Para mim é tão fácil acreditar na existência da Papisa Joana quanto é para os religiosos fanáticos chamá-la de lenda ou fábula e para os pesquisadores preguiçosos avançar em documentos históricos só até onde lhes é conveniente catapultando, mais uma vez, a existência de Joana Angelicus (Johanna Anglicus).
Assim como aconteceu com Hipátia e Frida Kahlo, não existe consenso e sobram especulações sobre a causa da morte de Joana, aquela que teria sido a única mulher a governar a Igreja Católica. Após ser descoberta (ela fingiu ser um homem durante muitos anos): sangrou até a morte ao sofrer um aborto no meio da rua durante uma procissão, foi amarrada e arrastada por cavalos pelas ruas, foi apedrejada, ou foi enviada a um convento onde viveu enclausurada até morrer?
Que diferença faz? O que realmente importa é que de alguma forma ela sobreviveu a séculos e centenas de tentativas de ser definitivamente apagada da memória coletiva. Cabe a nós conhecer, honrar e compartilhar a sua história.
Para quem gosta de ler: A Donna Woolfolk Cross escreveu esse livro em 1996 e ele foi adaptado para o cinema e lançado em 2009:
Existe também um outro filme sobre a Papisa Joana chamado Pope Joan que foi lançado bem antes, em 1972, e estrelado pela Liv Ullmann.
Frida Kahlo é sem sombra de dúvidas um dos meus úteros vazios favoritos.
Sinto como se a vida e a obra dela fossem o suficiente para serem estudadas por séculos a fio sem o menor risco de que eu venha a sentir tédio ou desinteresse. Mas, já que existem tantas outras mulheres sem filhos a serem descobertas e tantas outras que já descobri e sobre as quais estou pesquisando, me sinto forçada a limitar a minha homenagem à Frida a apenas alguns posts. Este é o primeiro deles.
Frida nasceu no dia 06 de julho de 1907 no México. Filha de pai alemão (há quem diga que era húngaro) e mãe mexicana. A terceira de quatro irmãs, sem contar as duas irmãs mais velha nascidas do primeiro casamento do pai.
Em 1913, aos 6 anos de idade, contraiu Poliomielite que causou uma lesão no seu pé direito e a deixou manca. Passou a usar calças e saias longas que viraram a sua marca registrada.
Na adolescência freqüentou aulas de desenho e modelagem, embora não pensasse em seguir a carreira artística. Aos 18 anos sofreu um grave acidente. O ônibus em que estava bateu em um bonde. Sofreu diversas fraturas, a maioria causada por uma barra de ferro que perfurou as costas, atravessou a pélvis e saiu por sua vagina.
Frida ficou presa a uma cama, foi obrigada a usar diversos coletes ortopédicos e levou meses para se recuperar, apesar de nunca ter de fato conseguido fazê-lo completamente. Nesse meio tempo, após desenhar e colorir o gesso branco dos seus coletes até não haver mais espaço, começou a pintar a si mesma com uma caixa de tintas velhas, um cavalete e um espelho adaptado à cama – todos presente do pai.
"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade". Foi assim, mergulhada em sofrimento, que Frida deixou de ser um corpo doente e passou a ser uma alma onipresente em telas pintadas de forma compulsiva dia após dia. E é por isso que a obra dela é uma catarse colorida de todas as suas dores. Porque os seus quadros são testemunhos das transformações sofridas pelo seu corpo e impostas por doenças e acidentes;
do conturbado casamento com Diego Riviera − que ao todo durou 25 anos, e foi marcado por uma longa separação e muitos amantes (de ambos, sendo que os dela eram homens e mulheres);
assim como do enorme desejo de ser mãe que não pôde ser realizado já que o seu corpo frágil não foi capaz de suportar e levar até o final as poucas vezes em que conseguiu engravidar.
Quer tenha sido por embolia pulmonar, overdose ou envenenamento, o que se sabe com toda a certeza é que, ao ser encontrada morta no dia 13 de julho de 1954, Frida partiu não apenas com um útero vazio, mas com um alívio que fez questão de registrar na última página do seu diário: "Espero alegremente a saída − e espero nunca mais voltar − Frida".
“No século XIX, os escritos femininos de viagens constituíam um novo gênero literário, através do qual viajantes mulheres podiam transmitir, de maneira mais subjetiva que nos escritos de homens, as realidades por elas confrontadas em suas “aventuras” em novas terras. Suas experiências de viagem, porém, não estão registradas na história oficial, em tratados e documentos oficiais, mas em forma de cartas e diários. Apesar das dificuldades enfrentadas para obter reconhecimento em uma sociedade ainda estritamente patriarcal, algumas mulheres aventuraram-se a sair de sua esfera doméstica em busca de um novo mundo.
A citação abaixo declarada pela Royal Geographical Society, como forma de protesto pela admissão de Isabella Bird em 1892, por ser ela a primeira mulher a fazer parte da sociedade, exemplifica o preconceito explícito de seus contemporâneos do sexo masculino.
A Lady an explorer? A traveller in skirts? The notions just a trifle too seraphic: Let them stay and mind the babies, or mend our ragged shirts; But they mustn’t, can’t, and shan’t be geographic. (THE UNIVERSITY OF HONG KONG, 2005)
Uma dama exploradora? Uma viajante de saias? Noções um tanto quanto angelicais: Deixe-as onde estão ocupadas com bebês, ou imendando nossas camisas rasgadas; Mas elas não devem, não podem e não serão geográficas. (UNIVERSIDADE DE HONG KONG, 2005)
[tradução: Nicole Rodrigues]
(...)
Isabella Lucy Bird ultrapassou as barreiras do convencional, ou seja, deixou de lado a vida circunscrita de uma típica mulher vitoriana de classe média para transformar-se em uma viajante determinada e perspicaz. Seus livros de viagem, que ainda nos dias de hoje informam e entretêm, a fizeram uma das mais conhecidas mulheres da Inglaterra vitoriana. Bird viajou sozinha para o Havaí, Estados Unidos, Nova Zelândia, Japão, Índia e China. Ela foi uma das poucas mulheres de sua época que conseguiram adentrar pelo mundo das atividades masculinas de aventura, afirmando-se, assim, como uma astuta feminista. Suas idéias estão muito bem expostas em A woman’s right to do what she can do well. Marrocos foi o último destino desta importante viajante no exterior. A partir de suas viagens ela escreveu The Englishwoman in America (1956), The Hawaiian Archipelago (1875), A lady’s life in the Rocky mountains (1876), Unbeaten Tracks in Japan (1880), The Golden Chersonese and the way thither (1883), um diário sobre a viagem à Malásia, escreveu também Journeys in Persia and Kurdistan (1891), Korea and her Neighbours (1898), e The Yagtze Valley and Beyond (1899).”
Isabella Bird casou uma única vez, um pouco antes de completar 50 anos, não teve filhos e morreu aos 72 anos. Ela tinha planos de visitar a China uma segunda vez.
A comemoração desta data - 25 de Novembro - tem sua origem no Primeiro Encontro Internacional Feminista, celebrado em 1980, quando foi proposta a referida data em homenagem às três irmãs Mirabal - Pátria, Minerva e Maria Tereza - , ativistas políticas, brutalmente assassinadas nesse dia na República Dominicana. Em março de 1999, uma resolução das Nações Unidas é assinada, declarando 25 de novembro o dia internacional de combate à violência contra as mulheres reverenciando as três dominicanas.
"Being a biological mother just isn't part of my experience this time around. However, I am a mother who continues to give birth to ideas and ways of experiencing life that challenge the norm. My foundation is me. I follow life's changes, continue with my time-outs, and remain curious about what's next. "
"Ser uma mãe biológica é algo que eu simplesmente não experenciarei. Ainda assim, sou uma mãe que continua a parir idéias e estilos de vida que desafiam as normas. Eu sou o meu alicerce. Acompanho as mudanças que acontecem na vida, continuo seguindo o meu curso, e permaneço curiosa sobre o que virá a seguir."
Texto: Cada vez mais casais decidem não ter filhos (Parte II)
Autora: Flávia Mantovani (Folha de S.Paulo, 23 nov. 2007)
Livros e clubes
Nos Estados Unidos e na Europa, onde a porcentagem de pessoas sem filhos pode chegar a 30% da população feminina (dado referente à Alemanha em 2005), os lançamentos do mercado editorial refletem o interesse pelo tema: a cada ano, é possível encontrar novos livros dedicados a casais sem filhos.
Entre eles está o americano "Pride and Joy: The Lives and Passions of Women Without Children" (Orgulho e Alegria: As vidas e Paixões de Mulheres sem filhos), publicado em abril de 2007.
Em países como EUA, Inglaterra e Canadá, já há organizações que oferecem apoio e informação para as pessoas sem filhos. Uma delas, o clube social sem fins lucrativos canadense No Kidding, tem filiais espalhadas pelo mundo que promovem atividades sociais como festas e caminhadas para casais e solteiros sem crianças.
No Brasil, onde não há esse grau de organização em relação ao assunto, o máximo que os entrevistados citaram foi a possibilidade de ir a hotéis e pousadas que não aceitam crianças. "Gostamos de saber que uma pousada não recebe crianças. Não porque a gente não goste delas. Não gostamos é dos pais, que não dão limites e não controlam os filhos", diz a gerente de marketing Fernanda Nolli Gonzalez, 36.
Estilo de vida
Sem filhos por convicção, ela e o marido, o analista de informática Cléber Camacho Gonzalez, 37, são adeptos de esportes radicais e viajam com freqüência. "Vamos muito a parques nacionais e a locais sem condições de receber uma criança pequena", conta Cléber.
Fernanda diz que não se sente preparada para ser mãe. "Gostamos de crianças, mas concordamos que um filho ia atrapalhar nosso modo de vida. Temos uma vida muito desregrada, trabalhamos muito e adoramos viajar e sair", diz. Egoísmo? "Às vezes a gente fala que é muito egoísta. A gente assume isso", afirma ela.
Cléber diz que tem procurado sair com amigos que estão na mesma situação que eles. "Às vezes, saímos com casais com filhos e não dá para conversar com os pais, que estão dando atenção o tempo todo para as crianças."
Para o casal, já basta ter que cuidar dos oito bonsais que cultivam. "Dão bastante trabalho. Complica para viajar porque tem que regar todo dia. Já até tentei me desfazer deles...", diz Cléber. "... Mas eu não deixei!", rebate Fernanda. "Tem que ter pelo menos alguma vida em casa", afirma.
Para Josy, a dificuldade de criar filhos nos dias de hoje pesa na decisão. "Nunca quis ter filhos e, ultimamente, quero menos ainda. As crianças são tão mal educadas que não dá. Elas podem tudo, não têm limites. Os pais ficam muito fora de casa e, quando chegam, não conseguem dizer não."
Motivações
Segundo a terapeuta familiar Magdalena Ramos, do Núcleo de Casal e Família da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), a dificuldade de educar crianças na atualidade é um dos motivos que levam muitas mulheres a questionarem a vontade de engravidar.
"Cada vez mais as pessoas têm consciência do esforço que significa criar um filho, da dedicação e dos custos econômicos e emocionais envolvidos", diz.
Entre outras razões comuns para que muitos casais abdiquem da paternidade, Luci Mansur cita o desejo de se dedicar mais à relação conjugal, dúvidas sobre a capacidade de ser pai ou mãe, vontade de ter menor preocupação com questões financeiras e inquietações em relação à superpopulação e ao futuro do planeta.
Também há muitas mulheres que não chegam a tomar uma decisão consciente sobre o tema: adiam a maternidade para se dedicar à carreira, por exemplo, até que chega uma hora em que fica mais difícil engravidar e desistem.
Tempo
Foi o que aconteceu com a dentista Regina Luizon, 50, e o oficial de justiça José Reinaldo Gomes, 58, casados há 23 anos. "No início, pensamos em ter. Mas a gente trabalhava, não tinha alguém da família para ajudar por perto e fomos adiando. Até que concluímos que estava bom assim", diz Regina.
Eles adoram viajar pelo Brasil e para outros países e, curiosamente, já foram várias vezes à Disney. "Tem gente que acha que só vai para lá quem tem filho, mas nós curtimos bastante, já estamos até querendo ir de novo", diz José Reinaldo.
Regina conta que os dois vão sempre às festas de aniversário dos sobrinhos e que adoram desenhos animados. "Vamos ao cinema ver Shrek... O pessoal procura: 'Cadê os filhos?'. Mas a gente nunca ligou", diz ela, que é odontopediatra e acredita que realizou seu "lado maternal" na profissão.
"Como tenho bastante paciente e me dou bem com a criançada, as pessoas levam susto quando vêem que não tenho filho. Mas realmente não senti necessidade", afirma.
Arbítrio
Para Magdalena Ramos, apesar de haver cobrança em relação aos casais sem filhos, hoje há mais liberdade de escolha. "Nas gerações passadas, o filho fazia parte do 'pacote' do casamento. Se o casal não tinha, a primeira coisa que pensavam era que um dos dois tinha algum problema. Hoje, a cobrança não é tão marcante, apesar de a situação ainda gerar desconforto."
Segundo Luci Mansur, as pesquisas mostram que casais sem filhos ainda sofrem muito preconceito e pressão. "Em pleno século 21, ouvimos comentários estigmatizantes como 'mulher sem filhos é como uma árvore seca, que não deu frutos'."
Muitos casais entrevistados pela Folha disseram que ouvem rotineiramente expressões como "aposto que vocês vão mudar de idéia", "não têm medo de se arrepender?" ou "mas quem vai cuidar de vocês na velhice?".
"Não é uma situação normal aos olhos das outras pessoas. Você vive dando explicações e é visto, muitas vezes, como egoísta", diz Taís Rodrigues. Ela lembra que leu uma entrevista com o fundador do clube No Kidding, Jerry Steinberg, na qual ele retruca dizendo que muita gente tem filhos por motivos egoístas.
"Por um lado, não engravidar é uma decisão egoísta, de querer ter liberdade, viver com menos turbulência. Mas muitas pessoas têm filhos por motivos egoístas também: por vaidade, para viver coisas que não puderam viver, exercer poder, dar continuidade ao nome da família", diz.
Sobre isso, aliás, ela garante que o fato de ser a última de seu ramo familiar não a fez pensar de novo na sua opção. "Isso não muda nada", afirma.
Texto: Cada vez mais casais decidem não ter filhos (Parte I) Autora: Flávia Mantovani (Folha de S.Paulo, 23 nov. 2007)
Filha única, sem tios ou primos e com pais e avós já falecidos, Taís Tanira Rodrigues é a última remanescente de seu ramo familiar. E, se depender dela, a carga genética da família vai parar por aí: aos 42 anos, a produtora cultural não tem filhos nem quer tê-los. "Sempre foi assim. Na adolescência, enquanto minhas amigas sonhavam com filhos, eu não fazia esse tipo de plano", afirma.
Casada há 23 anos com o escritor e roteirista Edison Rodrigues Filho, 47, Taís jura que gosta de crianças, mas diz não querer tê-las "em tempo integral".
"O cotidiano com os pequenos é cheio de limitações. Já moramos em Porto Alegre, em Florianópolis, no Rio, em São Paulo... Essa liberdade de ir e vir nos agrada demais. E o universo maternal sempre me pareceu muito restrito. As mães passam a viver a vida dos filhos", acredita.
"Sou companheiro fiel da minha mulher nessa opção. Somos felizes assim. Por que arriscar outra fórmula?", completa o marido.
Taís e Edison são um exemplo de um tipo de casal que se torna cada vez mais comum: aquele que, mesmo sem ter detectado nenhum problema para engravidar, opta por não procriar.
Tendência
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, de 1996 para 2006, a porcentagem de casais sem filhos em relação ao total dos arranjos familiares cresceu de 13,1% para 15,6%.
No mesmo período, o percentual de casais com filhos caiu de 57,4% para 49,4%. Uma pesquisa do Datafolha divulgada no mês passado, na qual foram ouvidas 2.093 pessoas, também sugere a tendência: 14% dos entrevistados que se declararam casados afirmaram não ter filhos --em 1998, 10% haviam declarado o mesmo para o instituto.
Embora os dados não permitam separar os casais que não podem ter filhos daqueles que não querem, os especialistas garantem que esse último grupo é uma tendência em vários países.
"Certamente, não ter filhos está em alta, apesar dos avanços nos tratamentos para infertilidade. À medida que entram para a força de trabalho, curtem o que fazem, esperam mais para se casar e vêem a luta das colegas para educar os filhos, mais e mais mulheres vêm optando por não tê-los", disse à Folha a americana Madelyn Cain-Inglese, que escreveu o livro "The Childless Revolution: What it Means To Be Childless Today" (A Revolução dos Sem Filhos: O que Significa Não ter Filhos Hoje).
A psicóloga brasileira Luci Helena Baraldo Mansur, autora de "Sem Filhos: a Mulher Singular no Plural" (ed. Casa do Psicólogo), confirma que a tendência existe, tendo atingido mais força nos países desenvolvidos. "Inclusive, na língua inglesa, o termo 'childfree' [livre de filhos] vem sendo utilizado para desestigmatizar a opção por uma vida sem filhos, já que a expressão 'childless' [sem filhos] teria mais a conotação de ausência ou falta involuntária", informa.
Você nem ao menos disse o tão esperado "sim" no altar ou diante de uma proposta informal para juntarem os "trapinhos" e a família já começa a perguntar sobre os filhos. A insistência desagrada a muitos casais e pode criar até uma "saia-justa" (afinal, e se a gravidez só não ocorreu ainda por problemas de infertilidade?). Pior do que essa pressão, porém, é a reação de boa parte da sociedade quando uma mulher decide que, simplesmente, não quer ser mãe.
Prova disso foram as respostas de amor e ódio ao lançamento do livro Sem Filhos - Quarenta razões para não ter no Brasil. Nele, Corinne Maier, psicanalista e economista, lista vários motivos polêmicos para não ter crianças em casa.
A autora de 43 anos que abomina a maternidade é mãe de dois adolescentes e não tem qualquer pudor de culpar uma criança por roubar os momentos de lazer dos pais, dominar a vida do casal, afastar os amigos adultos de casa e, claro, quebrar todo o clima na hora do sexo.
Opinião semelhante é compartilhada por Alice Freitas. Casada há dois anos, a publicitária de 35 anos diz que jamais renunciaria aos seus prazeres para cuidar de um filho. "Se tivesse que desmarcar uma viagem ou mudar meus planos por causa de uma criança, faria tudo com má vontade. Então, para não culpar alguém pela minha infelicidade, prefiro continuar com a independência que tenho", esclarece.
Para Aline, outro ponto que a fez desistir do projeto de ser mãe é a questão financeira. "A minha renda familiar não permite. Teríamos que fazer muitos sacrifícios para sustentar uma criança. Por isso, mesmo que houvesse uma lei obrigando um casal a ter filhos, provavelmente eu e meu marido seríamos 'foras-da-lei'", afirma.
Por outro lado, há histórias menos radicais. Em comunidades na Internet, que defendem a idéia de não ter filhos, por exemplo, foi possível encontrar quem mudou de posição. Bia*, de 33 anos, atualmente espera o nascimento de uma menina para dezembro. "Nem lembrava que ainda estava nessa comunidade", disse a empresária, que prefere preservar sua identidade.
Casada há cinco anos, Bia conta que ter filhos não estava nos planos do casal até o ano passado. "Optamos por viajar, estudar e crescer na profissão. Mas, depois de um certo tempo, percebemos que faltava algo e começamos a avaliar tudo o que antes achávamos um obstáculo para engravidar. Se fôssemos pensar só nos gastos, jamais seria mãe. A nossa decisão foi muito mais emocional que financeira. E acho que está valendo a pena", garantiu a futura mamãe.
Razões dos especialistas para abrir mão da maternidade
Dificuldades financeiras e não ter ao lado um homem que considere o ideal para ser pai estão entre os principais motivos para adiar a gravidez, pelo menos por um tempo. Nesses casos, a psicoterapeuta Sueli Molitérno, especialista em terapia de regressão de memória, propõe uma avaliação do inconsciente. "Quase sempre há um medo por trás, baseado no seu histórico de vida. O "não a gravidez" pode ser dado por medo da deformação física, medo de não ser uma boa mãe, medo de ser abandonada pelo companheiro, medo de que o filho passe por um sofrimento que ela já passou", explica.
Feridas emocionais à parte, para a psicóloga Sueli Castillo, a decisão de não ter filhos deve-se à liberdade de escolha conquistada pelo sexo feminino. "Os métodos contraceptivos deram à mulher a oportunidade de escolher quando e se realmente quer ser mãe. Ela se libertou da "culpa" de se sentir diferente e, assim, assumiu mais a sua autenticidade", acredita.
Infelizmente, as especialistas admitem que há um preço a se pagar quando a escolha (seja em relação à maternidade ou qualquer outro assunto)foge aos padrões considerados normais.
A decisão de passar a vida inteira sem experimentar a sensação de ficar grávida gera preconceito e discussões acaloradas, como tudo que altera a ordem social estabelecida. De quebra, muitas vezes envolve até pensamentos machistas. "Uma mulher que não deseja ser mãe é vista como fria", explica Sueli Castillo.
Segundo a psicóloga, porém, as decisões não podem nunca ser baseadas nesses julgamentos. "Se todos resolvessem seguir os padrões impostos, a família seria indissolúvel, sem separações ou divórcios, não haveria união sem "casamento oficial", muito menos casamentos entre pessoas do mesmo sexo", lembra.
A enfermeira Fernanda da Silva, de 40 anos, concorda. Essas atitudes e olhares de reprovação - muitas vezes sutis - nunca a assustaram. Recém-separada, após um casamento de 17 anos, ela conta que nunca pensou em ter um filho, mesmo contrariando os desejos dos parentes, principalmente dos pais e sogros.
"Minha rotina é muito complicada, e meu marido sempre me apoiou nessa decisão. Aproveitamos muito a vida a dois. Hoje, estou solteira novamente e vejo de forma ainda mais clara que uma criança só teria atrapalhado meu crescimento pessoal. Não teria, por exemplo, a liberdade para sair com os amigos e voltar para casa na hora em que achar melhor ou então, se for o caso, nem voltar", comenta bem-humorada.
* nome fictício dado a pedido da entrevistada.
Livro: Sem Filhos - Quarenta razões para não ter Autora: Corinne Maier Editora: Intrínseca
“Thousands of women experience problems during childbirth or pregnancy each year, yet some of the techniques for dealing with difficult labours haven't changed during the last 50 years and may, according to some experts, do more harm than good. We talk to the director of a new centre aiming to make childbirth safer and less traumatic and to help women who have had one difficult labour, avoid having the same problems the next time round.
Bidisha is joined by Sarah Parmenter, Professor Susan Wray, Director of the Centre for Better Births in Liverpool and Dr Sarah Vause, consultant obstetrician at St Mary's Hospital in Manchester.”
This is the introduction of the Woman's Hour Podcast on Better Births.
Texto: Brasil reduz mortalidade materna, mas em ritmo insuficiente, diz OMS
Autor: Paula Adamo Idoeta
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta quarta-feira (15/09/10) aponta que a taxa de mulheres que morrem devido a complicações na gestação ou no parto caiu pela metade no Brasil nas últimas décadas.
Entre 1990 e 2008, a taxa no Brasil passou de 120 mortes por 100 mil nascimentos para 58 mortes por 100 mil.
O ritmo de redução atual (de em média 4% ao ano no período), no entanto, ainda é insuficiente para que o Brasil cumpra a meta do milênio da ONU relacionada à mortalidade materna – que é de reduzir a taxa em 75% até 2015.
Em nível global, o estudo identificou que os casos de mortalidade materna caíram 34% (de 546 mil mortes em 1990 para 358 mil em 2008).
A queda, segundo o documento, é “notável” e uma “notícia encorajadora”, mas também insuficientemente rápida para que seja cumprido o objetivo do milênio.
O estudo define mortalidade materna como mortes de mulheres durante a gravidez ou 42 dias após o parto, por causas relacionadas à gestação. As principais causas são: sangramento pós-parto, infecções, hipertensão e abortos inseguros.
A região campeã em mortalidade materna é a África Subsaariana, cuja taxa foi de 640 mortes por 100 mil nascimentos vivos em 2008. Para efeitos comparativos, esse índice é de 14 em países e territórios desenvolvidos e de 85 na América Latina e Caribe.
Há países que fizeram avanços significativos, como a China, que passou de uma taxa semelhante à brasileira – 120 mortes por 100 mil em 1990 – para 38 em 2008.
O Afeganistão, por outro lado, fez “progresso insuficiente” no período: sua taxa caiu de 1,7 mil mortes para 1,4 mil a cada 100 mil nascimentos.
Na América Latina, a Argentina se manteve estável (de 72 em 1990 para 70 em 2008), e o Chile reduziu sua taxa de mortalidade materna de 56 para 26 a cada 100 mil nascimentos.
No caso brasileiro, em termos gerais, foram identificados mais investimentos e acesso maior ao sistema de saúde e mais igualdade entre gêneros nas últimas décadas, o que teria contribuído para a redução da taxa.
Em nível global é preciso “identificar quais subgrupos da população estão sob maior risco e intervir” em casos e regiões específicos.
O estudo afirma também que o banco de dados global sobre o tema ainda é “fraco”. “Só cerca de um terço dos países e territórios (de um total de 172 pesquisados) têm sistemas completos de registros civis e atribuição (precisa) de causas de mortes”, afirma o texto.
Texto: resenha do livro Complexo de Cinderela de Colette Dowling
(publicado no site Gojaba.com)
A exemplo de muitas mulheres, Colette Dowling foi levada a acreditar que sempre haveria alguém mais forte para protegê-la. Mas, com o fim de seu casamento, ela se deparou com uma nova realidade - agora precisava assumir suas responsabilidades sozinhas e cuidar de si mesma. Esse integrante estudo da psicologia feminina causa, ainda hoje, impacto entre as leitoras. Muitas se reconhecem "cinderelas" ao rejeitar, inconscientemente, suas responsabilidades e ao pensar que a solução de todos os problemas depende de encontrar o seu "príncipe encantado".
Hipátia de Alexandria, matemática e filósofa grega, nascida aproximadamente em 355. Filha de Theon, um renomado filósofo e matemático que também era seu professor e que foi o responsável por despertar e estimular o seu interesse pela Matemática, Astronomia, Filosofia, Poesia, Retórica e Oratória.
Hipátia completou os seus estudos na conceituada Academia Neoplatônica em Atenas e ao voltar para Alexandria conquistou o posto de professora na Academia onde havia estudado boa parte de sua vida. Logo se tornou a diretora da Academia, e estudantes de várias cidades, e até de outros países, fossem cristãos ou pagãos, enfileiravam-se nas salas de aula da biblioteca da cidade para assistir às suas aulas.
Hipátia recusou propostas de casamento e renunciou à maternidade para se dedicar ao aprendizado e ao ensino. É sabido que ela desenvolveu estudos e escreveu um tratado sobre a Álgebra, além de ter escrito comentários sobre matemáticos clássicos e de ter se empenhado em solucionar problemas matemáticos confusos e questões astronômicas.
Em março de 415 Hipátia foi assassinada por um grupo de cristãos fanáticos que a acusavam de bruxaria. E foi assim porque Hipátia não era uma mulher comum, e o fato de ela não ter sido uma mulher comum, mas sim educada, decidida e independente demais para sua época, abriu espaço para que algumas pessoas se sentissem intimidadas por ela. O que, por sua vez, abriu espaço para especulações e falsas acusações. Mas o que poderia estar errado na vida de Hipátia? Ela não havia casado, não havia parido uma penca de filhos, nem servido aos homens até o fim de sua vida. Pelo contrário. Hipátia era respeitada pela sociedade e ouvida pelo prefeito da cidade que a tinha como uma conselheira e a quem recorria com freqüência antes de decidir como proceder em relação aos problemas que a Alexandria enfrentava naquela época.
Hipátia escolheu ser dona de si, senhora do seu destino, e isso simplesmente não fazia sentido na cabecinha dos cristãos de outrora (e pra ser sincera ainda não faz, na cabeça de muitos de agora).
Uma mulher influenciando a decisão de um homem? Uma mulher que faz o prefeito pensar e pesar conseqüências ao invés de agir baseado no que está escrito nas escrituras bíblicas? Uma mulher que impede que o prefeito faça o que “a gente” quer? Precisamos nos livrar dela. Digo, uma mulher dona do seu tempo, da sua vontade, do seu corpo, do seu presente e futuro? Isso não é coisa de deus, afinal é deus quem deve escolher o nosso destino. Cabe a ele nos guiar, quando quiser e se quiser... e nos resta apenas crer e esperar que ele haja -- diziam os cristãos. É ele quem deve enviar o “homem certo”, com o qual a mulher casará e terá quantos filhos deus desejar. Ouça bem: quantos filhos deus desejar e não a mulher. Afinal de contas, quem é ela para dizer que não quer mais parir? Quem dirá para dizer aos quatro ventos que não quer e que nunca irá parir. Se ela vive do jeito que bem entende, se recusa a viver de acordo com a palavra de deus, e ousa influenciar um homem que está no poder, então isso deve significar que ela também tem algum poder. (E é claro que eles ignoraram que esse poder era a inteligência, a capacidade de raciocinar, refletir e discernir o certo do errado, capacidade essa que ela havia aprendido e praticado durante todos aqueles anos em que se dedicou aos estudos.) Mas é claro! Ela deve ser uma bruxa! Sim, ela é uma bruxa, está decidido. Uma bruxa e das mais perigosas! O que quer dizer que devemos fazer alguma coisa para evitar que essa mulher continue influenciando o prefeito, digo, desafiando a palavra de deus. Mas que palavra é essa? Não importa, está na Bíblia, em algum lugar, eu sei que está, e por isso devemos segui-la. Mas o que é que deus diz que devemos fazer em casos como esse? Ele disse que devemos puni-la. Que devemos impedir que ela continue vivendo assim, no pecado. Vamos matá-la. Isso, vamos matá-la para ensinar às outras mulheres que aqui não é a casa da Mãe Joana não senhora, vamos dar uma lição nessa turma.
Cercaram Hipátia quando ela voltava para casa após um dia inteiro ensinando seus pupilos a pensarem com a própria cabeça e não com a cabeça dos outros, ou segundo à “palavra de deus”. Suas roupas foram rasgadas do seu corpo e Hipátia foi arrastada pelas ruas de Alexandria até a Igreja Cristã mais próxima onde ela foi apedrejada, ou queimada (as referências históricas divergem nesse ponto), mas não antes de ter sido descamada como um peixe -- teve sua pele arrancada ainda viva com o uso de conchas de ostras afiadas que deslizaram nada suavemente sobre suas curvas até que não existisse nada além de carne vermelha, a ser cortada em pedaços e espalhada pela cidade, como foi.
O crime de Hipátia foi ser corajosa e forte o suficiente para decidir que cabia a ela definir quem ela gostaria de ser e como ela gostaria de viver a sua vida. Ela escolheu o seu próprio rumo ao assumir a paixão de aprendiz e de professora, renunciando a uma vida de dona de casa, de submissão a um marido e de cuidados maternos. Hipátia decidiu que ela viria em primeiro lugar e que o seu desenvolvimento seria sua prioridade. O crime de Hipátia foi ousar ser Hipátia.
Nicole Rodrigues
O filme "Ágora", de Alejandro Amenábar, conta a história de Hipátia.
Texto: A maternidade e o feminismo: diálogo com as ciências sociais Autora: Lucila Scavone
"Simone de Beauvoir, filósofa e escritora francesa, publica em 1949 O Segundo Sexo, obra contundente que provoca escândalo e adesões, cujas principais idéias fundamentaram e desencadearam as lutas feministas. Podemos considerar que sua obra lançou as matrizes teóricas do feminismo contemporâneo “contestando todo determinismo biológico” afirmando que ‘ser é tornar-se’”, resultando em sua célebre idéia “não se nasce mulher, mas torna-se mulher”.
Questionando a função da maternidade no contexto do pósguerra, em que as forças conservadoras defendiam a família, a moral e os bons costumes, as teses deste livro sobre liberdade sexual, liberação da prática da contracepção e do aborto, podem ser consideradas um marco da passagem do feminismo igualitarista para a fase do feminismo “centrado na mulhersujeito”, dando os elementos necessários para a politização das questões privadas, que eclodiram com o feminismo contemporâneo.
Um dos elementos radicais desta politização relacionava-se à maternidade, isto é, refutar o determinismo biológico que reservava às mulheres um destino social de mães. A maternidade começava, então, a ser compreendida como uma construção social, que designava o lugar das mulheres na família e na sociedade, isto é, a causa principal da dominação do sexo masculino sobre o sexo feminino.
Com base nesta evidência, a crítica feminista considerava a experiência da maternidade como um elemento-chave para explicar a dominação de um sexo sobre outro: o lugar das mulheres na reprodução biológica – gestação, parto, amamentação e conseqüentes cuidados com as crianças – determinava a ausência das mulheres no espaço público, confinando-as ao espaço privado e à dominação masculina.
Em um primeiro momento a maternidade foi reconhecida como um defeito natural que confinaria as mulheres em uma bio-classe. Logo, a recusa da maternidade seria o primeiro caminho para subverter a dominação masculina e possibilitar que as mulheres buscassem uma identidade mais
ampla, mais completa e, também, pudessem reconhecer todas suas outras potencialidades.
Por exemplo, a luta política das mulheres francesas, nos anos 1970, para obter a pílula contraceptiva e o aborto como direito político, possibilitou a efetivação desta recusa. A máxima deste movimento era “uma criança se eu quiser, quando eu quiser”, que reivindicava o direito à livre escolha da maternidade (...)"
Obs: Esses são apenas alguns trechos da introdução do texto escrito por Lucila Scavone. Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.