a equipa sobre um parto a “ventosa”. Perguntei o que era o parto a ventosa, ela não quis dar nenhuma explicação dizendo que sabia o que estava fazendo.

Minha mãe insistiu, dizendo que precisava avisar ao pai da criança. Naquele momento, Drª Graça pediu que acompanhassem minha mãe a recepção e que me levassem para a sala operatória. No elevador, escutei os comentários e a ira da Drª Graça, que dizia: “Como assim, avisar o pai da criança? Se quisessem explicações médicas, deveriam ter ido para uma clínica privada. Sei eu o que eu faço, não devo dar explicações.”

Achei o comentário desprezível, ainda mais tratando-se da “melhor maternidade do país”.
Eu, tentando ser simpática, em meio as tantas dores e preocupada com o humor da Drª Graça, que iria fazer o meu parto, disse: “Srª Drª Graça, minha mãe teve uma péssima experiência com o método forceps, é só isso. E o que ela pretendia era perceber que processo é este que vão usar comigo.” Ela não deu respostas.

Entramos na sala e a mesma anestesista me fez mais uma dose no cateter. No mesmo instante, a Drª Graça começou a discutir com a colega se fazia a ventosa ou a cesariana. Uma dizia para fazer a cesariana, outra dizia que já não dava mais e que fizessem logo a ventosa. Eu, em pânico, disse: “Mas me parece que vocês não estão de acordo.” Esta minha frase deixou a Drª Graça e a anestesista furiosas. Esta última disse que não ficava mais ali e realmente, fez a sua dose e foi embora. E a Drª Graça disse que a vontade que tinha, era de não fazer o parto. Ficaram discutindo o tempo todo. A Drª Graça se sentia ofendida e não conseguia esconder, perdeu mais uma vez o controle e, quando retirou a Leticia, disse: “Berra Leticia, se não a sua mãe vai fazer queixas de nós.”

Olhei para minha filhinha tão linda e indefesa e pensei: “Meu Deus, como pode uma médica dizer a uma criança para berrar.” Vivi em quatro países antes de Portugal, e em nenhum deles as crianças berram. Esta expressão é usada para referir-se aos animais. Mas parece que, para a Drª Graça, é também usada para as crianças, em Portugal.

Em silêncio, pedi desculpas para minha filhinha, que ela aguentasse firme e que muito em breve, sairíamos daquele lugar macabro.

Depois de retirarem a Leticia, se depararam com mais um problema, a placenta não se descolava. Em meio a tanta perda de sangue comecei a ter uma crise cianótica, mas me mantive lúcida e acordada, escutando o chorinho da minha filha. A Drª Graça tentava arrancar a placenta com toda sua força e com as unhas encravadas em minha barriga. A cada minuto perguntava se me fazia mal e eu sempre dizia que sentia as suas unhas. Aguentei ainda uns 30 minutos, que me pareceram longos, para a retirada da placenta. A Drª Graça jogou a placenta em cima de uma mesa ao meu lado. Fiquei com uma sensação estranhíssima, como a de estar fazendo parte de um abate de vacas, já que a própria Drª Graça pediu que minha Leticia berrasse.

Terminando sua função, a Drª Graça pediu a sua auxiliar que me fizesse os pontos. Para a minha sorte, vi um rosto conhecido. Tratava-se da Drª Rita. Era uma jovem médica que dias antes tinha me atendido na primeira consulta na MAC. Ela também me reconheceu e, diferente da Drª Graça, ela fez seu trabalho em silêncio e, quando terminou me disse: “Rosana, ficou muito bom. Você vai ficar bem logo. Muitas felicidades!”

Em meio aos tantos demónios existem sempre alguns anjos. Ainda bem!

Minhas visitas mensais na gravidez foram acompanhadas pela Drª Ilda Dias, a Enfermeira Cidália e toda a equipa de trabalho do posto de saúde de São João, extensão Júlia Moreira.

Foi uma escolha minha e do meu marido, optar pelo sistema público, depois de conhecer o profissionalismo daquela inteira equipa. Elas tinham nos cativado de uma certa maneira, que cheguei a dar uma entrevista para um telejornal sobre a qualidade dos serviços públicos de saúde em Portugal. Eis o porque da minha surpresa na MAC, considerada essa, a melhor maternidade do país.

Eu, em meio a discussão, desequilíbrio e falta de postura da Drª Graça, que de graça tem pouco, cheguei a repetir isso: “Estou aqui não somente por ser um sistema público, mas porque a MAC é conhecida como a melhor maternidade do país.” Pois é. Se é assim. Como será a pior? E, para já, deixo-vos mais uma pergunta: Qual o sentido da maternidade para as maternidades???

O artigo da jornalista Rosana Antonio foi publicado parcialmente, na Revista “O Brasileirinho”, Revista Pais e Filhos (Portugal). Em Alguns jornais e revistas brasileirias em diferentes estados. E integralmente, no Quaderno Maternus (Itália). Após a sua denúncia, outras cinco mulheres manifestaram terem sido mal tratadas em hospitais e maternidades portuguesas. Denuncie você também!

Fonte do texto: http://quadernomaternus.blogspot.com/
Foto: http://olhares.aeiou.pt/reportagem_maternidade__18_foto158111.html?nav1

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma em três mulheres dá à luz sem ajuda especializada


Um terço das mulheres do mundo dá à luz sem a ajuda de especialistas, aponta um relatório feito pela ONG britânica Save the Children e divulgado em abril deste ano.


O relatório estima que, se houvesse mais 350 mil parteiras no mundo, elas poderiam salvar a vida de 1 milhão de bebês anualmente.
Enquanto na Grã-Bretanha apenas 1% das crianças nasce sem que o parto seja assistido por especialistas, essa porcentagem sobe para 94 na Etiópia e para 76 em Bangladesh.


“Não deveria ser algo complicado: alguém que saiba como secar o bebê corretamente e a ajudá-lo a respirar pode fazer a diferença entre sua vida e morte”, diz Justin Forsyth, executivo-chefe da Save the Children.


A ONG cobra ações da ONU e de governos doadores a países subdesenvolvidos, pedindo que apoiem e financiem o treinamento de mais parteiras.

Segundo o relatório, a asfixia ao nascer é responsável por mais mortes de bebês do que a malária. “Com treinamento e equipamentos corretos, parteiras podem monitorar a frequência cardíaca do feto e identificar problemas durante o parto”, diz o texto.
No total, a Save the Children calcula em 48 milhões o número de mulheres que, anualmente, dão à luz sem auxílio adequado, aumentando os riscos de morte tanto da mãe quanto do recém-nascido.


O Brasil não é citado pelo relatório.
O Afeganistão é apontado como o pior país do mundo para se ter um bebê, segundo a ONG britânica. Ali, a taxa de mortalidade infantil é de 52 a cada mil nascimentos vivos (no Brasil, essa taxa é de 19,88), e 20% das crianças morrem antes de completar cinco anos.


Muitas dessas mortes são ocasionadas por práticas tribais, como colocar recém-nascidos no chão – o que traz risco de infecções – para espantar maus espíritos.


Mas, ao mesmo tempo, o correspondente da BBC em Cabul Paul Wood relata algumas pequenas melhorias no país, como o treinamento de 2,4 mil parteiras desde 2002 e o aumento no número de partos assistidos nas zonas rurais.
Um exemplo tanto dos flagelos quanto dos avanços do país é Rogul, 35, uma afegã da província de Cabul que disse à BBC que já passou por oito partos prematuros e perdeu todos os bebês.

Sua nona gravidez foi até o fim, mas a criança morreu um dia depois de nascer. Desde então, ela fez um curso para se tornar uma parteira e, agora, além de ter conseguido ter filhos, ensina práticas de saúde e higiene para outras afegãs.

Fontes:
Texto - BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/04/110401_parteiras_pai.shtml
Imagem: http://www.historyforkids.org/learn/people/midwife.htm

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A importância do útero (mesmo vazio)


"A missão do útero não se limita à nobre tarefa de abrigar uma nova vida nem termina com o nascimento do bebê. O órgão ajuda a manter o assoalho pélvico que dá sustentação à bexiga. Sem esse suporte, há risco de surgir uma incontinência urinária, por exemplo. É do útero, também, que partem importantes artérias que alimentam os ovários. Mal nutridos, eles começam a entrar em falência e sua vida útil diminui, em média, seis anos. Por fim, o órgão também serve de passagem para muitos nervos. Quando esse caminho é cortado, podem surgir agumas alterações neurológicas nos genitais. "O conceito de que ele só serve para ter filhos está bem ultrapassado."

Claudio Basbaum,
ginecologista do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo

Cllique aqui para ler a matéria "Mulher por inteiro" de Gabriela Cupani, publicada na revista Saúde, que trata da questão do impacto da retirada do útero e dos ovários na saúde da mulher.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

50 anos da pílula anticoncepcional

COMO O MÉTODO CONTRACEPTIVO INFLUENCIOU A TOMADA DE DECISÕES PESSOAIS E PROFISSIONAIS PELAS MULHERES

Em uma sociedade contemporânea em que a mulher exerce diversos papéis, seja como profissional, administradora do lar, estudante, solteira, esposa ou mãe, as influências comportamentais e a moda feminina que marcaram as décadas anteriores são visíveis no dia a dia. Com um ritmo de vida dinâmico, a mulher atual, a exemplo de alguns ícones femininos do passado, vive em constante busca por independência. Neste contexto, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década de 60, permitiu que a mulher passasse a controlar sua fertilidade, conquistasse liberdade sexual com segurança e praticidade e, mais recentemente, aliasse a contracepção a outros benefícios propiciados pela pílula.

Estudo realizado pelo Instituto Guttmacher, organização de saúde sexual dos Estados Unidos, revela que 80 milhões de mulheres utilizam a pílula anticoncepcional no mundo. O maior percentual de consumidoras reside na Europa e nos Estados Unidos e utilizam o método para planejar o tamanho da família, se dedicar aos estudos e à carreira. O estudo revela ainda que, na América Central e do Sul, cerca de 16 milhões de mulheres utilizam a pílula anticoncepcional, sendo que as brasileiras usam os contraceptivos orais durante um período maior – entre dois e cinco anos -, enquanto as mexicanas utilizam o método por apenas um ano sem interrupção. “Normalmente, as mulheres realizam uma pausa no uso da pílula por razões culturais, no entanto, não é um procedimento recomendado, justamente por haver a possibilidade de ocorrer uma gestação não planejada neste período”, afirma o Prof. Dr. Afonso Nazario, Chefe do Departamento de Ginecologia da UNIFESP. O levantamento do Instituto Guttmacher mostra também que a taxa de contracepção na América Central e do Sul aumentou consideravelmente, de 15% em 1969, para mais de 70% em 2000.

O atual índice elevado de utilização da pílula anticoncepcional contrasta com o período de seu lançamento, ocorrido quando o cenário mundial pregava uma conduta moral de castidade feminina - na época o método era receitado apenas para as mulheres casadas e com autorização dos maridos. A primeira pílula, lançada nos Estados Unidos, possuía formulação com altas doses de hormônio, que gerava alguns efeitos colaterais, e assim não conquistou as usuárias. Em 1961 importante empresa do mercado farmacêutico lança a primeira pílula disponibilizada em países da Europa, Austrália e Brasil, com formulação seis vezes maior que a quantidade de princípio ativo dos contraceptivos atuais.

No auge dos anos 70, surge a chamada segunda geração de pílulas, com redução significativa da quantidade de hormônios usados nas primeiras versões. No final dos anos 90 é inaugurada a terceira geração da pílula anticoncepcional, com formulações de baixas doses e princípios ativos mais modernos que proporcionam outros benefícios além da contracepção.

Paralelo ao surgimento da pílula, as mulheres iniciaram uma revolução silenciosa e discreta. A taxa de fecundidade brasileira decresce da média nacional de 6,3 filhos em 1960 para 5,8 filhos em 1970, chegando ao patamar de 2,3 filhos em 2000. A região Sudeste foi a que registrou o menor índice de fecundidade, 2,1 filhos por mulher, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Com a opção de controlar a fertilidade, a mulher pode escolher o momento ideal para ingressar no mercado de trabalho em busca de sua independência financeira ou ampliação dos bens de consumo de toda a família”, afirma Flavio Gikovate, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor.

A expansão do ensino nas décadas de 60 e 70 permitiu que as mulheres aumentassem sua escolaridade e, com isso, passassem a pensar no desenvolvimento de uma carreira. “A pílula anticoncepcional surgiu em um momento já favorável para o início da ‘revolução de costumes’, período em que a sexualidade humana ganhou importância própria, desvinculando-a da necessidade de reprodução e permitindo que as mulheres pensassem em relações sexuais sem o pavor da gestação”, ressalta Gikovate.

De acordo com os indicadores da Fundação Carlos Chagas, a participação da mulher no mercado de trabalho ou procurando emprego em 1976 era de 28,8%. Já em 2007, este índice representou um total de 43,6%. Em 2009, dados atualizados do IBGE revelam que o trabalho feminino já corresponde a 45,1% da população empregada no País.

Observe como a evolução feminina no mercado de trabalho impactou os índices de fecundidade nas últimas décadas:



*População recenseada no Brasil e taxa de fecundidade brasileira – dados do IBGE

*População economicamente ativa feminina – dados da Fundação Carlos Chagas

Fonte: Revista Sempre Materna - 03/03/2010

http://semprematerna.uol.com.br/bagagem-materna/50-anos-da-pilula-anticoncepcional

Por: Burson-Marsteller, Bayer Schering Pharma, Fundação Carlos Chagas, IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Instituto Guttmacher


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