sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Será que a maternidade seria algo adequado para você? (parte I)


Fazia tempo que eu não lia um livro com a capacidade de, ao mesmo tempo, me inquietar e confortar tanto. Falo do maravilhoso: “Além da maternidade” de Jeanne Safer, que foi escrito em 1996 − o que me surpreende, já que me parece bem mais atual, mas também me entristece, por dar a impressão de que tão pouco mudou em quase 20 anos, em relação ao peso social da maternidade.
 
Apesar de ter apenas 202 páginas, levei dois meses para lê-lo. Cada uma delas carrega tantos questionamentos válidos e histórias enriquecedoras, que fiz questão de ler devagar, até porque é impossível não se conectar emocionalmente com a trajetória e processo de escolha de Jeanne e das mulheres que ela nos apresenta e isso acaba tornando a leitura mais pesada ou até mesmo difícil.

Diversas vezes senti que eu poderia ter escrito muitas das passagens deste livro, tamanha a minha identificação com o conteúdo e o cuidado da autora em relação à apresentação do mesmo. Embora este livro tenha sido sido escrito de forma tão íntima e detalhada, nunca me fez sentir uma leitora alienada
nem mesmo quando as histórias e pontos de vistas  apresentados eram tão diferentes dos meus e jamais falhou em manter minha atenção. A leitura de Além da maternidade foi um aprendizado total. Uma experiência completa, do começo ao fim. E me senti abraçada ao chegar à última página.


Existem tantos trechos que eu gostaria de compartilhar com vocês, mas o mais útil (e raro) nos muitos livros que venho explorando nessa longa fase de pesquisa para o meu próprio livro, é o epilogo, especialmente dirigido a mulheres que estão ainda no processo de tomar uma decisão. 

Como esta parte final do livro chega a seis páginas e é dividida em 10 itens, achei melhor publicá-la aos poucos, assim teremos tempo para pensar com calma em cada um dos tópicos sobre os quais a Jeanne gentilmente nos estimula a refletir.

"Será que a maternidade seria algo adequado para você? Não adie fazer a si mesma essa pergunta, mesmo que respondê-la seja difícil. Realmente reflita sobre essa questão, comece agora. Arrume tempo para isso. A fim de fazer uma escolha judiciosa, é importante saber o máximo possível sobre seus sentimentos, seus conflitos, suas fantasias e suas necessidades. Converse com seu namorado, marido, amigos e, mais importante que tudo, consigo mesma – e ouça com atenção, com mente aberta, aquilo que você tem a dizer.

1. Como você se sente realmente em relação a crianças? Mulheres que não são talhadas para a maternidade podem ter toda uma gama de reações, que vão de uma aversão profunda até o prazer e o deleite. Você se sente com frequência pouco à vontade ou irritada quando está próxima de crianças? Em caso afirmativo, será sua reação, baseada principalmente na inexperiência ou falta de jeito – o que pode mudar – ou há coisas mais profundas causando o seu desconforto? E mesmo que adore a companhia de crianças, será que o interesse e a atividade delas realmente lhe agradam durante longos períodos? Será que está preparada para passar boa parte do tempo cuidando delas e participando de suas atividades?

Diga a verdade a si mesma. Se tem sentimentos conflitantes, tente conviver com sua ambivalência sem negar nenhum dos pólos; veja aonde isso a leva, qual sentimento e mais forte. Se descobrir que o negativo predomina, não pressuponha que irá se acostumar a ele. Isso depende da intensidade de sua aversão e do quão motivada está para mudar. Pergunte a si mesma por que se sente assim, claro, mas não espere que o lado negativo simplesmente desapareça."

Postarei a segunda parte nos próximos dias, mas se não quiser esperar até lá, sugiro que considere dar um presente de ano novo a si mesma e que o compre agorinha mesmo (eu comprei num sebo em Brasília por R$12,00!), para ter acesso total à bem escrita e elaborada contribuição da autora para que nós, mulheres, possamos nos permitir refletir e questionar a maternidade antes de tomarmos uma decisão final em relação a ela.


Fonte: Safer, Jeanne. Além da Maternidade, 1996. Editora Mandarim, São Paulo.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Combate ao disparate



"Quem pensa em não procriar, mesmo tendo renda para criá-los, comete um erro irreparável e se prepara para uma vida só, sem graça, isolada, fadado a conviver com pessoas interesseiras e frustradas, cheia de vícios e desamor. Filhos é a continuidade da espécie, não tê-los é egoísmo. Quem segue esse pensamento tende a desenvolver depressão e cultivar futuramente um tipo de esquizofrenia. Quem exalta o outro lado, o obscuro, que chamam isso de boa evolução, são uns recalcados e frustrados." Jorge Araújo dos Santos 26/08/12 - 17:35

O absurdo em forma de parágrafo acima é uma resposta de um leitor do Jornal O Globo à matéria "Pai, mãe e filhos já não reinam mais nos lares" e, após lê-lo, eu não consegui me conter. Pensei cá com meus botões: conter pra que? Se é exatamente por causa de pessoas como o Sr. Jorge Araújo dos Santos que eu criei este blog. Pessoas que disseminam o disparate de que não ter filhos é egoísmo e, pior, ousam até prever o futuro de quem escolhe não tê-los, dizendo que serão vítimas de depressão e até − pasmo − de algum tipo de esquizofrenia! Um diagnóstico completo, baseado em bobagem pura, preconceito do pior tipo e ignorância das mais agudas. Quanta arrogância, meu deus!

Se crianças são a solução para todos os casos de esquizofrênicos e depressivos no mundo, então é melhor fecharmos todos os manicômios e avisarmos todos os psicólogos e psiquiatras que basta forçar seus pacientes a se reproduzierem já que, de acordo com o Sr. Jorge, isto impediria que eles continuassem a desenvelver todas essas doenças mentais.

Quem lê este blog sabe muito bem que ele está longe de ser uma campanha contra a reprodução. Trata-se, isso sim, de um blog sobre a maternidade consciente, a  importância de refletirmos sobre o DESEJO de ter ou não um filho (ou vários), e da necessidade de que este desejo (ou a ausência dele) seja descoberto e respeitado, guiando assim nossa decisão final sobre a maternidade, seja ela qual for. Não se trata da resposta, mas sim de nos permitirmos fazer a pergunta: queremos nos tornar mães ou não? Se houver o desejo, o interesse, a vontade, o compromisso: então a resposta é sim. Senão, a resposta, obviamente, deveria ser não.

E, se após refletir, uma mulher decidir não ter filhos por se julgar desinteressada ou inapta a se tornar mãe, cabe a nós, cada um de nós que compõe essa sociedade cada vez mais hipócrita, respirarmos aliviados por sabermos que se trata de uma mulher a menos que pariu sem querer, sem poder, sem desejo de amar, de cuidar. De alguém que poderá se voltar para outras coisas, pessoas e causas. E dedicar-se ao que lhe parece importante, interessante e necessário. Contribuindo assim de outra maneira para tornar a nossa sociedade menos ridícula, autoritária e julgadora das opções e decisões alheias. Cabe a nós celebrar esta mulher, e não denegri-la, repudiá-la, subestimá-la.

Principalmente em se tratando de decisões que não afetam, machucam, nem interessam a ninguém, além delas mesmas. Afinal de contas, como é que a decisão de outra pessoa de não ter filhos pode ser tratada com um assunto nosso? Um assunto geral, público, social, que nos afetará? Não pode. E não pode porque não é. Ter filhos, ao contrário, já é outra história, mas ainda sim o direito de tê-los é inquestionável e o respeito a quem os tem também é senso comum.

É chegada a hora, ou melhor, já passou e muito da hora, de fazermos o mesmo; de oferecermos as mesmas condições, o mesmo respeito às mulheres que desejam não ter filhos. É hora de parar de perpertuar sem questionamento algum doutrinas religiosas e patriarcais que ditam as regras, limitações e obrigações dos corpos e vidas femininas e de usarmos o raciocínio lógico, o autoconhecimento e o bom senso não só para tomarmos decisões, mas também para aceitarmos as decisões uns dos outros. Quem nasce, vive e morre somos nós. E cabe a nós, individualmente, decidir o que fazer com nossas vidas. Seja com ou sem filhos.

Então, na próxima vez que um Seu Jorge da vida azulcrinar você ou alguém que você conhece, por ter escolhido não ter filhos, faça valer o seu livre arbítrio, a sua identidade, a sua essência, a sua escolha de vida e a sua voz, e mande o mané plantar batatas bem longe.

Nicole Rodrigues 


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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Jenna Goudreau



"While many are quick to question why one would choose not to have kids, few ask themselves why they do have kids or are prepared for the reality."

"Enquanto alguns não perdem tempo na hora de questionar por que algumas pessoas escolhem não ter filhos, poucos se perguntam por que eles têm filhos ou se estão preparados para a realidade."
 

Jenna Goudreau
Repórter da Revista Forbes
Source: Forbes


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