domingo, 17 de julho de 2011

A (DES)CONSTRUÇÃO DA MATERNIDADE


Escultura "Vida", produzida pela artista plástica Eliana Kertesz.

Nesta fase de pesquisa, que parece não ter fim, encontrei um texto chamado
“A (des)construção da maternidade” escrito pela Maria das Graças Pinto. Eu não sei se trata-se de um resumo de um estudo acadêmico mais extenso ou se a pesquisa que ela fez foi apresentada em apenas 6 páginas mesmo. De qualquer forma vale a pena a leitura. O meu trecho favorito segue abaixo:


Opção pela maternidade: o que dizem as mulheres

Opção resulta em possibilidade de escolha. No que diz respeito à maternidade, nem sempre essa relação tem se mostrado tão fácil de ser percebida. Grande parte das vezes parece predominar um caráter de obrigatoriedade nessa “opção”.
Uma das primeiras indagações feitas aos sujeitos da pesquisa [que fiz para este livro], dizia respeito a como ocorreu à opção pela maternidade. Segundo Cristina [uma das entrevistadas], essa decisão foi muito discutida, juntamente com o seu marido, tendo surgido muitos momentos de “recuo”. Para Ela a “opção” por ter filhos a acompanhou desde muito cedo, inclusive com certo caráter de idealização. No caso de Márcia, esta relatou que ser mãe fosse apenas um desejo desde a adolescência.
A opção pela maternidade demonstra estar menos relacionada com uma escolha do que propriamente com um fascínio, uma decorrência óbvia e natural da existência feminina.
Parece que a outra possibilidade, a de não ser mãe, não está tão fortemente inscrita, seja na infância, na adolescência ou na vida adulta. Dificilmente ouviremos alguém dizer: eu sempre quis não ser mãe.
Provavelmente um dos motivos para não se reconhecer o fato de que a maternidade deveria se configurar efetivamente em uma opção esteja no peso social que recai sobre as mulheres que dizem não a essa prática.”.


Leio o texto da Maria das Graças na íntegra clicando aqui.


Fontes:
Texto citado:
http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/posteres/GT23-2235--Int.pdf

Imagem: escultura exposta em uma maternidade no Acre.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Guardiãs



Esse blog significa muito para mim. E é assim porque aqui, no útero vazio, eu exploro toda a curiosidade e vulnerabilidade que a questão da maternidade desperta em mim. Há um medo enorme e uma vontade pungente de descobrir como chegamos onde chegamos. Como nos tornamos o que nos tornamos: galinhas chocadeiras, vacas leiteiras, coelhas com mais filhos do que vontade de viver, ou o que pode ser ainda pior, coelhas sem filhos e que não sabem como viver num mundo de coelhas parideiras.
Muitas de nós são felizes assim, reproduzindo em ciclos, outras são tão infelizes que a loucura toma conta e coisas terríveis acontecem. Filhos torturados, espancados, assassinados, ou psicologicamente massacrados pela confusão, desespero, despreparo ou descaso dos pais.

É claro que há quem os queira, quem deles cuide muito bem e quem os ame infinitamente. Mas o problema nasce quando o primeiro caso, o querer, passa a ser tido como uma condição natural e universal a ser aplicada a todas as coelhas do mundo, e até, pasmo, a ser chamada de lei da natureza: “Coelha é assim, nasce, reproduz e morre. É a vida.”

De fato esta é a vida delas. Das coelhas que não podem refletir, não podem questionar, e muito provavelmente não podem escolher. Mas nós não somos coelhas. E muitas de nós parecem se surpreender ao se darem conta disso. Pelo simples fato de que muito se aceita sem reflexão, sem questionamento e, principalmente, em função da pouca valorização e prática do auto-conhecimento. Nós não somos ensinadas a pensarmos por nós mesmas, não somos estimuladas a compreendermos e alimentarmos desejos e inclinações individuais. Nós seguimos o fluxo como um rebanho de bezerras em fila indiana. Sem perguntarmos às outras e a nós mesmas para onde estamos indo e se este é o caminho que gostaríamos de seguir. E quando isso acontece o nome muda, aceitação passa a ser chamada de imposição. E filho não deveria ser sinônimo de imposição. Parir ou até mesmo adotar é, e deve ser sempre, uma opção. Sempre, sempre e sempre, sem exceção.

Quem teve filhos que os ame, e quem não os teve que se permita ser amado pelo próximo, ainda que esse amor tenha que ser conquistado à força, depois de muita luta e muito protesto para que mulheres sem filhos sejam tão valorizadas quanto as que os têm. E que essa luta também se estenda às mulheres que os têm, para que o peso da maternidade seja menor para elas, e que elas aprendam a amar suas crias sem deixar de amar a si mesmas. Porque não pode haver um sem o outro. Um filho deveria ser uma extensão da vida, e não a condição, a razão, o único motivo para se viver. O querer viver bem é importante para que as mães se permitam viver uma vida boa e plena e ele poder servir de exemplo para o outro, seja ele o filho ou o próximo. Este querer sim deveria ser cobrado, almejado, praticado, espalhado, ensinado, estimulado, multiplicado. Mas não o é.

E nós bem sabemos que viver bem é bicho complicado. Bem mais complicado do que ser coelha. Mas eu gosto de pensar que um bom começo é aceitar que a natureza só é bela porque é diversa. E que a diversidade é uma dádiva, um tesouro que deve ser aceito e, acima de tudo, protegido. Então cabe a nós, e não às coelhas, nos tornamos guardiãs da liberdade de escolha em relação à maternidade. Para que possamos viver em harmonia, com ou sem filhos, na selva em que esse mundo se tornou.

Nicole Rodrigues


sábado, 9 de julho de 2011

Resposta aos comentários [Gmail maledito!]





Recebi alguns emails mencionando dificuldades em postar comentários aqui no útero. Eu sinceramente não sei o que raios esse Gmail/Blogger está pensando ao impedir que eu e vocês comentem aqui. Já fucei tudo e pelo visto não é uma configuração do útero que está causando esse problema, e me pergunto se é apenas aqui ou se o mesmo está acontecendo em outros blogs também?

Como, e apesar da dificuldade, recebi comentários e emails muito especiais essa semana resolvi fazer um post-resposta:

@ Diva
Obrigada pelo selinho! Eu já agradeci lá no seu blog mas fica registrada a minha gratidão aqui também.

Que bom que a marcha das vadias chegou na sua cidade! Eu li sobre o assunto há alguns meses em um jornal internacional e nunca pensei que chegaria no Brasil, muito menos em tantas cidades!

É importante que esse movimento seja compreendido. Porque não se trata de nós mulheres querendo nos tornar vadias, mas sim de provarmos que não o somos quando nos vestimos da maneira que desejamos, e que as nossas roupas e comportamento não deveriam servir de desculpa para estupradores e agressores.
Um beijo diva das unhas sempre lindas!


@ Luciana
Recebi o seu email (adorei e me emocionei) e vou responder com calma, logo mais, prometo. O seu relato me fez refletir bastante. Com caipiroska e tudo, hein? Caprichadíssimo! Obrigada!!! :-) Nos falamos já já!


@Fran
Você voltou! E voltou após ter lido o Mito do amor materno o que é melhor ainda! O seu comentário diz tudo, a sua leitura obviamente foi bem-feita e é exatamente essa a intenção desse blog. Fornecer e compartilhar fontes de informações para que possamos compreender como chegamos ao ponto em que chegamos (em que filhos são uma obrigação e não uma opção), e para que possamos tomar uma decisão muito consciente sobre a questão da maternidade. Com ou sem filhos o que importa é que sejamos conhecedoras dos nossos verdadeiros desejos, sejam eles abençoados pela sociedade ou não. Afinal de contas quando se tem um filho a responsabilidade é nossa e não dos outros, não é mesmo?
p.s. toda vez que eu tento te encaminhar os posts via email a mensagem volta. O seu email ainda é o mesmo? Se você puder confirmar o seu email eu agradeço: heterocefala@hotmail.com

 
@ Manuella
Mas é claro que eu lembrei de você! Pode esperar os posts na sua caixa postal agora que eu tenho o seu email. Então você leu o Complexo de Cinderela e gostou? Isso é ótimo! Um livro escrito há mais de 20 anos e ainda tão atual, (atualmente o meu livro favorito) o que nos mostra o quanto nos contentamos com pouco e paramos de nos mobilizar e lutar por avanços significativos na igualdade de direitos entre homens e mulheres depois de conquistarmos alguns poucos. E o quanto, acima de tudo, esquecemos de refletir sobre a importância de praticarmos o livre arbítrio sem aceitarmos imposições sociais. O complexo de cinderela é a bíblia da liberdade de escolha feminina. Um livro que nos ajuda a compreender que "filha", "esposa" e "mãe", são apenas algumas das muitas facetas do universo feminino; papéis não obrigatórios e que, nem sempre, nos tornam "mais mulher" ou nos fazem mais felizes.

@ Andrea de Paula

Vim para dizer que não me esqueci de você. Recebo seus emails  e sempre os leio com muita atenção e interesse. Visitei o seu blog outro dia e vi a menção ao útero vazio. Obrigada! Alegrou-me saber que o útero é como "um jornal diário" e que aqui você encontra informações que lhe são utéis. Continuemos a caminhada de mãos dadas confiantes de que valerá à pena seguir rumo ao auto-conhecimento e à fraternidade entre mulheres.


Que bom ter todas vocês aqui comigo nesse útero vazio (cada vez mais cheio)!

Nicole

domingo, 3 de julho de 2011

Leitura obrigatória III: "Um amor conquistado - o mito do amor materno".


I

"A voz do ventre? Mas só hoje começamos a perceber como o desejo de ter um filho é complexo, difícil de precisar e de isolar de toda uma rede de fatores psicológicos e sociais. À idéia de "natureza feminina", que cada vez consigo ver menos, prefiro a de uma multiplicidade de experiências femininas, todas diferentes, embora mais ou menos submetidas aos valores sociais cuja força calculo. A diferença entre a fêmea e a mulher reside exatamente nesse "mais ou menos" de sujeição aos determinismos. A natureza não sofre tal contingência e essa originalidade nos é própria"

II

"Ainda é difícil questionar o amor materno, e a mãe permanece, em nosso inconsciente coletivo, identificada como a Maria, símbolo do indefectível amor oblativo."

Élisabeth Badinter,Autora do livro "Um amor conquistado - o mito do amor materno".

Para ler este livro em pdf clique aqui.

Postagens populares