sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A imposição da maternidade via vínculos e vernáculos religiosos


A caminhada é longa, e nem sempre fácil. Já que entre um e outro texto esclarecedor sobre as questões da maternidade consciente e do processo de escolha de uma vida com ou sem filhos, eu trombo com um texto abominável como este, escrito pelo Albert Mohler e traduzido para o português do Brasil por Julio Severo.

Segundo ele,  a escolha deliberada de um lar sem filhos não é um direito, mas sim uma “rebelião moral com uma nova face”. E ele continua o disparate:

Os cristãos precisam reconhecer que essa rebelião contra a paternidade representa nada menos do que uma revolta absoluta contra o plano de Deus. A Bíblia mostra que um casamento sem filhos é grande maldição e que filhos são um presente divino. O salmista declarou: “Os filhos são herança do SENHOR, uma recompensa que ele dá. Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude. Como é feliz o homem que tem a sua aljava cheia deles! Não será humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunal”. (Salmo 127: 3-5 NVI)

Moralmente falando, a epidemia de lares sem filhos não tem nada a ver com os casais legalmente casados que desejam ter filhos, mas por algum motivo não têm a capacidade física de tê-los. A questão envolve os casais que têm plena capacidade de ter filhos, mas os rejeitam como intrusão em seu estilo de vida.

(...)

As Escrituras Sagradas nem mesmo imaginam casais que escolhem não ter filhos. A realidade chocante é que alguns cristãos estão engolindo esse estilo de vida e afirmam que um casamento sem filhos é uma opção legítima. O surgimento dos modernos anticoncepcionais tornou tecnologicamente possível tal opção. Mas o fato permanece que embora a revolução dos anticoncepcionais tenha possibilitado o casamento sem filhos, esse tipo de casamento é uma forma de rebelião contra o plano e ordem de Deus.



Eu não acredito que exista, mas se houver um deus, ele(a) certamente será, em toda a sua infinitamente citada benevolência, capaz de conceder a liberdade de escolha a todos os seus filhos. E se não houver um deus, a nossa responsabilidade será ainda maior. Porque o nosso destino passará a ser nosso, e apenas nosso. E caberá a cada um de nós combater a imposição da maternidade via vínculos e vernáculos religiosos para garantir que o nosso direito à escolha de um estilo de vida que nos faça feliz seja respeitado, principalmente quando se trata de algo que não afeta, nem prejudica, a vida de mais ninguém, como é o caso da escolha de uma mulher ou de um casal de não ter filhos.

Com ou sem deus, com ou sem filhos, permita-se ser feliz e permita que o outro seja feliz com as decisões que tomou, ainda que estas não sejam semelhantes às suas. Afinal de contas, o mundo não gira em torno da sua imagem e semelhança.

Nicole Rodrigues


Fontes: :
- Versão em português do texto do Albert Mohler:
http://juliosevero.blogspot.com/2006/03/escolha-deliberada-de-lares-sem-filhos.html
- Original em inglês: The Al Mohler Crosswalk Commentary — Deliberate Childlessness:Moral Rebellion With a New Face, June 7, 2005.
- imagem: http://www.stmarybelleville.org/Find.html






6 comentários:

  1. Nada provoca em mim sentimentos mais negativos do que religiao. O objetivo da grande maioria das religioes/doutrinas nunca foi buscar conforto ou salvacao para os que nela acreditam, mas sim segregar, incitar o ódio, o massacre e a violência.
    Religioes tem um ódio (sim, ódio) especial pelas mulheres. Impingir a maternidade, torna-la uma obrigacao "moral", ou mesmo fazer dela parte de uma suposta "natureza feminina" tem um único objetivo: punir as mulheres. Puni-las por fazerem sexo, puni-las pelo simples fato de existir.
    Nao é à toa que eles condenam os métodos contraceptivos, o aborto (mesmo em caso de risco para mae) e culpabilizam as mulheres pelo estupro! Tudo isso é a forma que eles encontraram de destilar todo seu veneno contra nós!!!
    Quanto a existência de um deus, de uma vida após essa, eu nao acredito nem desacredito. Eu digo que vou dar o benefício da dúvida!!!
    A única certeza que eu tenho é que NADA que venha das religioes pode ser tomado verdadeiro!!!

    Fran

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  2. A decisão de usarmos nosso corpo depente de nossa vontade, entretanto; principalmente nas religiões nos é ensinado que o sexo serve única e exclusivamente para procriação.Infelizmente existem mulheres que caem nesta armadilhas, por alienação, ignorância e falta de estrutura (Educação). Tornam-se vítimas emocional do sistema e refém de um "destino" que lhes foram imposto.
    Plagiando uma grande pessoa humana, a qual tenho admiração e carinho. lembrem-se que...
    "Com ou sem Deus, com ou sem filhos, permita-se ser feliz e permita que o outro seja feliz com as decisões que tomou, ainda que estas não sejam semelhantes às suas. Afinal de contas, o mundo não gira em torno da sua imagem e semelhança".
    Nicole Rodriques

    Bjs e flores
    Vera Frazao

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  3. Oi Nicole! mto bem lembrado este assunto!Por isto também vemos agora as Marchas por um Estado Laico. Não tem pq a igreja, as religiões se meterem a definir o q é certo ou errado na vida das pessoas. Dizer se isto ou aquilo é pecado. Nossas ações devem ser medidas pelo mal q possa nos fazer ou pelo mal q possa fazer a outros (qualquer outro!) e não pelo parecer de líderes religiosos. Eu particularmente sempre acreditei em algo maior q nós, não sei se Deus ou Deusa..tanto faz. Mas religião é um mal a ser combatido.

    Abraço, Lu.

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  4. Olá Nicole. Desculpe por ter sumido!
    Olha sempre fui muito do conta com essa coisa de religião, não que eu tenha preconceitos contra quem segue algum dogma, doutrina, o que for...
    Mas o fato de que as religiões podam as forças femininas isso é indiscutível... O pior é que hoje pregam as mesmas coisas de sabe-se lá há quantos séculos atrás e quem segue fica cego e não contesta nada... Lamentável.
    Um araço.

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  5. Sinto muito, mas ele não leu a bíblia direito. E, se a leu toda, foi sob um outro olhar. Eu já li a bíblia 3 vezes e estou na tentativa da quarta leitura. O plano maior de Deus não é este para o ser humano(eu acredito em Deus, Nicole. Mas respeito quem não acredita, obviamente). Há hoje, graças aos esforços de feministas que têm fé, uma teologia feminista. Há, inclusive, uma bíblia escrita por teólogas feministas alemãs. Uma pena eu não saber o idioma. Acredito que em breve será traduzida para o inglês.
    Eu sou lésbica e protestante. Há várias pastoras e bispas em igrejas hoje em dia. Na Suécia, este ano, uma mulher lésbica, foi consagrada a bispa da igreja luterana.E agora, José? Vão dizer o quê? Fiquei super feliz, claro!
    Beijos,
    A.

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  6. Eu sou cristã e os ensinamentos e valores bíblicos fazem parte da minha vida...mas eu tenho bom senso e aplico o que acredito ser aplicável a minha vida de acordo com a minha própria interpretação. Não se pode ler a bíblía ao pé da letra sem considerar que foi escrita em outra época.

    Respeito a opinião dos não cristãos e sei que a igreja consegue manipular as pessoas através da ignorância e do medo. Por isso que prefiro ter opinião própria sobre esse tipo de assunto.

    Para os que acreditam, Deus nos deu o livre arbítrio, portanto temos o direito de escolher ter ou não ter um filho.
    Um abraço!

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