quinta-feira, 12 de julho de 2012

Além do que esperam de nós



Cá estava eu, matando a saudade das palabras da querida Lélia Almeida, quando leio este trecho do texto chamado "Leite de rosas":

"Gosto de um livro da Victoria Sau, uma feminista espanhola da velha guarda, maravilhosa, que se chama El vacío de la maternidade. Ela afirma que a maternidade não existe, no sentido de que não existe enquanto valor social, já que somos mães para os filhos dos homens, na história do patriarcado. Tudo o que enaltece as mulheres, um pretenso amor ou instinto materno, o acolhimento, a capacidade de cuidar, é o mesmo que nos perde já que somos descartadas nas horas das tomada das decisões legítimas. As mães sírias que o digam.

Para Victoria Sau, que retoma o pensamento de Riane Eisler de quem gosto muito, em algum momento da história do mundo as mulheres, que viviam numa relação de valorização, não de poder, ao lado de suas mães, numa linhagem matrilinear, foram sequestradas pelos homens que desta maneira, através do sequestro e do rapto enfraqueceram sua referência mais importante, a mãe, a avó, a filha, as amigas, as outras mulheres. Enfraquecer este vínculo é colocar a perder a irmandade, a cumplicidade e a comunidade de mulheres. E elas passam, então, a ter filhos para os homens. Portanto, diz Sau, a maternidade não existe, se as mulheres, como mães, servem aos homens, vivem para eles e não sabem quem são e o que querem, a maternidade não existe. E as mulheres se contentariam em parir os filhos numa espécie de inconsciência calando a boca com um pênis ou com um filho, ela radicaliza. Na verdade a autora faz alusão ao grande mal que o mito do amor romântico – que direciona a existência feminina para o casamento ou para o amor - e o mito do amor materno – que faz dos filhos a centralidade de suas existências - podem fazer à vida das mulheres, imbecilizando-as a elas e sua prole, num miasma de amor cujo objetivo da vida se situa na rede dos afetos pura e simplesmente e propõe que as mulheres usem esta potencia em outras frentes, que cuidem do mundo, oras, ou que não cuidem, e que cresçam e se desenvolvam de outras maneiras também, para além do que se espera delas."

Como tudo na vida, o ideal é deixar o radicalismo de lado e colocar em práticas os conceitos que se baseiam no raciocício lógico, no bom senso e no respeito as nossas necessidades individuais, para que possamos nos tornar pessoas realizadas e possamos contribuir para o todo ao qual pertencemos, compartilhando do bem-estar e da felicidade que nos permitimos conquistar.
 
Nicole Rodrigues

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Marisa Tomei


"I don't know why women need to have children to be seen as complete human beings."

"Não sei por que as mulheres precisam ter filhos para serem vistas como seres humanos completos."  


Marisa Tomei
Atriz americana


domingo, 1 de julho de 2012

Quanto custa um filho?



Quem acompanha este blog sabe que o foco principal dos meus posts e dos textos de outros autores aqui compartilhados são voltados aos fatores e aspectos emocionais da escolha de ter ou não ter filhos. A escolha, sempre ela, é a palavra de ordem deste blog. Qualquer que seja o seu sexo, religião, classe social, raça, idade ou nacionalidade lembre-se que este é um direito de todos nós e pelo qual devemos, juntos, lutar e respeitar sempre. 

Sendo assim, a escolha não poderia deixar de existir quando se fala em algo tão importante quanto o ato de gerar ou adotar um ser humano. Quem o faz deve fazê-lo porque quer, porque escolheu, e não porque deve, porque precisa ou porque pode.

Um fator que raramente discuto, mas que é de extrema importância, dado seu impacto social e emocional na vida da mãe/pai/casal, assim como na vida do filho, é a situação financeira da pessoa que decide gerar ou adotar. Ainda que o desejo esteja presente e a vontade de ser mãe ou pai seja latente, um filho requer bem mais do que isso. Desejo e amor não pagam as contas. Criança precisa de alimentação, roupas, cuidados médicos, educação, lazer... e tudo isso custa dinheiro.

Então que tal levar este aspecto em consideração na hora de decidir ter um filho? Embora não seja o fator mais importante - este, sem sombra de dúvidas, é o desejo genuíno de se tornar mãe/pai -, deve ser levado em consideração. Porque uma simples adição dos gastos iniciais pode ajudar não necessariamente a desistir da ideia, mas a repensar esta intenção ou a planejar a melhor maneira e o melhor momento para ter um bebê. E isso, por sua vez, pode evitar uma série de problemas e otimizar uma experiência que, caso contrário, poderia dar bastante errado pela simples falta de planejamento.

Uma conversa com um (ou vários) casal de amigos ou parentes que têm filhos, uma sincera avaliação do orçamento atual e uma projeção de gastos no futuro próximo e distante, papel, lápis e calculadora na mão podem ajudar a registrar alguns gastos iniciais. Outra coisa que talvez possa ser útil é este infrográfico que encontrei esta tarde, chamado "Quanto custa um filho". Não creio em resultados exatos, mas é possível que ele ajude indicando valores aproximados com base na sua renda mensal e anual.

Com ou sem infográfico, o que importa é reservar um momento à avaliação dos gastos fixos (emocionais, psicológicos, sociais e financeiros) na criação de um filho e à sincera reflexão sobre até que ponto você, de fato:
1) deseja ter um filho (ou acha que deseja? ou acha que deve ter?);
2) tem condições financeiras de ter um filho e de garantir bem mais do que apenas sua subsistência;
3) tem interesse em levar este compromisso adiante e atender às demandas emocionais e psicológicas do seu filho sem comprometer a sua felicidade e a felicidade dele.

Porque, afinal de contas, esta é uma parceria para vida toda, embora muitos prefiram pensar que não.

Nicole Rodrigues

Filósofa francesa critica o mito da mãe perfeita em novo livro




"Em entrevista, Elisabeth Badinter rechaça o ideal da maternidade atual e diz que não há um modelo único de mãe para ser seguido

Desde a década de 70 as mulheres vêm tentando conciliar a maternidade à realização pessoal, lutando por direitos e liberdades até então característicos do mundo masculino. Porém, para a escritora e filósofa francesa Elisabeth Badinter, o passar do tempo não foi capaz de quebrar o “mito do maternalismo”, conceito baseado na existência do “instinto materno”, que deixou às mulheres uma ordem aparentemente inquestionável: é natural que elas sejam mães, e elas devem ser mães infalíveis. Mas e os desejos, anseios e vontades destas mulheres, onde ficam?

Autora do livro “O Conflito – A Mulher e a Mãe” (Editora Record), lançado recentemente, Badinter contou ao Delas que, ao longo dos anos, as mulheres acrescentaram às próprias vidas mais do que somente os filhos. Com as possibilidades de escolhas, elas foram sobrecarregadas por todos os lados e cobradas a serem mais do que perfeitas no cumprimento dos deveres maternos. Este estado de coisas, segundo ela, é interessante para a permanência da dominação masculina e para obrigar as mulheres a continuarem se devotando por completo aos filhos. É contra isso que Badinter milita. Segundo ela, a mãe que dá mamadeira ao filho não é menos mãe que aquela que amamenta. "Acrescentamos uma tonelada de culpa nos ombros maternais", diz. Veja abaixo entrevista com a autora, concedida por e-mail.

iG: Como você vê a maternidade e a maneira que as mulheres lidam com ela atualmente? Aconteceram muitas mudanças nesta concepção desde a década de 70 até os dias de hoje? 
Elisabeth Badinter:
Há 30 anos a vulgarização abusiva da psicanálise engendrou a ideia de que a felicidade, a inteligência e o desabrochar da criança – portanto, o equilíbrio dela no futuro – dependem essencialmente do comportamento da mãe. Deste então, os ecologistas e outros adoradores da natureza contribuíram para que essa crença realmente existisse: de que para ser uma boa mãe, por exemplo, preocupada com a saúde do filho, é necessário amamentá-lo 24 horas por dia. E, de preferência, se devotar inteiramente a ele durante um ou dois anos. O resultado: as mães que não querem se conformar com essas diretrizes são cada vez mais consideradas mães indignas, e suas amigas as olham com suspeita. Com o passar dos anos, de fato, acabamos acrescentando uma tonelada de culpa nos ombros maternais.

iG: Quais são as diferenças entre maternidade e paternidade atualmente? O pai moderno também colabora para cuidar do filho e dos afazeres domésticos hoje em dia ou ainda não chegamos a este ponto? 
Elisabeth Badinter:
Durante os anos 70 e 80 as jovens mulheres chamavam massivamente seus companheiros para ajudar no cumprimento dos papéis de pais – e também de donos de casa – em nome da justiça e da igualdade dos sexos. Os homens de boa vontade, portanto, começaram a cumprir as tarefas que acreditávamos até então serem reservadas às mães: dar banho nas crianças, alimentá-las, levá-las para passear, trocar a roupa delas. Eles eram chamados, ironicamente, de “papais-galinhas”. Com isso, ao invés desta mudança ser encorajada, estes pais acabaram sendo alvo de gozação e os pediatras da moda explicavam às mulheres que eles não tinham que se comportar como mães. Atualmente, os pais das classes médias fazem ainda mais do que faziam seus avôs, mas a participação deles é totalmente insuficiente. Por falta de uma pressão social e ideológica sobre eles – não está mais na moda que isso aconteça – os pais se sentem menos culpados em deixar o essencial do trabalho e das responsabilidades à mãe, que proclama cada vez mais que este é o seu papel “natural”. Mas eu luto para que justamente este endeusamento da natureza maternal seja abandonado e que nós chamemos os pais outra vez para dividirem igualitariamente as tarefas e funções relacionadas aos filhos e à casa. 
iG: Os casais que têm filhos atualmente costumam ter razões para tal ou simplesmente, na maioria das vezes, acabam seguindo as normas sem realmente pensar nas vantagens e desvantagens? Quais seriam estas principais razões? 
Elisabeth Badinter:
Há diversas razões para se ter filhos, e a maioria das razões é egoísta. Tirando os que veem ter filhos como uma ordem de Deus, os outros fazem crianças para “concretizar” um sentimento amoroso, para não envelhecerem sozinhos, para receberem amor, para transmitirem suas histórias, por ser uma nova experiência que pode apimentar uma vida “sem graça”. Estranhamente, a maioria de nós é invadida por todo tipo de ilusões: só enxergamos a felicidade e o amor que uma criança pode nos trazer e esquecemos a soma de problemas e sacrifícios que a presença dela induz, e até mesmo o ódio pelos pais que ela poderá sentir e provar em determinados períodos. Entretanto, carregamos tanto o barco dos deveres maternais em alguns países – como Alemanha, Itália e Japão – e apagamos tanto o interesse pessoal da mulher que muitas delas fazem menos filhos, ou não fazem nenhum. Estas mulheres se recusam a sacrificar a vida de mulher para a maternidade e pensam que, assim, elas terão uma vida mais livre e aberta se comparada com a que as próprias mães tiveram. 

iG: O que deveria ser feito para que as mulheres não abandonem a maternidade de vez? 
Elisabeth Badinter:
Para que a maternidade continue uma prioridade, são necessárias várias condições: tirar a culpa das mulheres que querem uma profissão mesmo sendo a profissão “mãe” a primeira delas. Já é hora de lembrar que não somos mães indignas só porque colocamos nossos bebês nas mãos de mulheres desconhecidas durante o dia. O Estado deve ajudá-las a cuidar de seus filhos nas melhores condições: creches gratuitas e abertas 24 horas por dia para as mulheres mais carentes – que às vezes também trabalham durante a noite – e creches de qualidade para todas as mães, com horários que se adaptem ao delas. Também é necessário criticar o mito da mãe perfeita – que é uma completa utopia – e recusar a imposição do modelo único de “boa mãe”. Afinal, uma mãe que dá mamadeira ao filho é tão “boa mãe” quanto àquela que amamenta. Além disso, trocar os horários de trabalho nas empresas para que os pais possam “se dividir com as mães” se torna necessário.

iG: Você aponta, em “O Conflito – A Mulher e a Mãe”, que o declínio da fertilidade, a elevação da idade média da maternidade, o aumento das mulheres no mercado de trabalho e a diversificação dos modos de vida femininos mostram que ter filhos não é mais a maior das prioridades, mas continua sendo comum. Como a mulher atual tenta se equilibrar entre tantas requisições e vontades, como filhos e vida profissional, por exemplo? Existe um ideal de estilo de vida feminino atualmente?
Elisabeth Badinter:
Justamente isso me convence da diversidade dos desejos femininos e dos estilos de vida humanos – contrariando o caso das fêmeas do mundo animal – e por isso milito pela multiplicidade dos modelos maternais. Não, não há um único estilo de vida feminino e, se formos um pouco lúcidos, reconheceremos que há muitas mulheres que farão melhor se jamais forem mães.

iG: Como esta ideia do “instinto materno” colabora para encaramos a maternidade da forma como é vista atualmente e como este tipo de concepção pode impor às mães responsabilidades cada vez maiores em relação aos filhos? Você acredita que hoje a maternidade pede obrigações mais sérias do que antigamente? Por quê?
Elisabeth Badinter:
Sim, as obrigações maternais são cada vez mais pesadas. Uma razão é a ideologia do retorno à natureza que parece existir atualmente nos países industrializados. Um dos exemplos é o caso da mamadeira. Apesar de ser tão malvista atualmente, ela foi um extraordinário instrumento de libertação das mulheres. E podemos dizer o mesmo das fraldas descartáveis. Hoje querem nos persuadir, dizendo que as mulheres que as utilizam são “anticidadãs”. Usando a ecologia como pretexto, retornamos à concepção rousseauniana da maternidade, que diz que a maternidade é a origem do confinamento das mães dentro de casa, assim como o “das freiras no convento.
iG: Como é a boa mãe atual e como, em sua opinião, ela poderia viver uma vida saudável? Você acredita que o sentimento de culpa, muitas vezes recorrente na vida da mulher, também influencia muito em como a maternidade é atualmente? Como mudar isso?
Elisabeth Badinter: Para todas aquelas que rejeitam essa concepção de “boa mãe”, inteiramente devotadas aos filhos, a culpabilidade nunca foi tão forte. Hoje é necessário muito mais tempo para educar duas crianças do que era necessário para educar seis crianças há cem anos. Você acredita mesmo que as crianças e adolescentes do século 21 são mais felizes que as de antigamente?

Jornalista: Renata Losso
Fonte: IG São Paulo

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