domingo, 5 de agosto de 2012



“To
love. To be loved. To never forget your own insignificance. To never get used to the unspeakable violence and the vulgar disparity of life around you. To seek joy in the saddest places. To pursue beauty to its lair. To never simplify what is complicated or complicate what is simple. To respect strength, never power. Above all, to watch. To try and understand. To never look away. And never, never, to forget… another world is not only possible, she is on her way. On a quiet day, I can hear her breathing.”

“Amar. Ser amada. Nunca esquecer sua própria insignificância. Nunca se acostumar à indescritível violência e desigualdade vulgar ao redor. Buscar a alegria nos lugares mais tristes. Buscar a beleza onde quer que ela esteja. Nunca simplificar o que é complicado ou complicar o que é simples. Respeitar a força, não o poder. Acima de todo, observar. Tentar entender. Nunca desviar o olhar. E nunca, nunca, esquecer… que um outro mundo não só é possível, como está a caminho. Num dia calmo, posso ouvi-lo respirar.”

Arundhati Roy
Escritora indiana


Tradução: Nicole Rodrigues



sábado, 4 de agosto de 2012

Por um bem maior



Por que publicar uma postagem sobre a humanização do parto em um blog chamado Útero Vazio? Porque, como diz a minha avó, o buraco é mais embaixo. A questão é mais ampla e mais complicada do que um simples: quero ter filhos ou não quero ter filhos. E se não quero, que se dane quem quer. Trata-se do conceito e da aceitação dos direitos humanos e, em especial, dos direitos das mulheres. Trata-se do direito à escolha. Trata-se do respeito à escolha. A nossa e a do próximo. Seja ela qual for.

Quem deseja não ter filhos e espera aceitação, deve também aceitar que há quem os deseje e respeitar esta decisão. Trata-se de uma via de mão dupla, de um acordo firmado em prol da civilização, da coabitação pacífica entre mulheres com ou sem filhos, porque, afinal de contas, o mundo é de todas nós.

Engravidar ou não é e sempre deverá ser um direito da mulher. Ainda que em nosso país o direito de interromper uma gravidez indesejada lhe seja negado por lei. Escolher como deseja parir um filho é um direito da mulher. Ainda que em nosso país esse direito lhe seja negado pelas políticas adotadas em maternidades, hospitais e clínicas, que se preocupam apenas em garantir o fluxo rápido, brutal e lucrativo de algo que se parece mais com uma linha de produção de bebês do que com o compromisso em garantir o bem-estar da mulher durante esta experiência única que é o parto.

Além da questão da péssima qualidade, há também a doutrina da quantidade, já que o sistema obstétrico brasileiro até nos diz quantos filhos devemos parir antes de decidirmos que chegou a hora de não mais parir. Ligar as trompas depois do primeiro parto? Nem pensar! O que significa que a mulher não é vista como dona de seu próprio corpo. Não é tida como um indivíduo, com condições, desejos e limitações particulares a serem levadas em conta quando ela deseja ter apenas um filho, parar no segundo, no terceiro, ou ainda, não ter nenhum. Ela é vista com uma célula de um exército de clones que deve desejar as mesmas coisas e agir da mesma maneira. Sempre.

Dentre os tantos direitos que parecem ser apenas respeitados em ponta de lança, quando a mulher ativa o seu módulo guerreira, esta o direito de parir em paz. Do primeiro e único, ou do primeiro ao segundo, ou do primeiro ao décimo, ainda que uma mulher tenha mais de um filho, cada parto será único, relevante e sempre lembrado. Portanto, cada parto deve garantir à mulher a humanização que lhe é de direito, uma vez que humana ela é.


Um parto humanizado afasta as chances de traumas emocionais, psicológicos e físicos, e de desapego em relação à criança que acaba de nascer. E todas as mulheres, inclusive as que não desejam parir, devem lutar ou, pelo menos, estar ciente da luta das mulheres pelo direito de parir seus próprios filhos com dignidade. Pelo direito de parir seus filhos acordadas e lúcidas em vez de drogadas; na condição de agentes ativos que testemunham e que são informadas sobre o que acontece e que possuem voz para dizer se querem ou não ser cortadas ao meio, ou de cima pra baixo ou de jeito nenhum; para dizer quando precisam descansar, quando desejam caminhar, quando desejam sentar, mudar de posição, beber um copo d’água, ver o marido, a mãe, os amigos; para berrar, chorar e espernear quando precisam e muitas outras coisas que lhes são negadas e vetadas em prol da agilidade dos procedimentos médicos atualmente adotados que não consideram as necessidades da mulher, da mãe, e que tratam seu corpo como uma embalagem, uma cápsula que deve ser aberta a golpes de bisturi e fechada logo em seguida para que haja tempo da equipe médica repetir este processo dezenas de vezes por dia e garantir o lucro da instituição onde trabalham.


Parto humanizado não é dizer como alguém vai parir, é simplesmente não dizer. É permitir que o parto aconteça ao seu próprio tempo, ao tempo da mulher. É reconhecer que se trata de uma experiência entre mãe e filho e que ambos devem ser considerados e respeitados neste processo.


Nós que não desejamos, não podemos ou ainda não decidimos se desejamos parir, também temos mãe, irmã, prima, amiga. E podemos lutar para garantir que o parto delas seja livre de qualquer tipo de violência. Façamos a nossa parte.

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