segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ter filhos traz mesmo felicidade?

Reportagem publicada na revista Época, edição de outubro de 2012.
Autoras:
Nathalia Ziemkiewicz e Flávia Yuri
 
" Por que a discussão realista sobre os problemas da paternidade causa tanto desconforto – e como ela pode ensinar os casais a sofrer menos

É 1 hora da madrugada. Um choro estridente desperta a ex-judoca olímpica Danielle Zangrando, de 33 anos. Desde que levou Lara do hospital para casa, as mamadas a cada três horas impedem o sono de antes. Ela pula da cama e oferece à filha o peito. Depois, troca a décima fralda daquele dia, embala a bebê no colo, caminha com ela em busca de uma posição que a faça parar de chorar. O choro prossegue. Daniele tenta bolsa de água quente e gotinhas de remédio. Nada de o berreiro cessar. Duas horas depois, mãe e filha formam um coro: Danielle também cai em prantos, desesperada. É a primeira cólica de Lara, com 20 dias de vida. O pai, Maurício Sanches, funcionário público de 48 anos, se sente impotente. Está frustrado e desconta a frustração na mulher: “Você comeu algo que fez mal a ela?”. A partir de então, Danielle se privará também do chocolate. Já desistira do sono, da liberdade, do trabalho como comentarista de esporte. Na manhã seguinte, ainda exausta da maratona noturna, retomará a mesma rotina, logo cedo: amamentar, dar banho, trocar fralda, botar para dormir. “Ninguém sabe de verdade como é esse universo até entrar nele”, diz Danielle. Hoje, Lara está com 2 anos. As noites não são tão duras quanto costumavam ser. Mas Danielle e Sanches ainda dizem que ter filhos é uma missão muito mais difícil do que eles haviam imaginado.

Eis um problema: a paternidade, que deveria ser o momento mais feliz da vida dos casais – de acordo com tudo o que aprendemos –, na verdade nem sempre é assim. Ou, melhor dizendo, não é nada disso. Para boa parte dos pais e (sobretudo) das mães, filhos pequenos são sinônimo de cansaço, estresse, isolamento social e – não tenhamos medo das palavras – um certo grau de infelicidade. Ninguém fala disso abertamente. É feio. As pessoas têm medo de se queixar e parecer desnaturadas. O máximo que se ouve são referências ambíguas e cheias de altruísmo aos percalços da maternidade, como no chavão: “Ser mãe é padecer no Paraíso”. Muitas que passaram pelo padecimento não se lembram de ter visto o Paraíso e, mesmo assim, realimentam a mística. Costumam falar apenas do amor incondicional que nasce com os filhos e das alegrias únicas que se podem extrair do convívio com eles. A depressão, as rachaduras na intimidade do casal, as dificuldades com a carreira e o dinheiro curto – disso não se fala fora do círculo mais íntimo e, mesmo nele, se fala com cuidado. É tabu expor a própria tristeza numa situação que deveria ser idílica.


A boa notícia para os pais espremidos entre a insatisfação e a impossibilidade de discuti-la é que começa a surgir um movimento que defende uma visão mais realista sobre os impacto dos filhos na vida dos casais. Seus adeptos ainda não marcham nas ruas com cartazes contra a hipocrisia da maternidade como um conto de fadas. Mas exigem, ao menos, o direito de falar publicamente e com franqueza sobre as dificuldades da situação, sem ser julgados como maus pais ou más mães por se atrever a desabafar. Por meio de livros e, sobretudo, com a ajuda da internet, eles começam a falar claramente sobre os momentos de angústia, tédio e frustração que costumam acompanhar a criação dos filhos. Nas palavras da americana Selena Giampa, uma bibliotecária de 35 anos, dona do blog Because Motherhood Sucks (A maternidade enche...), “a maternidade está cheia de momentos de pura felicidade e amor. Mas tudo o que acontece entre esses momentos é horrível. Amo ser mãe, de verdade. Mas tenho de dizer a vocês que, assim como qualquer outro emprego, muitas vezes eu tenho vontade de pedir as contas”. Com uma notável diferença: ninguém pode se demitir do emprego de mãe ou de pai. Ele é vitalício.

O melhor exemplo dessa nova maternidade é o livro Why have kids (Por que ter filhos), sem previsão de lançamento no Brasil, escrito pela jornalista americana Jessica Valenti, de 34 anos. Durante a gravidez de sua primeira e única filha, Jessica teve um aumento perigoso de pressão arterial. Layla nasceu prematura, pesando menos de 1 quilo. Passou oito semanas na incubadora do hospital. Ao longo dos 56 dias em que viu a filha sofrer dezenas de procedimentos invasivos, Jessica refletiu sobre como idealizara a experiência de ser mãe. Seu livro parte daí para criticar a cobrança pela maternidade perfeita, uma espécie de pano de fundo imaginário contra o qual as mães de verdade comparam suas imensas dificuldades e seus inconfessáveis sentimentos negativos. “Não falar sobre a parte ruim da maternidade só aumenta o drama dos pais e as expectativas irrealistas de quem ainda não é”, disse Jessica a ÉPOCA.

Compartilhar abertamente as agruras pode funcionar como válvula de escape. As amigas Trisha Ashworth e Amy Noble, também americanas, dividiram muitas angústias por telefone antes de escrever o livro Eu era uma ótima mãe até ter filhos, lançado no Brasil pela editora Sextante. Com bom humor, elas fazem reflexões do tipo: “Sou uma mãe de quinta categoria por ter gritado com uma criança de 4 anos depois de ela se levantar 12 vezes numa noite?”. Assim como elas, há muita gente produzindo conteúdo crítico para desconstruir a maternidade como um perfeito comercial de margarina – inclusive no Brasil. Os textos ácidos do blog Ombudsmãe, cujo nome faz trocadilho com o profissional contratado para criticar a empresa em que trabalha, são um exemplo. “Duro mesmo é quando surge um chato na forma de filho”, diz um desses textos. “Há os que obrigam os pais a usar cinto de segurança. Os que choram diante do leitãozinho assado. Os que cheiram o hálito da mãe, tornando-se legítimos representantes da patrulha antifumo instalados dentro da nossa própria residência.” Outro é o site Mamatraca, que publica diariamente vídeos que lidam com os paradoxos da maternidade de um jeito sincero e divertido. Uma das colaboradoras escreveu em seu perfil: “Adora Madona, embora ultimamente só escute Backyardigans”. "

 Tem muito mais. Leia aqui.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Café filosófico: Filhos - melhor não tê-los?



Vale a pena assistir ao programa inteiro, mas se quiser ir direito ao "ponto" comece ali pelos 5 minutos. p.s Clara, obrigada por me enviar o link para este vídeo :)

sábado, 13 de outubro de 2012

Livro + filme feminino = Flor do deserto

Há quem escolha ter filhos. Há quem escolha não ter filhos. Há também quem precise escolher entre parir e viver, e quem morra tentando parir...as vítimas de mutilação genital, infelizmente, e com frequência, enfrentam as duas últimas realidades citadas.

 

Como se a dor alucinante e as sequelas físicas e emocionas para toda vida não fossem um fardo grande o bastante, as mulheres que sofrem mutilação genital (que não morrem de hemorragia, infecção ou alguma outra complicação) ainda correm o risco de nunca se tornarem mães (ainda que desejem fortemente), ou de perderem a vida, caso decidam levar a gravidez adiante.

A história de Waris Dirie, seja em livro ou em filme, é incrivelmente sofrida e inspiradora
. E nos permite refletir sobre a importância de, nós mulheres, nos tornarmos de fato e de direito donas de nossos corpos e de todas as escolhas relacionadas a nossa existência na condição de mulher, assim como da necessidade de conquistarmos e exigirmos esses direitos da sociedade em que vivemos.

 



sábado, 6 de outubro de 2012

Laura S. Scott


"Being childfree does not mean we don’t like children; it means we don’t care to have children of our own. We just want people to accept that: It’s okay to be different, and not everyone has to have kids to be fulfilled. I do know some people get so much joy out of their kids. I see it in my friends who have kids. And I don’t envy that, because I feel like I have so much joy in my own life. I appreciate theirs, and more power to them, but we have our own. This is our way of having joy."

"Nossa escolha de não ter filhos não quer dizer que nós não gostamos de crianças; significa que não queremos ter filhos. Nós apenas queremos que as pessoas aceitem isso: que não é errado ser diferente, e que nem todas as pessoas precisam ter filhos para se sentirem realizadas. Eu conheço algumas pessoas que são muito felizes com os filhos que têm. Eu observo isso na vida dos meus amigos que tiveram filhos. E eu não sinto inveja deles, porque eu sinto que tenho tanta alegria em minha vida. Eu respeito a vida deles, e desejo o melhor a eles, mas nós temos o nosso próprio jeito dde viver. Esta é a nossa maneira de ser feliz."

Laura S. Scott
Autora do livro Two is Enough

Frida Kahlo

Embora o filme Frida não seja baseado em um livro específico, mas sim no que se sabe sobre a vida da pintora mexicana e no que ela mesma deixou marcado no tempo em forma de quadros e palavras, vale a pena ler o Diário de Frida Kahlo desfrutando vagarosamente de cada página para só então correr pra locadora, alugar e assistir a cinebiografia dela. 

 



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