domingo, 8 de maio de 2011

O dia das Aias


No dia das mães nós vamos falar das Aias, as mulheres que, no mundo criado pela Margaret Atwood, eram forçadas a ter um filho após a outro e existiam exclusivamente para procriar. Elas eram mães, portanto o dia de hoje também é delas, mas eram um tipo bem diferente: mães escravizadas, que não tinham tempo nem condições de idealizar a maternidade, nem de criar laços com os filhos que não desejavam ter. Eram verdadeiras máquinas de parir. Vale à pena visitar o mundo delas e refletir sobre ele.

Sinopse do livro

A história de "O conto da aia", da canadense Margaret Atwood, passa-se num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes ? tudo fora queimado. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa ? basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como "liberdade". Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América.
 
Como tudo pôde mudar tão rapidamente? Offred, a narradora, responde: "Foi depois da catástrofe, quando mataram a tiros o presidente e metralharam o Congresso, e o Exército declarou estado de emergência. Na época, atribuíram a culpa aos fanáticos islâmicos. Mantenham a calma, diziam na televisão. Tudo está sob controle. (...) Foi então que suspenderam a Constituição. Disseram que seria temporário. Não houve sequer um tumulto nas ruas. As pessoas ficavam em casa à noite, assistindo à televisão, em busca de alguma direção. Não havia mais um inimigo que se pudesse identificar." Não, este não é um romance pós-atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Margaret Atwood, a grande dama da literatura contemporânea em língua inglesa, publicou-o originalmente em 1985. O livro já é um clássico, há muitos anos adotado nos colégios ingleses, canadenses e americanos.
 
E agora ganha tradução para o português.As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado ? há as esposas, as marthas, as salvadoras etc. À pobre Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar. Uma catástrofe nuclear tornou estéril grande parte das pessoas, de modo que as mulheres férteis agora são preciosidades. Transformadas em aias, elas são entregues a algum homem casado do alto escalão do exército e obrigadas a fazer sexo com eles até engravidar. Portanto, a cada mês, menstruar é fracassar. E quando elas engravidam, dão à luz e amamentam a criança por alguns meses, sendo que o bebê é propriedade do casal que as escravizou. Após o período de amamentação, elas são entregues a outro homem e passam pelo mesmo martírio novamente, agora com outro nome ? Offred é "of Fred", "de Fred", "pertencente ao homem chamado Fred". Ao longo da vida, uma aia pode ter vários donos e, portanto, vários nomes: Ofglen, Ofcharles, Ofwayne...As aias são controladas e vigiadas dia e noite.

Elas não têm permissão para escrever nem ler, só podem ir ao banheiro um determinado número de vezes por dia e não devem permitir que nenhum homem veja qualquer parte do seu corpo exposta, nem mesmo os braços. O ideal é que nem seu rosto seja mostrado.

É uma vida triste, mas um destino melhor que o das não-mulheres, como são chamadas aquelas que não podem ter filhos, as homossexuais, viúvas e feministas, condenadas a trabalhos forçados nas colônias, lugares onde o nível de radiação é mortífero.Offred tem 33 anos. Antes, quando seu país ainda se chamava Estados Unidos, ela era casada e tinha uma filha. Mas o novo regime declarou adúlteros todos os segundos casamentos, assim como as uniões realizadas fora da religião oficial do Estado.
 
Era o caso de Offred. Por isso, sua filha lhe foi tomada e doada para adoção, e ela foi tornada aia, sem nunca mais ter notícias de sua família. É uma realidade terrível, mas o ser humano é capaz de se adaptar a tudo. Offred escreve em seu diário proibido: "A sanidade é um bem valioso: eu a amealho e guardo escondida, como as pessoas antigamente amealhavam e escondiam dinheiro. Economizo sanidade, de maneira a vir a ter o suficiente quando chegar a hora."Com esta história assustadora, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente. O conto da aia já foi transformado em filme, peça de teatro, ópera, audiolivro e dramatização radiofônica.
 

3 comentários:

  1. A história pode ser criada, mas acredito que isso realmente acontece em muitas partes do mundo. Quantas mulheres ainda nao sao submetidas a condicoes desumanas e sao utilizadas apenas com fim reprodutivos?

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  2. Tempos atrás, um conhecido me falou que durante a segunda guerra na Romênia (também mergulhada em um regime ditatorial) muitas mulheres que trabalhavam fora eram despedidas de seus empregos e presas. Seus crime?? Nao estar grávida!! Nao "produzir" soldados para o regime. Tentei por várias vezes encontrar registros sobre esse episódio. Nao encontrei!!
    Muito se esbraveja contra o controle de natalidade na China. O controle lá é necessário, mas concordo que os métodos utilizados como esterelizacoes e abortos forcados é uma afronta aos direitos humanos.
    Porém, a maternidade forcada parece, pelo menos aos olhos da sociedade, mais "aceitável" ou um crime nao "tao grave".
    Quando se nega o acesso aos métodos contraceptivos ou servicos de saúde que permitem uma mulhere controlar sua fertilidade é, aos meus olhos, um crime tao brutal quando um aborto forcado!!!

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  3. Cara Nicole,

    muito bom o seu texto e a sua análise ... aproveito a oportunidade para lhe informar que este livro foi transposto para o cinema... em Portugal chamou-se A História de Aia é do director Volker Schlöndorff.

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