segunda-feira, 23 de março de 2015

Ser mãe é padecer no paraíso?

A reflexão do úlltimo post da Ligia Sena, autora do blog Cientista que virou mãe, sobre a maternidade consciente é tão profunda e tão pertinente, que vale a pena ler o texto todo. Todo mesmo. Mas a parte que mais me chamou a atenção e que destaco aqui no blog para vocês é a seguinte:
Embora grande parte da sociedade pense que ser mulher seja sinônimo de querer ser mãe, não é. Nunca foi. O que, sim, sempre existiu é uma atitude social determinista de querer incutir obrigatoriamente na mulher o sentimento de "dever de maternidade". E isso é bem fácil de ser constatado, nas perguntinhas constrangedoras de "E aí, quando vai dar um neto pros seus pais?", ou "Já faz tempo que você está casada, não vai encomendar um herdeiro?", ou então "Só pensa em estudar, estudar, estudar. Quando vai casar e ter filhos?", entre outros tantos exemplos de tentativas de controle social do "ser mulher".
Uma mulher deve ser absolutamente livre para escolher e decidir aquilo que quiser sobre sua própria vida. E isso não traz a ela nenhum tipo de desvalor ou menos valia. E também não deve subentender julgamento de quem faz escolhas diferente das suas. Ponto final.
Porém, a escolha pela maternidade - e ela se faz de diferentes maneiras, com planejamento prévio ou sem, com filho no ventre ou já crescido - também não subentende felicidade, completude, epifania, deslumbramento, romantismo e ausência de desafios. Muito pelo contrário. Todo mundo que assume a maternidade de maneira integral e completa sabe que mais frequentes são os momentos de dúvidas que de tranquilidade. E isso não diminui o fato de ser mãe. A não ser que você tenha a ilusória ideia de ser mãe como sinônimo de felicidade. Não são sinônimos e nunca serão. O que, sim, pode acontecer, e de fato acontece com muitas de nós, é tornarmos a experiência da maternidade algo positivo, enriquecedor, onde criar uma criança também nos ajude a nos criarmos e nos desenvolvermos como seres humanos melhores. Não existem paraísos ou padecimentos obrigatórios.
E é justamente por compreendermos a maternidade como uma experiência sobretudo humana, na mais ampla acepção do termo, que precisamos tanto acolher suas manifestações amorosas quanto suas manifestações de angústia. É difícil ser mãe. É difícil tornar-se mãe. É difícil passar por transformações que vão muito além de uma barriga que cresce e peitos que produzem leite. É difícil nos ressignificarmos no mundo. É muito difícil. Não é à toa que tantas e tantas mulheres passam por maus bocados logo após o nascimento de seus filhos, em períodos que podem variar de um leve baby blues a uma depressão profunda.

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