domingo, 24 de novembro de 2013

Filme uterino: Quem tem medo de Virginia Woolf




Já faz algum tempo que assisti a este filme: Quem tem medo de Virginia Woolf. Lembro do grande impacto que ele teve em mim, por vários motivos. 

  • O primeiro deles foi assistir Elizabeth Taylor na tela pela primeira vez. Talvez até não tenha sido a primeira, mas como eu não lembro de tê-la visto em nenhum outro filme além de Cleópatra, que assisti quando era muito pequena e do qual não lembro nadinha de nada, a sensação foi esta mesmo: a de vê-la em movimento pela primeira vez. Antes disso, tudo o que eu tinha como referência sobre ela eram fotos, pôsteres, desses que a gente vê em revistas e sites sempre que há uma lista de mulheres mais belas de todos os tempos, divas do cinema, musas eternas, etc… Assisti-la dominando cada uma das cenas em duas horas de filme foi uma experiência extraordinária. Um daqueles momentos em que a gente finalmente junta uma coisa com a outra e pensa: Ahhh, agora eu sei porque é ela é um ícone. Ela foi bem mais, muito mais, do que um par de olhos violeta. Uma atriz extraordinária, belíssima, que já havia passado dos seus anos dourados em termos de juventude e beleza intocável, mas talvez por isso mesmo, tenha se sentido mais à vontade para mostrar que, de fato, sabia atuar. Só isso teria sido o suficiente pra eu gostar de ter assistido este filme. 
     
  • O segundo impacto foi assistir o desenrolar da história que deixa muitos pontos de interrogação na cabeça do espectador. É um desses filmes que não se preocupa em mastigar tudo, resolver tudo, esclarecer tudo. Cabe ao espectador, com base em quão atentamente ele assistiu cada uma das cenas, sair catando os pedaços de um quebra-cabeça. 

Não posso contar muito, aliás não posso contar nada, senão vou estragar o final do filme, mas se você estiver a fim de assistir uma guerra de deuses na telinha e explorar os mistérios emocionais deste casal (com ou sem filhos): alugue este filme. Vale a pena cada minuto. E depois – só DEPOIS – de assisti-lo, aventure-se neste ensaio crítico sobre a obra (em inglês).

Nicole Rodrigues

Ginecologia natural


Aqui vai a dica de um blog interessantíssimo (em espanhol) sobre a ginecologia natural: alimentação saudável, uso de plantas medicinais, cuidados durante os períodos de menstruação, a gravidez, a menopausa, etc.

Em uma era cada vez mais medicalizada como a nossa, é importante lembrarmos que nem tudo que é bom vem numa embalagem e nem tudo que cura encontra-se em um hospital.

Nosso corpo, nosso templo. Lembrem-se sempre. Se a sociedade como um todo não nos ensina a cuidar de nosso corpo (ao contrário, age como se não tivéssemos direito algum sobre ele), cabe a nós conhecer e aprender a utilizar os recursos naturais (muitas vezes disponíveis em nosso próprio quintal ou à venda na feira mais próxima) e a desenvolver hábitos que nos protegerão dos mais variados tipos de incômodos e doenças.

Além dos frequentes posts publicados neste blog, a autora do blog escreveu este belo livro aí em cima sobre a ginecologia natural. Você pode ler mais informações sobre o livro e sobre como adquiri-lo aqui



Felizes sem filhos (parte II)

Não quer filhos? Como assim?

Em uma sociedade em que o normal aceitável ainda é casar e ter filhos, não desejá-los pode trazer alguns incômodos. Muitas vezes, mais difícil do que tomar a decisão é explicar para a família e os amigos que, sim, é possível ser feliz sem a maternidade. As mulheres ouvidas para esta reportagem e todas as outras com quem se conversou sobre o assunto são unânimes em afirmar que já foram questionadas, pressionadas e até mesmo constrangidas com perguntas e afirmações do tipo:

- Você diz isso agora porque não tem filhos. Quando tiver, vai pensar diferente.
- Que horror, não diz isso!
- Se teu marido não tiver filho contigo, vai ter com outra.
- Não vais saber o que é o amor até seres mãe.
- Isso é egoísmo da tua parte.
- Que vida triste tu vais ter!
- Só serás mulher de verdade quando tiveres um filho.

Diante da patrulha, muitas mulheres desenvolvem mecanismos para driblar as situações desconfortáveis. A psicóloga Fabiane Machado, por exemplo, responde que é estéril aos que a interpelam com insistência. Ocorre que ela nunca sequer tentou engravidar. Explicar sempre a mesma coisa, no entanto, já não é mais tolerável. Então, simplesmente inventa uma história mais constrangedora que a pergunta. E assim se livra dos inconvenientes interrogatórios sobre sua intimidade.

A necessidade de uma explicação para não desejar a maternidade tem raízes culturais. Um estudo coordenado pela socióloga britânica Katherine Hakim chamado Childless in Europe revela que, antes do aparecimento dos anticoncepcionais e da revolução sexual dos anos 1960, as mulheres não tinham filhos por causa da pobreza ou das guerras. Não tê-los era sinônimo de desgraça, miséria ou algum tipo de castigo divino que as fez inférteis. Hoje, ao contrário, cerca de 20% das européias não são mães - e somente 2% ou 3% delas não o são por infertilidade.

O mito da mãe que padece no paraíso e a aura de sublimação em torno da maternidade também ajudam a explicar o estranhamento que a decisão de não procriar ainda provoca. Mas até isso está em transformação. Parir e criar filhos já não é sinônimo de indiscutível felicidade graças a relatos de pais e mães dispostos a desvelar as faces nada divertidas de se ter filhos, sem idealização, sem romantismos. Uma das primeiras a tirar o véu que encobre os problemas da maternidade foi a bibliotecária americana Selena Giampa, que criou o blog Because Motherhood Sucks (Por que a maternidade enche o saco, em livre tradução). Ela afirma que adora ser mãe e que tem momentos de intensa felicidade. O problema é que, entre um desses momentos e outro, tudo que ocorre é desgastante e chato. Relatos como o dela abrem caminho para que outros pais e mães sintam-se menos culpados ao admitir que a função não é só alegria e que requer, sim, altas doses de paciência, renúncia e esforço. E que está permitido recusar-se a enfrentar tamanho desafio.

Algumas celebridades, que já manifestaram publicamente a decisão de não ter filhos, também ajudam as mulheres comuns sem instinto materno a sentirem-se menos extraterrestres. As atrizes Cameron Diaz, Helen Mirren, Oprah Winfrey, Renee Zellweger e a brasileira Totia Meirelles são algumas das que já declararam que fihos não têm espaço em suas vidas. E que são bem felizes desse jeito.

Fonte: Jornal Zero Hora
Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS
Reportagem: Patricia Lima
Fotos: Adriana Franciosi

domingo, 3 de novembro de 2013

Felizes sem filhos (parte I)

A Caroline Dutra, autora do blog Coordenada XY (que, aliás, vale MUITO a pena visitar), me enviou o link para esta ótima matéria do jornal Zero Hora sobre mulheres e casais sem filhos (obrigada!!!). Como é muito difícil encontrar matérias que abordem este assunto de maneira que não seja superficial e estereotipada, resolvi postá-la na íntegra aqui no blog mesmo, mas como ela é bem grande, vou postar por partes. Aqui vai a primeira de três.




Uma nova configuração social cada vez mais comum pode dar, em pouco tempo, um trabalhão danado aos publicitários. Eles terão que reinventar a velha fórmula do comercial de margarina (e de mais uma porção de produtos, desde alimentos até móveis e seguros de banco), já que cada vez mais mulheres e seus companheiros admitem que não pretendem ter filhos. E estão muito felizes com essa decisão. O modelo tradicional de família, no qual o casal obrigatoriamente procria, está na berlinda para muita gente.

Números comprovam o que se percebe no convívio social: casais sem filhos são cada vez mais numerosos. E, mais curioso ainda, o inverso se comprova. Dados do IBGE revelam que o número de casais com filhos vem caindo - uma queda discreta, é verdade, mas perceptível. O censo de 2010 diz também que o Rio Grande do Sul é o estado com mais casais sem filhos do país. Somente em Porto Alegre foram registrados mais de 8,6 mil na época do recenceamento.

Na prática, isso significa uma cena cada vez mais corriqueira: pessoas solteiras e principalmente casais com muitos anos de convivência que assumiram a decisão de não ter filhos. Argumentos em favor da maternidade são abundantes desde sempre. A continuidade do que somos, a realização dos sonhos frustrados dos pais, o amor incondicional possível somente quando se tem filhos, a necessidade biológica da reprodução, a companhia e o cuidado na velhice, enfim, motivos nunca faltaram no discurso coletivo. A diferença é que, de uns tempos para cá, os motivos para não tê-los também aparecem. Liberdade, individualidade, trabalho e absoluta ausência de instinto maternal estão entre as justificativas mais ouvidas.

O que parece uma tendência da modernidade tem explicações já identificadas pela ciência. O casal sem filhos, que há 50 anos não passava de uma anomalia social, hoje é observado por pesquisadores que rastreiam todo o tipo de explicação. Um dos exemplos mais esquisitos dessa corrida dos cientistas na busca de justificativas para a mudança no comportamento reprodutivo dos seres humanos vem da London School of Economics, que conseguiu encontrar uma conexão entre a inteligência das mulheres e a sua disposição em procriar. Segundo o estudo, quanto maior o Quociente de Inteligência da mulher, menor a vontade de ter filhos. A cada 15 pontos a mais no QI, cai em 25% o desejo de ser mãe.

Um dos primeiros estudos a questionar a premissa de que a maternidade traz indiscutível felicidade foi elaborado em 2004 pelo economista americano ganhador do Prêmio Nobel, Daniel Kahneman. Ele entrevistou mais de 900 mulheres no Texas e descobriu que a tarefa de cuidar dos filhos estava em 16º lugar, num ranking de 19 atividades mais prazerosas. Coisas como cochilar, falar ao telefone e rezar são consideradas mais divertidas. Uma outra pesquisa, feita em 2008 na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, revela que a relação entre os casais esfria depois do nascimento dos filhos. Para as mulheres entrevistadas, a satisfação com o casamento caiu quatro pontos ao longo do primeiro ano do rebento.

A relação entre filhos e felicidade foi abordada de forma direta em uma pesquisa conduzida pela universidade americana de Wake Forest. Nos estudos, descobriu-se que os casos de depressão são mais frequentes em pais do que em pessoas sem filhos.

Recentemente, questões ecológicas foram evocadas para incrementar o debate. Em livro publicado nos Estados Unidos, o escritor Alan Weisman afirma de modo categórico que, ou a espécie humana desacelera as taxas de reprodução, ou comprometerá a própria sobrevivência na Terra. Countdown (Contagem Regressiva, em livre tradução), que ainda não tem tradução no Brasil, cita dados de cientistas, de governos e das Nações Unidas para alertar sobre o perigo que a superpopulação representa para a permanência do homem sobre o planeta.

Fato é que, com ou sem dados científicos, ter filhos já não é ponto pacífico, não é mais unanimidade, como no tempo da vovó. Não "tem que ter". A maternidade não é mais o único caminho para a felicidade da mulher e para a harmonia conjugal. Aumentar a família é, neste nosso tempo, uma questão de escolha, motivo de reflexão e, por incrível que pareça, muita polêmica.
Fonte: Jornal Zero Hora
Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS
Reportagem: Patricia Lima
Fotos: Adriana Franciosi

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