sexta-feira, 30 de julho de 2010

Filhos: Opção ou Obrigação?


Texto: Filhos: Opção ou Obrigação?
Autora: Lígua Guerra

"Toda mulher que sai com as amigas para um bate-papo sabe como os assuntos vão das conversas mais banais até as mais picantes! Ao contrário do que muitos homens pensam, nós falamos de tudo que eles falam e um “pouquinho” mais. Sim, nós somos ‘terríveis’ entre amigas, mas quando o assunto é a maternidade eu percebo um desconforto, um certo tabu, pior, o tema sequer costuma ser discutido porque AINDA não é encarado como uma opção por parte de muitas mulheres. A liberdade bateu em nossas portas e radiantes a convidamos para entrar, mas ela ficou limitada a certos cômodos da nossa casa psíquica. A questão de ter ou não ter filhos está trancafiada a sete chaves em algum desses espaços inexplorados, onde muitas mulheres sequer se atreveram a tentar adentrar com os seus questionamentos e possibilidades de escolha. O automatismo da equação: Casamento = maternidade, ainda impera.

A prova maior do quanto somos ‘formadas’ para a maternidade são as bonecas, as mamadeiras e tantos outros brinquedos que sinalizam o nosso destino. O interessante é que muitas meninas já denotam desde cedo o seu desinteresse por essa opção, mas nem sempre são acolhidas nas suas diferenças. Ainda bem que crescemos e temos a possibilidade de fazer escolhas a partir dos nossos desejos, mas para que isso aconteça temos que romper algumas barreiras e ampliar o nosso campo de visão. A franco-suíça Corinne Maier, mãe de dois adolescentes e autora do best-seller "No kid - Quarante Raisons de Ne Pas Avoir d'Enfant" (quarenta razões para você não ter um filho), está querendo desmistificar ainda mais essa questão. Ela resolveu falar em seu livro sobre as dificuldades que a mulher enfrenta a partir do momento em que se torna mãe, desde a tortura do parto, a abdicação da vida em inúmeros aspectos, o despotismo dos filhos e a dificuldade com a educação. Ela também afirma que as crianças acabam com o desejo entre o casal e afastam os pais dos amigos. Sem máscaras ou subterfúgios ela assume que se arrependeu da sua opção, assunto até então totalmente velado no mundo feminino.

Muitos afirmam que não ter filhos é um ato egoísta, acredito que o maior egoísmo de todos é o despreparo, o brincar com a situação, ter filhos apenas para cumprir ritos sociais, para segurar relacionamentos ou para tentar preencher o vazio existencial. Filho não é brinquedo e não pode jamais servir de barganha entre homens e mulheres. Filho tem que ser fruto de muito amor e desejo de ambas as partes, afinal, o destino de uma criança passará a ser construído junto com os pais e caso surja o arrependimento não haverá guichê para devolução ou troca. Ser mãe, especialmente, implica não apenas em amar, mas em abrir mão da própria liberdade. Essa conversa de que nada muda quando as mulheres se tornam mães pode ser muito bonitinha na teoria, ela até pode ser mais factível para aquelas que contam com muito dinheiro para contratar pessoas que as auxiliem nos cuidados com os baixinhos. Já as pobres mortais, que nem sempre têm com quem contar, sabem que a vida muda e muito! É preciso desejar profundamente fazer essa transição, pois tanto a maternidade quanto a paternidade são construções diárias.

Agora, os que decidam não ter filhos também terão que ter muita coragem e determinação, pois o preconceito social é grande. As famosas perguntinhas serão inevitáveis: Você tem algum problema e não pode ter filhos? Para quem você deixará as suas conquistas materiais? Quem vai cuidar de você na velhice? Você não irá transmitir os seus genes e nem perpetuará o nome da sua família?

Quem pensa diferente sempre enfrenta dificuldades, até que o diferente se torne comum ou aceitável. A velhice e a solidão chegam para todos, o mundo já enfrenta a superpopulação e não precisamos ser tão narcísicos a ponto de termos que deixar a nossa carga genética ou as nossas posses apenas para aqueles que são da família consangüínea. Hoje o movimento Childfree (livre de filhos), ganha cada vez mais adeptos e está crescendo a passos largos nos EUA e na Europa, não devido à sociedade individualista, como muitos gostam de afirmar, mas devido a uma sociedade mais consciente. Individualismo é amar apenas quem tem o próprio sangue e compactua das mesmas convicções. A humanidade é a nossa família e tem muita gente precisando de carinho, afeto, de investimento financeiro e emocional. Eu conheci um senhor que era diretor de uma empresa, ele adorava crianças e mesmo assim optou por não ter filhos, dizia que gostava de viver a dois, ele e a esposa. Ainda assim investiu em muitos jovens talentos custeando seus estudos e abrindo novos caminhos. O seu lema era: “Nunca deixe de adotar indivíduos.” Assim, sem laços de sangue ou obrigações, simplesmente adotava sonhos e fortificava asas.

É importante ressaltar a enorme diferença entre um casal que não pode ter filhos de um que não quer. Quem não quer deve assumir: Eu não quero e pronto, sem desculpas que envolvam a falta de tempo, excesso de trabalho ou problemas com o dinheiro. Não é porque uma mulher tem um útero que ela é obrigada a ter filhos, mas por ter cérebro ela tem que fazer essa opção de forma consciente. Ser verdadeiramente livre implica em exercer o seu direito de ser feliz, seja pelo caminho que for, amando quem for."




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3 comentários:

  1. Eu não vejo nenhum problema em ser chamada de egoísta nesse sentido de não querer abrir mão de mim pra ter um filho, afinal somos todos um pouco egoístas em relação a algum aspecto das nossas vidas.

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  2. Oi Nicole, eu terminei de ler esse livro na versão em inglês, achei interessante e a abordagem da autora é até engraçada. Achei ela um pouco agressiva demais nas suas colocações, como se tivesse muita raiva de ter tido seus filhos. Fiquei com pena dos filhos dela. Mas concordei com muita coisa, valeu a indicação da leitura.
    Comecei a ver alguns dos filmes que você sugere e comprei um outro livro, depois mando meus comentários pra você.
    Beijos!

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    1. Oi Paula,

      Obrigada por compartilhar sua impressão desse livro conosco :)

      Esse livro aí em cima eu ainda não li. Por isso que (ainda) não coloquei uma opinião minha sobre ele aqui no blog, mas compartilhei a da Lígia Guerra, por ele ser bastante famoso e conhecido na literatura sobre mulheres sem filhos ou sobre decisão materna.

      Mas eu o encontrei em um sebinho em Brasília em outubro do ano passado e trouxe pra casa. Agora ele está aqui na minha prateleira e será um dos próximos, com certeza. Pelo que você comentou ele deve ser parecido com um que acabei de ler, chamado The Parenthood decision, que me aborreceu um pouco, mas também tem seus momentos, e sobre o qual, inclusive, estou escrevendo uma postagem que irá pro ar daqui a alguns dias.

      Sobre esse outro: vou ler primeiro pra comentar o seu comentário depois, se não vai tudo na base do achômetro, e não seria justo com você que leu tudinho da silva :)



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