sábado, 18 de dezembro de 2010

Papisa Joana

Para mim é tão fácil acreditar na existência da Papisa Joana quanto é para os religiosos fanáticos chamá-la de lenda ou fábula e para os pesquisadores preguiçosos avançar em documentos históricos só até onde lhes é conveniente catapultando, mais uma vez, a existência de Joana Angelicus (Johanna Anglicus).

Assim como aconteceu com Hipátia e Frida Kahlo, não existe consenso e sobram especulações sobre a causa da morte de Joana, aquela que teria sido a única mulher a governar a Igreja Católica. Após ser descoberta (ela fingiu ser um homem durante muitos anos): sangrou até a morte ao sofrer um aborto no meio da rua durante uma procissão, foi amarrada e arrastada por cavalos pelas ruas, foi apedrejada, ou foi enviada a um convento onde viveu enclausurada até morrer?

Que diferença faz? O que realmente importa é que de alguma forma ela sobreviveu a séculos e centenas de tentativas de ser definitivamente apagada da memória coletiva. Cabe a nós conhecer, honrar e compartilhar a sua história.

Para quem gosta de ler:

A Donna Woolfolk Cross escreveu esse livro em 1996 e ele foi adaptado para o cinema e lançado em 2009:

Existe também um outro filme sobre a Papisa Joana chamado Pope Joan que foi lançado bem antes, em 1972, e estrelado pela Liv Ullmann.



Leia mais sobre a Papisa Joana
:
A papisa Joana" de Rosemary e Darroll Perdoe; (Ibrasa: São Paulo: 1990. Biblioteca Histórica, etc; vol. 38
http://janeentrelinhas.blogspot.com/2010_10_21_archive.html
http://www.iasdemfoco.net/papas/estudos/36.htm
http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/o-alcorao-e-a-papisa-joana-9637

domingo, 12 de dezembro de 2010

Frida Kahlo


Frida Kahlo é sem sombra de dúvidas um dos meus úteros vazios favoritos.

Sinto como se a vida e a obra dela fossem o suficiente para serem estudadas por séculos a fio sem o menor risco de que eu venha a sentir tédio ou desinteresse. Mas, já que existem tantas outras mulheres sem filhos a serem descobertas e tantas outras que já descobri e sobre as quais estou pesquisando, me sinto forçada a limitar a minha homenagem à Frida a apenas alguns posts. Este é o primeiro deles.

Frida nasceu no dia 06 de julho de 1907 no México. Filha de pai alemão (há quem diga que era húngaro) e mãe mexicana. A terceira de quatro irmãs, sem contar as duas irmãs mais velha nascidas do primeiro casamento do pai.

Em 1913, aos 6 anos de idade, contraiu Poliomielite que causou uma lesão no seu pé direito e a deixou manca. Passou a usar calças e saias longas que viraram a sua marca registrada.

Na adolescência freqüentou aulas de desenho e modelagem, embora não pensasse em seguir a carreira artística. Aos 18 anos sofreu um grave acidente. O ônibus em que estava bateu em um bonde. Sofreu diversas fraturas, a maioria causada por uma barra de ferro que perfurou as costas, atravessou a pélvis e saiu por sua vagina.

Frida ficou presa a uma cama, foi obrigada a usar diversos coletes ortopédicos e levou meses para se recuperar, apesar de nunca ter de fato conseguido fazê-lo completamente. Nesse meio tempo, após desenhar e colorir o gesso branco dos seus coletes até não haver mais espaço, começou a pintar a si mesma com uma caixa de tintas velhas, um cavalete e um espelho adaptado à cama – todos presente do pai.

"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
Foi assim, mergulhada em sofrimento, que Frida deixou de ser um corpo doente e passou a ser uma alma onipresente em telas pintadas de forma compulsiva dia após dia. E é por isso que a obra dela é uma catarse colorida de todas as suas dores. Porque os seus quadros são testemunhos das transformações sofridas pelo seu corpo e impostas por doenças e acidentes;


do conturbado casamento com Diego Riviera − que ao todo durou 25 anos, e foi marcado por uma longa separação e muitos amantes (de ambos, sendo que os dela eram homens e mulheres);


assim como do enorme desejo de ser mãe que não pôde ser realizado já que o seu corpo frágil não foi capaz de suportar e levar até o final as poucas vezes em que conseguiu engravidar.


Quer tenha sido por embolia pulmonar, overdose ou envenenamento, o que se sabe com toda a certeza é que, ao ser encontrada morta no dia 13 de julho de 1954, Frida partiu não apenas com um útero vazio, mas com um alívio que fez questão de registrar na última página do seu diário:

"Espero alegremente a saída − e espero nunca mais voltar − Frida".

Nicole Rodrigues



Fontes:
http://fkahlo.com/
http://uminha.tripod.com/fridabio.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Frida_Kahlo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guillermo_Kahlo
http://www.pbs.org/weta/fridakahlo/life/gallery_couple_6.html
http://www.tempo.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5394%3Aresenha-frida&catid=106&Itemid=146&lang=pt

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Isabella Bird: escritora, viajante e exploradora



Autora: Lisanea Weber Machado


No século XIX, os escritos femininos de viagens constituíam um novo gênero literário, através do qual viajantes mulheres podiam transmitir, de maneira mais subjetiva que nos escritos de homens, as realidades por elas confrontadas em suas “aventuras” em novas terras. Suas experiências de viagem, porém, não estão registradas na história oficial, em tratados e documentos oficiais, mas em forma de cartas e diários. Apesar das dificuldades enfrentadas para obter reconhecimento em uma sociedade ainda estritamente patriarcal, algumas mulheres aventuraram-se a sair de sua esfera doméstica em busca de um novo mundo.


A citação abaixo declarada pela Royal Geographical Society, como forma de protesto pela admissão de Isabella Bird em 1892, por ser ela a primeira mulher a fazer parte da sociedade, exemplifica o preconceito explícito de seus contemporâneos do sexo masculino.


A Lady an explorer? A traveller in skirts?
The notions just a trifle too seraphic:
Let them stay and mind the babies, or mend our ragged shirts;
But they mustn’t, can’t, and shan’t be geographic.
(THE UNIVERSITY OF HONG KONG, 2005)


Uma dama exploradora? Uma viajante de saias?
Noções um tanto quanto angelicais:
Deixe-as onde estão ocupadas com bebês, ou imendando nossas camisas rasgadas;
Mas elas não devem, não podem e não serão geográficas.
(UNIVERSIDADE DE HONG KONG, 2005)

[tradução: Nicole Rodrigues]



(...)

Isabella Lucy Bird ultrapassou as barreiras do convencional, ou seja, deixou de lado a vida circunscrita de uma típica mulher vitoriana de classe média para transformar-se em uma viajante determinada e perspicaz. Seus livros de viagem, que ainda nos dias de hoje informam e entretêm, a fizeram uma das mais conhecidas mulheres da Inglaterra vitoriana. Bird viajou sozinha para o Havaí, Estados Unidos, Nova Zelândia, Japão, Índia e China. Ela foi uma das poucas mulheres de sua época que conseguiram adentrar pelo mundo das atividades masculinas de aventura, afirmando-se, assim, como uma astuta feminista. Suas idéias estão muito bem expostas em A woman’s right to do what she can do well. Marrocos foi o último destino desta importante viajante no exterior. A partir de suas viagens ela escreveu The Englishwoman in America (1956), The Hawaiian Archipelago (1875), A lady’s life in the Rocky mountains (1876), Unbeaten Tracks in Japan (1880), The Golden Chersonese and the way thither (1883), um diário sobre a viagem à Malásia, escreveu também Journeys in Persia and Kurdistan (1891), Korea and her Neighbours (1898), e The Yagtze Valley and Beyond (1899).


Isabella Bird casou uma única vez, um pouco antes de completar 50 anos, não teve filhos e morreu aos 72 anos. Ela tinha planos de visitar a China uma segunda vez.



Fontes
trecho da Dissertação de Lisanea Weber Machado:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/24839/000741932.pdf?sequence=1
informações pessoais:
http://en.wikipedia.org/wiki/Isabella_Bird

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