Texto: A maternidade e o feminismo: diálogo com as ciências sociais
Autora: Lucila Scavone
"Simone de Beauvoir, filósofa e escritora francesa, publica em 1949 O Segundo Sexo, obra contundente que provoca escândalo e adesões, cujas principais idéias fundamentaram e desencadearam as lutas feministas. Podemos considerar que sua obra lançou as matrizes teóricas do feminismo contemporâneo “contestando todo determinismo biológico” afirmando que ‘ser é tornar-se’”, resultando em sua célebre idéia “não se nasce mulher, mas torna-se mulher”.
Questionando a função da maternidade no contexto do pósguerra, em que as forças conservadoras defendiam a família, a moral e os bons costumes, as teses deste livro sobre liberdade sexual, liberação da prática da contracepção e do aborto, podem ser consideradas um marco da passagem do feminismo igualitarista para a fase do feminismo “centrado na mulhersujeito”, dando os elementos necessários para a politização das questões privadas, que eclodiram com o feminismo contemporâneo.
Um dos elementos radicais desta politização relacionava-se à maternidade, isto é, refutar o determinismo biológico que reservava às mulheres um destino social de mães. A maternidade começava, então, a ser compreendida como uma construção social, que designava o lugar das mulheres na família e na sociedade, isto é, a causa principal da dominação do sexo masculino sobre o sexo feminino.
Com base nesta evidência, a crítica feminista considerava a experiência da maternidade como um elemento-chave para explicar a dominação de um sexo sobre outro: o lugar das mulheres na reprodução biológica – gestação, parto, amamentação e conseqüentes cuidados com as crianças – determinava a ausência das mulheres no espaço público, confinando-as ao espaço privado e à dominação masculina.
Em um primeiro momento a maternidade foi reconhecida como um defeito natural que confinaria as mulheres em uma bio-classe. Logo, a recusa da maternidade seria o primeiro caminho para subverter a dominação masculina e possibilitar que as mulheres buscassem uma identidade mais
ampla, mais completa e, também, pudessem reconhecer todas suas outras potencialidades.
Por exemplo, a luta política das mulheres francesas, nos anos 1970, para obter a pílula contraceptiva e o aborto como direito político, possibilitou a efetivação desta recusa. A máxima deste movimento era “uma criança se eu quiser, quando eu quiser”, que reivindicava o direito à livre escolha da maternidade (...)"
Obs: Esses são apenas alguns trechos da introdução do texto escrito por Lucila Scavone. Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n16/n16a08.pdf
estou acesando o blog pela primeira vez e adorei, estou lendo o livro a Papisa Joana agora. Eu já era uma feminista declarada, mas apesar de sempre ter me interessado e pesquisado sobre o assunto, depois desse livro e de outros, parei para pensar com maior intenssidade em todo sofrimento e humilhação que nós mulheres sofremos ao longo da história. Na verdade, cometarios maldosos de homens e a falta de noção ou engajamento de algumas mulheres nunca me ofendeu tanto quanto agora.
ResponderExcluirOlá! Que bom saber que você não só encontrou o ùtero vazio, como também gostou de estar nele :)
ResponderExcluirEsse blog é feito com muito carinho e dedicação. Por isso sempre me alegra saber que alguma mulher encontrou o que buscava aqui. Um livro, um filme, um artigo, uma biografia, um link...
Seja muito bem-vinda!