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domingo, 28 de setembro de 2014

O aborto clandestino pune e mata as mulheres

Neste dia tão importante, aqui vai um texto da Sonia Coelho que eu gostaria de compartilhar com vocês:

Jandira Magdalena, 27 anos, dois filhos. Elizangela Barbosa, 32 anos, três filhos. Josicleide Souza, 37 anos, dois filhos. Em comum, o fato de que morreram vítimas do aborto clandestino. As mortes destas mulheres foram noticiadas. Quantas mais precisarão morrer ou ficar com sequelas para que a nossa sociedade e os e as governantes tomem uma atitude? 

As três mulheres eram mães, responsáveis por suas famílias, mulheres trabalhadoras e saudáveis. Como afirmou o marido de Elizangela, ela só queria continuar trabalhando e ter independência financeira.

Perderam suas vidas porque as mulheres não tem o direito de decidir sobre a maternidade. Esta é uma triste realidade de muitas mulheres brasileiras que, diante de uma gravidez indesejada, decidem fazer um aborto em uma situação de clandestinidade, na busca por garantir sua autonomia e seu direito de decidir.

Em todas as partes do mundo em que o aborto é proibido por lei, as mulheres continuam interrompendo a gravidez indesejada.

De 2004 a 2013, entre 7,5 milhões e 9,3 milhões de mulheres interromperam uma gestação. Os dados são do estudo “Magnitude do abortamento induzido por faixa etária e grandes regiões”, conduzido pelos professores Mario Giani Monteiro (Instituto de Medicina Social-UERJ) e Leila Adesse (ONG Ações Afirmativas em Direitos e Saúde). O levantamento revela que, somente no ano passado, foram 205.855 internações decorrentes de abortos no país, sendo que 154.391 por interrupção induzida. O estudo estima que o total de abortos induzidos em 2013 variou de 685.334 a 856.668 casos. As mortes por aborto são a quarta causa de mortalidade materna no Pais.

Mas é preciso explicitar que não é o aborto em si que mata as mulheres no Brasil. O que mata as mulheres é a clandestinidade, fruto de uma sociedade hipócrita e misógina que criminaliza o aborto. As mulheres são tratadas como se fossem seres irresponsáveis e sem capacidade de decidir sobre sua vida, retirando delas este direito fundamental. São as mulheres pobres e negras as mais penalizadas por essa realidade, pois se submetem ao aborto em condições muitas vezes inseguras e não tem onde ser socorrida.

Em 2007, uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde demonstrou que nos países onde o aborto é permitido por lei o número de procedimentos é menor. Em países da Europa Ocidental, a incidência é de 12 abortos por mil mulheres. Na América Latina, esse número é de 31 a cada mil mulheres. No México, por exemplo, o resultado da legalização do aborto fez diminuir a mortalidade materna e as internações por hemorragias.

Ou seja, a proibição do aborto não está a serviço da defesa da vida como setores religiosos e conservadores alegam. A proibição do aborto é uma forma de controle da vida das mulheres, com base na visão de que a maternidade é o destino e função primordial das mulheres em nossa sociedade.

Desde as eleições de 2010, estes setores estão impondo um debate equivocado e chantagista na política brasileira. Enquanto impedem qualquer avanço na legislação, no sentido de ampliar e garantir os direitos das mulheres, apresentam frequentemente propostas de retrocesso, como o Estatuto do Nascituro e o Bolsa Estupro. A laicidade do Estado é cotidianamente desrespeitada, quando estes setores, sejam católicos, evangélicos, espíritas, tentam a todo custo impor suas concepções religiosas e morais como orientadoras das políticas de Estado, em um flagrante desrespeito a cidadania e autonomia das pessoas.

A articulação destes setores no poder legislativo se expandiu para outras esferas formadoras de opinião da sociedade. Atualmente, há um discurso hegemônico no Brasil de que as mulheres que decidem pelo aborto são irresponsáveis e assassinas, o que faz com que muitas mulheres tenham medo de recorrer a um hospital quando o procedimento tem alguma complicação, para evitar ser maltratada ou ser denunciada pelos próprios profissionais de saúde.

O dia 28 de setembro é o dia Latino Americano e caribenho de luta pela legalização do aborto. Neste dia, reafirmamos que nenhuma mulher deve morrer ou ser presa em decorrência de ter decidido pelo aborto.

Exigimos medidas urgentes como a venda legal do medicamento Cytotec em todas as farmácias, para que as mulheres que decidam pelo aborto não fiquem a mercê destas clínicas clandestinas e inseguras, ou nas mãos de traficantes.

Exigimos que, enquanto o Congresso conservador não aprova um projeto de descriminalização e legalização do aborto, o Ministério da Saúde organize um serviço de redução de danos, que oriente as mulheres para que elas não arrisquem suas vidas.

Nem mais uma morte de mulheres! Só a legalização do aborto evita estas mortes e garante a autonomia das mulheres.

Sonia Coelho é assistente social, integrante da equipe da SOF e militante da Marcha Mundial das Mulheres
Sonia Coelho 
assistente social, integrante da equipe da SOF e militante da Marcha Mundial das Mulheres

Fonte do texto: SOF

Dia de luta pela descriminalização do aborto


Hoje é dia de luta pela descriminalização do aborto na América Latina e tem manifestação acontecendo em várias cidades. Quem não puder participar em São Paulo, Rio, Belo Horizonte ou Porto Alegre, pode criar tweets com a seguintes hashtags: , , e . 

sábado, 19 de outubro de 2013

Marcha pela humanização do parto - 19 de outubro de 2013



Quem acompanha este blog sabe que ele trata da decisão de uma vida sem filhos. Ou melhor, ele explora e estimula desde o processo de decisão em si, até a vida após a decisão sobre a maternidade. Aqui, o que importa é que a decisão de todas as mulheres, seja ela qual for, seja respeitada pela sociedade na qual ela está inserida e da qual faz parte, para que cada uma de nós possa viver em paz com o caminho escolhido. Isso inclui o círculo mais próximo, que é o da família; o próximo ciclo que é o de amigos e colegas de profissão, até chegar ao ciclo de conhecidos e desconhecidos, mas que se acham no direito de julgar decisões que não lhes dizem respeito.

E é por isso que faço questão de incluir postagens sobre a violência obstétrica aqui no Útero Vazio. Porque nós, que estamos em processo de decisão ou que já decidimos não ter filhos, não podemos exigir respeito de quem escolhe o caminho inverso, se não ajudarmos as atuais e futuras mamães a desfrutarem do mesmo respeito que almejamos.

Hoje visitei o blog Cientista que virou mãe, da Lígia Moreiras Sena, e encontrei um post informativo sobre a violência obstétrica a qual tantas mulheres são submetidas diariamente em todo o mundo e sobre uma marcha pela humanização do parto que acontecerá hoje em várias cidades do Brasil.
 
Sei que está um pouco em cima da hora, mas se você não tiver planos para hoje, quem sabe não dá tempo de sair às ruas e apoiar esta causa, ficando lado a lado com mulheres guerreiras que, mães ou não, são nossas irmãs de alma. Pois é apoiando e cuidando umas das outras que chegaremos longe e garantiremos uma existência mais humana a todas nós.
Para ver em quais cidades acontecerá a marcha: clique aqui. Já são mais de 30! Aposto que a sua está na lista.
Nicole Rodrigues

sábado, 4 de agosto de 2012

Por um bem maior



Por que publicar uma postagem sobre a humanização do parto em um blog chamado Útero Vazio? Porque, como diz a minha avó, o buraco é mais embaixo. A questão é mais ampla e mais complicada do que um simples: quero ter filhos ou não quero ter filhos. E se não quero, que se dane quem quer. Trata-se do conceito e da aceitação dos direitos humanos e, em especial, dos direitos das mulheres. Trata-se do direito à escolha. Trata-se do respeito à escolha. A nossa e a do próximo. Seja ela qual for.

Quem deseja não ter filhos e espera aceitação, deve também aceitar que há quem os deseje e respeitar esta decisão. Trata-se de uma via de mão dupla, de um acordo firmado em prol da civilização, da coabitação pacífica entre mulheres com ou sem filhos, porque, afinal de contas, o mundo é de todas nós.

Engravidar ou não é e sempre deverá ser um direito da mulher. Ainda que em nosso país o direito de interromper uma gravidez indesejada lhe seja negado por lei. Escolher como deseja parir um filho é um direito da mulher. Ainda que em nosso país esse direito lhe seja negado pelas políticas adotadas em maternidades, hospitais e clínicas, que se preocupam apenas em garantir o fluxo rápido, brutal e lucrativo de algo que se parece mais com uma linha de produção de bebês do que com o compromisso em garantir o bem-estar da mulher durante esta experiência única que é o parto.

Além da questão da péssima qualidade, há também a doutrina da quantidade, já que o sistema obstétrico brasileiro até nos diz quantos filhos devemos parir antes de decidirmos que chegou a hora de não mais parir. Ligar as trompas depois do primeiro parto? Nem pensar! O que significa que a mulher não é vista como dona de seu próprio corpo. Não é tida como um indivíduo, com condições, desejos e limitações particulares a serem levadas em conta quando ela deseja ter apenas um filho, parar no segundo, no terceiro, ou ainda, não ter nenhum. Ela é vista com uma célula de um exército de clones que deve desejar as mesmas coisas e agir da mesma maneira. Sempre.

Dentre os tantos direitos que parecem ser apenas respeitados em ponta de lança, quando a mulher ativa o seu módulo guerreira, esta o direito de parir em paz. Do primeiro e único, ou do primeiro ao segundo, ou do primeiro ao décimo, ainda que uma mulher tenha mais de um filho, cada parto será único, relevante e sempre lembrado. Portanto, cada parto deve garantir à mulher a humanização que lhe é de direito, uma vez que humana ela é.


Um parto humanizado afasta as chances de traumas emocionais, psicológicos e físicos, e de desapego em relação à criança que acaba de nascer. E todas as mulheres, inclusive as que não desejam parir, devem lutar ou, pelo menos, estar ciente da luta das mulheres pelo direito de parir seus próprios filhos com dignidade. Pelo direito de parir seus filhos acordadas e lúcidas em vez de drogadas; na condição de agentes ativos que testemunham e que são informadas sobre o que acontece e que possuem voz para dizer se querem ou não ser cortadas ao meio, ou de cima pra baixo ou de jeito nenhum; para dizer quando precisam descansar, quando desejam caminhar, quando desejam sentar, mudar de posição, beber um copo d’água, ver o marido, a mãe, os amigos; para berrar, chorar e espernear quando precisam e muitas outras coisas que lhes são negadas e vetadas em prol da agilidade dos procedimentos médicos atualmente adotados que não consideram as necessidades da mulher, da mãe, e que tratam seu corpo como uma embalagem, uma cápsula que deve ser aberta a golpes de bisturi e fechada logo em seguida para que haja tempo da equipe médica repetir este processo dezenas de vezes por dia e garantir o lucro da instituição onde trabalham.


Parto humanizado não é dizer como alguém vai parir, é simplesmente não dizer. É permitir que o parto aconteça ao seu próprio tempo, ao tempo da mulher. É reconhecer que se trata de uma experiência entre mãe e filho e que ambos devem ser considerados e respeitados neste processo.


Nós que não desejamos, não podemos ou ainda não decidimos se desejamos parir, também temos mãe, irmã, prima, amiga. E podemos lutar para garantir que o parto delas seja livre de qualquer tipo de violência. Façamos a nossa parte.

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